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Chávez cria "CPMF" e sobe tributo de bebida
Governo venezuelano diz que imposto de 1,5% sobre transações financeiras de empresas ajudará a conter a inflação
Para economistas, medidas alimentarão alta de preços; presidente aumenta salário de médicos em 60% em homenagem a Che Guevara
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A Venezuela anunciou anteontem a criação de um imposto sobre transações financeiras de empresas e o aumento
da tributação sobre bebidas
-na semana passada, ele sobretaxara o cigarro. As medidas, segundo o governo Hugo
Chávez, ajudarão a conter a
maior inflação da América Latina, mas analistas dizem que
acontecerá o contrário.
A partir de novembro próximo, o governo passará a cobrar,
durante dois meses, 1,5% por
operações bancárias de empresas, num mecanismo semelhante à CPMF brasileira. Já a
tributação sobre bebidas aumentará 15% a partir da próxima segunda-feira.
Segundo nota do superintendente tributário venezuelano,
José Vielma Mora, o novo imposto sobre as empresas servirá para "diminuir a inflação e
controlar e avaliar o crescimento econômico por setores".
Para ele, as medidas reduzirão
a liquidez da economia, diminuindo a pressão inflacionária.
O governo estima que as duas
medidas proporcionarão uma
arrecadação extra de US$ 666
milhões (câmbio oficial) nos
próximos dois meses, dos quais
US$ 433 milhões viriam da
"CPMF" venezuelana.
No último domingo, o presidente anunciara que está estudando a criação de impostos sobre a riqueza e sobre o gasto.
"São mecanismos financeiros
válidos tanto no capitalismo
como no comunismo", justificou, durante seu programa
"Alô, Presidente".
O incremento de impostos
coincide com a concessão recente de Chávez de aumento de
40% no salário de professores
(a maior parte da rede venezuela é estatal) e de 60% para os
médicos, anunciada em cadeia
nacional anteontem. Segundo
o presidente venezuelano, trata-se de uma homenagem aos
40 anos da morte do guerrilheiro Ernesto Che Guevara, graduado em medicina. As medidas valerão já em novembro.
Nos últimos quatro anos,
Chávez triplicou o gasto público, financiado quase inteiramente pelo crescente preço do
petróleo, e promoveu um aumento do papel do Estado na
economia e no consumo das
classe mais pobres por meio de
programas de transferência de
renda. Mas sua política tem alimentado a mais alta inflação da
região, com um acumulado de
15,3% nos últimos 12 meses.
"Não são medidas para combater a inflação, mas para combater a queda da arrecadação
do Imposto sobre Valor Agregado, o qual foi reduzido para
diminuir a inflação", disse à Folha o economista Orlando
Ochoa, em referência à principal estratégia adotada por Chávez neste ano para diminuir a
pressão inflacionária.
Novo critério
Para Ochoa, as novas medidas demonstram que o governo
quer aumentar a arrecadação
por meio de impostos seletivos.
"São impostos mais complicados. O 1,5% sobre transações financeiras é um imposto muito
alto, que induzirá à redução do
uso do sistema bancário."
O economista diz que a medida empurrará as empresas a
dolarizar as operações, aumentando a pressão sobre o mercado paralelo, um dos principais
agentes da pressão inflacionária. Cerca de 15% das importações são feitas fora do câmbio
oficial, 2.150 bolívares por dólar. O câmbio paralelo fechou
ontem em 5.400 bolívares.
Em linha semelhante, o analista Alejandro Grisanti, da
consultoria Econanalitica, diz
que as medidas tributárias buscam financiar a estratégia chavista de aumentar o papel do
Estado na economia e alimentam a pressão inflacionária.
Ele também crê que o imposto sobre transações financeiras
incentivará operações fora do
controle bancário. "Um Estado
que tem tanto excedente petroleiro não precisaria arrecadar
novos impostos. No final, o
efeito será um incremento de
custo nas empresas que será
acrescentado ao custo final, aumentando os preços", prevê.
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