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Para Brasil, consenso em Honduras é "difícil"
Embaixador na OEA, que esteve no país nesta semana, vê avanços em diálogo, mas se mostra descrente em acordo
Ruy Casaes afirma ter a esperança de que a atitude dura de governo golpista contra a OEA tenha sido "meramente midiática"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Recém-chegado de Honduras, o embaixador do Brasil na
OEA (Organização dos Estados
Americanos), Ruy Casaes, afirmou ontem que um consenso
entre representantes do presidente deposto hondurenho,
Manuel Zelaya, e o governo interino liderado por Roberto
Micheletti é "difícil, senão impossível", mas que vê avanços
positivos, como o estabelecimento do diálogo bilateral.
"Reconheço que os progressos são difíceis, senão impossíveis, mas mantemos a esperança de que se possa alcançar uma
solução que represente a paz
para os hondurenhos", disse
Casaes, em entrevista à Folha
por telefone desde Washington, aonde anteontem chegou
vindo de Tegucigalpa.
Casaes, um dos representantes diplomáticos de dez países-membros da OEA que estiveram em Honduras entre quarta
e quinta-feira, afirmou que o
grupo deixou o país mais pessimista do que chegou, mas que a
missão "teve o mérito de iniciar um diálogo direto entre as
partes".
"Até então, isso não havia
acontecido, porque as conversas em San José eram triangulares", afirmou, em alusão à
mediação do presidente da
Costa Rica, Óscar Arias, que
não conseguiu alcançar um
acordo para pôr fim à crise desencadeada pela deposição de
Zelaya, em 28 de junho.
Casaes avalia que Micheletti
tem adotado uma estratégia dilatória nas negociações, para
adiar ao máximo uma decisão
final. Por outro lado, o diplomata viu como positivo o fato
de o governo interino ter aceitado a próxima quinta-feira para que se faça uma "radiografia" das negociações. Zelaya
ameaçou não reconhecer as
eleições presidenciais de 29 de
novembro caso não haja acordo até esse dia.
O diplomata brasileiro disse
ter a esperança de que as declarações duras de Micheletti contra a OEA durante o encontro
com os diplomatas na noite de
quarta tenham um sentido
"meramente midiático, tático,
para encobrir um ânimo efetivo de buscar uma solução".
Na noite de quarta-feira, Micheletti surpreendeu os representantes diplomáticos com
duras críticas à OEA, que suspendeu Honduras após a deposição de Zelaya. O discurso do
encontro foi televisionado ao
vivo, também para a surpresa
dos presentes.
Ontem, Zelaya se reuniu durante a tarde com seus três delegados na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Na saída,
ninguém quis falar sobre o teor
das conversas em curso, mas
um deles, o ex-ministro do Interior Victor Meza, disse que
está "otimista" e que "60% da
negociação já está resolvida".
O presidente deposto se negou a falar com os jornalistas
que também estão na embaixada, alegando que "não há notícias", segundo seu assessor.
Zelaya afirma que só aceita
um acordo que passe por seu
retorno à Presidência. Micheletti não aceita a hipótese, porque considera que a deposição
de Zelaya foi legal -o presidente foi retirado do cargo por militares no dia em que promovia
uma consulta popular sobre a
realização de uma Assembleia
Constituinte, considerada ilegal por Congresso e Justiça.
Protestos
Manifestantes apoiadores do
presidente deposto e a política
voltaram a se enfrentar na manhã de ontem. O confronto
ocorreu em frente ao hotel onde se realizam as negociações
entre representantes de Zelaya
e Micheletti, com acompanhamento da OEA.
Ao contrário da quinta-feira,
quando a polícia cercou mas
não reprimiu o protesto, os manifestantes de ontem foram recebidos com bombas de gás e
jatos de água. O grupo de cerca
de 150 manifestantes respondia com pedras.
As negociações foram suspensas no início da noite de ontem sem serem anunciados
avanços que pudessem pôr fim
ao impasse.
Colaborou ANA FLOR, enviada especial a Tegucigalpa
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