|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE
Presidente Frei está sendo o principal vencedor da crise interna chilena; eleições estão marcadas para dezembro de 99
Pinochet influi na sucessão presidencial
OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local
A detenção do general Augusto
Pinochet começa a ter efeitos sobre
a sucessão presidencial chilena ao
surgirem propostas para a prorrogação do mandato ou a reeleição
do atual presidente, o democrata-cristão Eduardo Frei.
Frei possui um mandato de seis
anos, com término em março do
ano 2000. As eleições estão marcadas para dezembro de 99. A Constituição chilena proíbe a reeleição.
A idéia foi defendida na semana
passada pelo empresário Felipe
Lamarca, presidente da Sociedade
de Fomento Fabril, importante entidade empresarial, durante jantar
ao qual Frei compareceu.
Segundo Lamarca, as condições
políticas do momento não asseguravam um futuro de estabilidade
para o país. Frei teria credibilidade
e capacidade para superar ressentimentos e divisões.
Ao ser questionado sobre as propostas, Frei foi lacônico: "Que falem", respondeu. Pelo menos até
agora, o presidente tem sido o
principal vencedor da crise interna
detonada pelo caso Pinochet.
Criticada pela esquerda e por adversários do general, a postura do
governo de defender firmemente a
imunidade de Pinochet tem recebido elogios de militares, da igreja,
de empresários e da direita.
O maior perdedor parece ser o
socialista Ricardo Lagos, que, até a
detenção de Pinochet, era o favorito para se tornar o candidato presidencial da União de Partidos pela
Democracia (UPD), a coalizão de
centro-esquerda formada pelos
partidos Democrata Cristão (PDS)
e Socialista (PS), entre outros, no
poder desde 1990.
Com 39% das intenções de voto,
segundo pesquisa divulgada há
cerca de duas semanas, Lagos tinha boas possibilidades de ser escolhido candidato da coalizão.
O socialista, entretanto, foi atacado por sua posição ambígua
diante da detenção: apoiou a atitude de Frei, mas deixou claro seu
desejo de que o general fosse submetido à Justiça. Além disso, diversos parlamentares de seu partido apoiaram a detenção.
Isso desagradou os militares, que
já não gostavam da idéia de um
presidente socialista.
De acordo com analistas políticos ouvidos pela Folha, Lagos poderá se recuperar se Pinochet voltar rapidamente ao Chile.
Mas, no caso de o Reino Unido
decidir mantê-lo no país, o que
continuava a ser analisado ontem
pela Câmara dos Lordes, e ocorrer
um processo de extradição para a
Espanha, o socialista poderia sofrer um desgaste irreversível.
Como os partidos de direita também se desgastaram com o episódio -eles paralisaram o funcionamento do Parlamento em protesto
contra a detenção-, Frei surgiria
como o nome de consenso.
Seu mandato poderia ser prorrogado por mais dois anos ou a
Constituição seria alterada para
permitir a reeleição (nesse caso, o
mandato presidencial no Chile
passaria a ser de quatro anos).
A mudança exigiria aprovação
de três quintos dos deputados e de
três quintos dos senadores, algo
difícil em condições normais. O
governo tem maioria na Câmara,
mas não controla o Senado.
Obviamente, os três candidatos a
presidente criticaram a proposta.
"É uma falta de respeito aos chilenos", afirmou Ricardo Lagos.
"O primeiro a rechaçar essa reforma seria o próprio presidente
Frei", disse Andrés Zaldívar, pré-candidato do Partido Democrata-Cristão.
Também o pré-candidato da direita, Joaquín Lavín, descartou a
idéia: "O Chile não é uma república das bananas. Aqui os períodos
presidenciais são respeitados".
Nos últimos anos, Brasil, Argentina e Peru mudaram suas Constituições para permitir a reeleição
do presidente da República.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|