São Paulo, terça, 10 de novembro de 1998

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CRISE
Presidente Frei está sendo o principal vencedor da crise interna chilena; eleições estão marcadas para dezembro de 99
Pinochet influi na sucessão presidencial

OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local

A detenção do general Augusto Pinochet começa a ter efeitos sobre a sucessão presidencial chilena ao surgirem propostas para a prorrogação do mandato ou a reeleição do atual presidente, o democrata-cristão Eduardo Frei.
Frei possui um mandato de seis anos, com término em março do ano 2000. As eleições estão marcadas para dezembro de 99. A Constituição chilena proíbe a reeleição.
A idéia foi defendida na semana passada pelo empresário Felipe Lamarca, presidente da Sociedade de Fomento Fabril, importante entidade empresarial, durante jantar ao qual Frei compareceu.
Segundo Lamarca, as condições políticas do momento não asseguravam um futuro de estabilidade para o país. Frei teria credibilidade e capacidade para superar ressentimentos e divisões.
Ao ser questionado sobre as propostas, Frei foi lacônico: "Que falem", respondeu. Pelo menos até agora, o presidente tem sido o principal vencedor da crise interna detonada pelo caso Pinochet.
Criticada pela esquerda e por adversários do general, a postura do governo de defender firmemente a imunidade de Pinochet tem recebido elogios de militares, da igreja, de empresários e da direita.
O maior perdedor parece ser o socialista Ricardo Lagos, que, até a detenção de Pinochet, era o favorito para se tornar o candidato presidencial da União de Partidos pela Democracia (UPD), a coalizão de centro-esquerda formada pelos partidos Democrata Cristão (PDS) e Socialista (PS), entre outros, no poder desde 1990.
Com 39% das intenções de voto, segundo pesquisa divulgada há cerca de duas semanas, Lagos tinha boas possibilidades de ser escolhido candidato da coalizão.
O socialista, entretanto, foi atacado por sua posição ambígua diante da detenção: apoiou a atitude de Frei, mas deixou claro seu desejo de que o general fosse submetido à Justiça. Além disso, diversos parlamentares de seu partido apoiaram a detenção.
Isso desagradou os militares, que já não gostavam da idéia de um presidente socialista.
De acordo com analistas políticos ouvidos pela Folha, Lagos poderá se recuperar se Pinochet voltar rapidamente ao Chile.
Mas, no caso de o Reino Unido decidir mantê-lo no país, o que continuava a ser analisado ontem pela Câmara dos Lordes, e ocorrer um processo de extradição para a Espanha, o socialista poderia sofrer um desgaste irreversível.
Como os partidos de direita também se desgastaram com o episódio -eles paralisaram o funcionamento do Parlamento em protesto contra a detenção-, Frei surgiria como o nome de consenso.
Seu mandato poderia ser prorrogado por mais dois anos ou a Constituição seria alterada para permitir a reeleição (nesse caso, o mandato presidencial no Chile passaria a ser de quatro anos).
A mudança exigiria aprovação de três quintos dos deputados e de três quintos dos senadores, algo difícil em condições normais. O governo tem maioria na Câmara, mas não controla o Senado.
Obviamente, os três candidatos a presidente criticaram a proposta. "É uma falta de respeito aos chilenos", afirmou Ricardo Lagos.
"O primeiro a rechaçar essa reforma seria o próprio presidente Frei", disse Andrés Zaldívar, pré-candidato do Partido Democrata-Cristão.
Também o pré-candidato da direita, Joaquín Lavín, descartou a idéia: "O Chile não é uma república das bananas. Aqui os períodos presidenciais são respeitados".
Nos últimos anos, Brasil, Argentina e Peru mudaram suas Constituições para permitir a reeleição do presidente da República.



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