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Crise paquistanesa gera temores de ameaça nuclear
General dos EUA e presidente francês temem que acesso de
terroristas a armas nucleares seja facilitado por instabilidade
Para locais, não há risco de
venda ilícita de arsenal; "O
problema é que o Ocidente
não confia em nós", afirma
um funcionário do governo
JO JOHNSON
FARHAN BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES", EM ISLAMABAD
Funcionários dos serviços de
inteligência paquistaneses descartaram nesta semana sugestões de que o arsenal nuclear do
país poderia cair em mãos terroristas, em meio à instabilidade política criada pelo estado
de emergência decretado pelo
general Pervez Musharraf. Eles
desconsideraram a preocupação expressada por um general
norte-americano e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.
"O Paquistão avançou muito
desde o episódio de A. Q.
Khan", disse um importante
funcionário do governo paquistanês ao "Financial Times", em
referência ao comércio ilícito
de segredos nucleares pelo
principal cientista nuclear do
país, que foi exposto em 2004.
"O problema é que o Ocidente
não acredita em nós."
Falando a jornalistas na
quarta-feira, o tenente-general
Carter Ham, diretor de operações no Estado-Maior conjunto das Forças Armadas norte-americanas, disse que o Pentágono estava acompanhando os
desdobramentos da situação
paquistanesa com atenção.
Aderindo ao crescente número de observadores que fazem apelos por eleições rápidas, Sarkozy, em visita aos Estados Unidos, disse que "é muito importante que não acordemos um dia e encontremos no
poder no Paquistão um governo formado por extremistas".
Os EUA reforçaram sua cooperação com o Paquistão quanto à segurança nuclear depois
que foram descobertas as atividades de Khan, publicamente
descritas por Mohamed el Baradei, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, como "um supermercado
nuclear". Islamabad, porém,
deixou claro que não permitirá
visitas de norte-americanos a
instalações nucleares sigilosas.
Em seu livro de memórias,
George Tenet, antigo diretor da
CIA, relembra uma conversa
com o general Musharraf na
qual o líder paquistanês havia
garantido, depois de consultar
os especialistas, que "homens
que vivem escondidos em cavernas" não seriam capazes de
construir uma bomba. "Senhor
presidente, seus especialistas
estão errados", Tenet diz ter
respondido a ele.
Um relatório preparado pela
Escola John F. Kennedy de Administração Pública da Universidade Harvard também concluiu que o Paquistão apresenta um sério desafio para os esforços de impedir que terroristas obtenham armas nucleares.
"Se os terroristas da Al Qaeda
por duas vezes quase conseguiram assassinar Musharraf com
a ajuda de oficiais das Forças
armadas Paquistanesas, como
se pode descartar a possibilidade de que outros oficiais, encarregados de proteger as armas
nucleares, sejam imunes a esforços para convencê-los a colaborar com os terroristas?",
questiona o relatório.
Funcionários do governo paquistanês dizem que medidas
abrangentes foram tomadas
para evitar que novos casos de
transferência de tecnologia a
Estados renegados aconteçam,
mas não informam detalhes.
O Paquistão não é um país
signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, e pode
dispor de até cem armas atômicas, posicionadas em diversos
locais, dizem analistas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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