São Paulo, sábado, 10 de outubro de 2009

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Para Brasil, consenso em Honduras é "difícil"

Embaixador na OEA, que esteve no país nesta semana, vê avanços em diálogo, mas se mostra descrente em acordo

Ruy Casaes afirma ter a esperança de que a atitude dura de governo golpista contra a OEA tenha sido "meramente midiática"


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Recém-chegado de Honduras, o embaixador do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos), Ruy Casaes, afirmou ontem que um consenso entre representantes do presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, e o governo interino liderado por Roberto Micheletti é "difícil, senão impossível", mas que vê avanços positivos, como o estabelecimento do diálogo bilateral. "Reconheço que os progressos são difíceis, senão impossíveis, mas mantemos a esperança de que se possa alcançar uma solução que represente a paz para os hondurenhos", disse Casaes, em entrevista à Folha por telefone desde Washington, aonde anteontem chegou vindo de Tegucigalpa.
Casaes, um dos representantes diplomáticos de dez países-membros da OEA que estiveram em Honduras entre quarta e quinta-feira, afirmou que o grupo deixou o país mais pessimista do que chegou, mas que a missão "teve o mérito de iniciar um diálogo direto entre as partes".
"Até então, isso não havia acontecido, porque as conversas em San José eram triangulares", afirmou, em alusão à mediação do presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que não conseguiu alcançar um acordo para pôr fim à crise desencadeada pela deposição de Zelaya, em 28 de junho.
Casaes avalia que Micheletti tem adotado uma estratégia dilatória nas negociações, para adiar ao máximo uma decisão final. Por outro lado, o diplomata viu como positivo o fato de o governo interino ter aceitado a próxima quinta-feira para que se faça uma "radiografia" das negociações. Zelaya ameaçou não reconhecer as eleições presidenciais de 29 de novembro caso não haja acordo até esse dia.
O diplomata brasileiro disse ter a esperança de que as declarações duras de Micheletti contra a OEA durante o encontro com os diplomatas na noite de quarta tenham um sentido "meramente midiático, tático, para encobrir um ânimo efetivo de buscar uma solução".
Na noite de quarta-feira, Micheletti surpreendeu os representantes diplomáticos com duras críticas à OEA, que suspendeu Honduras após a deposição de Zelaya. O discurso do encontro foi televisionado ao vivo, também para a surpresa dos presentes. Ontem, Zelaya se reuniu durante a tarde com seus três delegados na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Na saída, ninguém quis falar sobre o teor das conversas em curso, mas um deles, o ex-ministro do Interior Victor Meza, disse que está "otimista" e que "60% da negociação já está resolvida".
O presidente deposto se negou a falar com os jornalistas que também estão na embaixada, alegando que "não há notícias", segundo seu assessor. Zelaya afirma que só aceita um acordo que passe por seu retorno à Presidência. Micheletti não aceita a hipótese, porque considera que a deposição de Zelaya foi legal -o presidente foi retirado do cargo por militares no dia em que promovia uma consulta popular sobre a realização de uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal por Congresso e Justiça.

Protestos
Manifestantes apoiadores do presidente deposto e a política voltaram a se enfrentar na manhã de ontem. O confronto ocorreu em frente ao hotel onde se realizam as negociações entre representantes de Zelaya e Micheletti, com acompanhamento da OEA.
Ao contrário da quinta-feira, quando a polícia cercou mas não reprimiu o protesto, os manifestantes de ontem foram recebidos com bombas de gás e jatos de água. O grupo de cerca de 150 manifestantes respondia com pedras. As negociações foram suspensas no início da noite de ontem sem serem anunciados avanços que pudessem pôr fim ao impasse.

Colaborou ANA FLOR, enviada especial a Tegucigalpa



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