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Papel em crise é mostra de novo Brasil, diz professor
JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI
A atitude do Brasil de acolher
o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, na embaixada do país em Tegucigalpa
faz parte de uma mudança histórica na maneira como o Brasil constrói suas relações diplomáticas com os demais países
da América Latina. Esta é a avaliação do professor emérito da
Universidade Columbia e da
Universidade Berkeley e colunista da Folha Albert Fishlow.
Em seminário promovido
pelo Center for Hemispheric
Policy em Miami, na manhã de
ontem, Fishlow disse que a estratégia do Brasil é tentar exercer um papel central na América Latina, comparável ao dos
EUA na América do Norte.
"Estamos caminhando para
um mundo multilateral e, se o
Brasil é uma estrela em ascensão, os EUA são uma estrela cadente em termos de participação no comércio mundial e inovação", disse. Confira abaixo
trechos de entrevista concedida à Folha após o seminário:
FOLHA - O senhor disse que as relações com os EUA são as melhores
nos últimos 20 anos, mas até agora
os EUA só enviaram ao Brasil o general Jim Jones, assessor de Segurança
Nacional...
FISHLOW - Você tem outra realidade que está acontecendo no
mundo: a importância do Irã, a
Guerra do Afeganistão. O governo americano nem tem embaixador novo no Brasil [a oposição vem bloqueando a confirmação do nomeado, Thomas
Shannon]. Como consequência
não se poderia dizer nem que as
novas relações dos anos Obama
já começaram, de fato estamos
esperando o começo.
FOLHA - O sr. tratou da estratégia
do Brasil de se firmar como centro
na América Latina. Como isso se reflete no caso da crise em Honduras?
FISHLOW - Para o Brasil representa algo importante. O fato é
que as relações diplomáticas do
Brasil foram construídas de
modo a separar o país de outros
vizinhos na América Latina e
ter relacionamentos em português e não em espanhol. Só durante os últimos 20 anos houve
uma tentativa de integração
com o Mercosul. Há uma tentativa clara em relação à Venezuela, com a possibilidade de
admissão no Mercosul. E o Brasil ainda não decidiu como tratar do assunto. O país tem relações ativas na ONU [Organização das Nações Unidas], na
OMC [Organização Mundial do
Comércio], em organizações
internacionais. Há uma tentativa de definir melhor as relações políticas que devem existir
como base na nova política do
século 21.
FOLHA - No caso de Zelaya são novas relações com Honduras ou com
a Venezuela?
FISHLOW - [Hugo] Chávez [presidente da Venezuela] tem
muito a ver com a situação de
Honduras. Ele escolheu a embaixada brasileira para Zelaya e
está sempre tentando restabelecer Zelaya para construir
uma base maior para a Venezuela na região.
FOLHA - Mas historicamente o Brasil tem tradição de não interferir em
conflitos de outros países...
FISHLOW - É uma consequência
inegável do crescimento, do
maior patamar de crescimento
econômico. Além disso, Lula e
o Itamaraty estão tentando restabelecer o Brasil como um
centro. [O ex-presidente Fernando Henrique] Cardoso foi
criticado por todas as viagens
para o exterior, mas Lula viaja
muito mais. É uma consequência dessa evolução, mas [o país]
ainda não tem estabilidade na
definição do seu papel.
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