São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Crise paquistanesa gera temores de ameaça nuclear

General dos EUA e presidente francês temem que acesso de terroristas a armas nucleares seja facilitado por instabilidade

Para locais, não há risco de venda ilícita de arsenal; "O problema é que o Ocidente não confia em nós", afirma um funcionário do governo


JO JOHNSON
FARHAN BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES", EM ISLAMABAD

Funcionários dos serviços de inteligência paquistaneses descartaram nesta semana sugestões de que o arsenal nuclear do país poderia cair em mãos terroristas, em meio à instabilidade política criada pelo estado de emergência decretado pelo general Pervez Musharraf. Eles desconsideraram a preocupação expressada por um general norte-americano e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy. "O Paquistão avançou muito desde o episódio de A. Q.
Khan", disse um importante funcionário do governo paquistanês ao "Financial Times", em referência ao comércio ilícito de segredos nucleares pelo principal cientista nuclear do país, que foi exposto em 2004. "O problema é que o Ocidente não acredita em nós."
Falando a jornalistas na quarta-feira, o tenente-general Carter Ham, diretor de operações no Estado-Maior conjunto das Forças Armadas norte-americanas, disse que o Pentágono estava acompanhando os desdobramentos da situação paquistanesa com atenção. Aderindo ao crescente número de observadores que fazem apelos por eleições rápidas, Sarkozy, em visita aos Estados Unidos, disse que "é muito importante que não acordemos um dia e encontremos no poder no Paquistão um governo formado por extremistas". Os EUA reforçaram sua cooperação com o Paquistão quanto à segurança nuclear depois que foram descobertas as atividades de Khan, publicamente descritas por Mohamed el Baradei, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, como "um supermercado nuclear". Islamabad, porém, deixou claro que não permitirá visitas de norte-americanos a instalações nucleares sigilosas.
Em seu livro de memórias, George Tenet, antigo diretor da CIA, relembra uma conversa com o general Musharraf na qual o líder paquistanês havia garantido, depois de consultar os especialistas, que "homens que vivem escondidos em cavernas" não seriam capazes de construir uma bomba. "Senhor presidente, seus especialistas estão errados", Tenet diz ter respondido a ele.
Um relatório preparado pela Escola John F. Kennedy de Administração Pública da Universidade Harvard também concluiu que o Paquistão apresenta um sério desafio para os esforços de impedir que terroristas obtenham armas nucleares. "Se os terroristas da Al Qaeda por duas vezes quase conseguiram assassinar Musharraf com a ajuda de oficiais das Forças armadas Paquistanesas, como se pode descartar a possibilidade de que outros oficiais, encarregados de proteger as armas nucleares, sejam imunes a esforços para convencê-los a colaborar com os terroristas?", questiona o relatório.
Funcionários do governo paquistanês dizem que medidas abrangentes foram tomadas para evitar que novos casos de transferência de tecnologia a Estados renegados aconteçam, mas não informam detalhes. O Paquistão não é um país signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, e pode dispor de até cem armas atômicas, posicionadas em diversos locais, dizem analistas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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