São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Musharraf bloqueia protesto da oposição

Ex-premiê Benazir Bhutto é mantida em prisão domiciliar até final do dia

Em Rawalpindi, mais de cem opositores que insistem em protesto são detidos; estado de emergência completa uma semana neste sábado

DA REDAÇÃO

A grande marcha convocada pela ex-premiê Benazir Bhutto contra o estado de emergência em vigor há uma semana no Paquistão foi bloqueada ontem pelos 8.500 policiais enviados para as ruas de Rawalpindi, próxima a Islamabad, em demonstração de força do ditador do país, general Pervez Musharraf. Benazir foi colocada em prisão domiciliar e teve sua casa na capital cercada por barricadas policiais durante o dia -segundo o governo, "para sua própria segurança".
A ordem de detenção foi suspensa por volta das 23h locais (16h de Brasília). Durante a tarde, a ex-premiê, que após moderação inicial adotou discurso firme contra o estado de emergência e Musharraf na última quarta-feira, tentou furar o cerco policial por duas vezes. Ela chegou a discursar para simpatizantes reunidos nas proximidades de sua casa, com falas transmitidas pela TV estatal.
"Não quero que o Paquistão se converta em um Iraque. Quero salvá-los", disse ela, com um microfone, a seguidores, policiais e jornalistas. A ex-premiê afirmou ainda que, "quando o estado de emergência foi imposto, as negociações com o governo foram interrompidas". "Esta batalha é contra a ditadura, e o povo vai vencê-la", disse.
As afirmações foram uma tentativa de se distanciar das ações governamentais. Antes do decreto, Benazir passara meses negociando um acordo de divisão de poder com Musharraf. Mas, apesar da aparente oposição, o jornal "New York Times" sugeriu que a transmissão do discurso "pareceu ser um movimento cuidadosamente acordado com o governo". Ao contrário de outros políticos detidos, Benazir pôde conversar livremente por telefone com a imprensa.
Para justificar a detenção, o governo disse que havia fortes evidências de que a ex-premiê seria alvo de um ato terrorista. Em outubro, quando ela retornou ao país após anos no exterior para evitar processos por corrupção, mais de 140 pessoas morreram em ataques suicidas contra seus simpatizantes.
Em Rawalpindi, onde Benazir planejava reunir 5.000 apoiadores em protesto, a polícia fechou vias que levavam ao centro e lançou bombas de gás lacrimogêneo contra centenas de manifestantes que insistiam em manter o ato. Mais de cem foram presos.
Um porta-voz do Ministério do Interior afirmou na TV estatal que a marcha foi bloqueada porque homens-bomba haviam se reunido em Islamabad e Rawalpindi. Mas a repressão de ontem deu força às suspeitas de que Musharraf -no poder desde 1999, quando protagonizou um primeiro golpe de Estado- decretou o estado de emergência para manter-se no controle do país pouco antes de eleições parlamentares marcadas para janeiro. Anteontem, ele afirmou que o voto só ocorrerá em meados de fevereiro.

Golpe
Musharraf baixou o decreto no último sábado, alegando crescente oposição no Judiciário, na mídia e na política. A Constituição foi suspensa, juízes da Corte Suprema foram destituídos e canais de TV privados foram tirados do ar.
Há informações discordantes sobre o número de detidos: o partido de Benazir, o laico PPP (Partido do Povo do Paquistão), afirma que 5.000 membros foram presos nos últimos quatro dias -o governo admite 2.500 detidos no país.
Acredita-se que o decreto foi motivado pelo questionamento da Suprema Corte à reeleição de Musharraf pelo Parlamento, em outubro. Ele acumula a chefia militar e a Presidência, o que a Constituição veta.
Ainda ontem, a violência continuou no noroeste do Paquistão. Em Peshawar, uma bomba explodiu na casa do ministro de Assuntos Políticos, Amir Muqam, matando quatro pessoas, segundo a Associated Press. O ministro escapou ileso.
Não se sabe se outro protesto convocado por Benazir, que deveria ocorrer no dia 13 em Lahore, também será bloqueado.


Com agências internacionais


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