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Musharraf bloqueia protesto da oposição
Ex-premiê Benazir Bhutto é mantida em prisão domiciliar até final do dia
Em Rawalpindi, mais de cem opositores que insistem em protesto são detidos; estado de emergência completa uma semana neste sábado
DA REDAÇÃO
A grande marcha convocada
pela ex-premiê Benazir Bhutto
contra o estado de emergência
em vigor há uma semana no Paquistão foi bloqueada ontem
pelos 8.500 policiais enviados
para as ruas de Rawalpindi,
próxima a Islamabad, em demonstração de força do ditador
do país, general Pervez Musharraf. Benazir foi colocada em
prisão domiciliar e teve sua casa na capital cercada por barricadas policiais durante o dia
-segundo o governo, "para sua
própria segurança".
A ordem de detenção foi suspensa por volta das 23h locais
(16h de Brasília). Durante a tarde, a ex-premiê, que após moderação inicial adotou discurso
firme contra o estado de emergência e Musharraf na última
quarta-feira, tentou furar o cerco policial por duas vezes. Ela
chegou a discursar para simpatizantes reunidos nas proximidades de sua casa, com falas
transmitidas pela TV estatal.
"Não quero que o Paquistão
se converta em um Iraque.
Quero salvá-los", disse ela, com
um microfone, a seguidores,
policiais e jornalistas. A ex-premiê afirmou ainda que, "quando o estado de emergência foi
imposto, as negociações com o
governo foram interrompidas".
"Esta batalha é contra a ditadura, e o povo vai vencê-la", disse.
As afirmações foram uma
tentativa de se distanciar das
ações governamentais. Antes
do decreto, Benazir passara
meses negociando um acordo
de divisão de poder com Musharraf. Mas, apesar da aparente
oposição, o jornal "New York
Times" sugeriu que a transmissão do discurso "pareceu ser
um movimento cuidadosamente acordado com o governo". Ao contrário de outros políticos detidos, Benazir pôde
conversar livremente por telefone com a imprensa.
Para justificar a detenção, o
governo disse que havia fortes
evidências de que a ex-premiê
seria alvo de um ato terrorista.
Em outubro, quando ela retornou ao país após anos no exterior para evitar processos por
corrupção, mais de 140 pessoas
morreram em ataques suicidas
contra seus simpatizantes.
Em Rawalpindi, onde Benazir planejava reunir 5.000
apoiadores em protesto, a polícia fechou vias que levavam ao
centro e lançou bombas de gás
lacrimogêneo contra centenas
de manifestantes que insistiam
em manter o ato. Mais de cem
foram presos.
Um porta-voz do Ministério
do Interior afirmou na TV estatal que a marcha foi bloqueada
porque homens-bomba haviam se reunido em Islamabad
e Rawalpindi. Mas a repressão
de ontem deu força às suspeitas
de que Musharraf -no poder
desde 1999, quando protagonizou um primeiro golpe de Estado- decretou o estado de
emergência para manter-se no
controle do país pouco antes de
eleições parlamentares marcadas para janeiro. Anteontem,
ele afirmou que o voto só ocorrerá em meados de fevereiro.
Golpe
Musharraf baixou o decreto
no último sábado, alegando
crescente oposição no Judiciário, na mídia e na política. A
Constituição foi suspensa, juízes da Corte Suprema foram
destituídos e canais de TV privados foram tirados do ar.
Há informações discordantes sobre o número de detidos:
o partido de Benazir, o laico
PPP (Partido do Povo do Paquistão), afirma que 5.000
membros foram presos nos últimos quatro dias -o governo
admite 2.500 detidos no país.
Acredita-se que o decreto foi
motivado pelo questionamento
da Suprema Corte à reeleição
de Musharraf pelo Parlamento,
em outubro. Ele acumula a chefia militar e a Presidência, o que
a Constituição veta.
Ainda ontem, a violência
continuou no noroeste do Paquistão. Em Peshawar, uma
bomba explodiu na casa do ministro de Assuntos Políticos,
Amir Muqam, matando quatro
pessoas, segundo a Associated
Press. O ministro escapou ileso.
Não se sabe se outro protesto
convocado por Benazir, que deveria ocorrer no dia 13 em Lahore, também será bloqueado.
Com agências internacionais
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