|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Palmas e dinamite espocam na noite tensa em Oruro
Juan Karita/Associated Press
|
Simpatizantes de Evo Morales fazem vigília diante da Assembléia Constituinte em Oruro |
Apoiadores do governo "blindam" Assembléia, barrando saída de constituintes e da mídia
Cidade escolhida como nova sede para Assembléia é reduto de Morales e recebeu legisladores após meses
de confronto em Sucre
DA ENVIADA A ORURO
Caía a tarde de sábado quando começou a chegar ao Centro
de Convenções de Oruro um
colorido grupo de simpatizantes do governo Evo Morales à
espera da aprovação da nova
Constituição que, para a maioria indígena do país, representa
a "refundação" da Bolívia e a
correção de anos de racismo.
Aplausos aclamavam os assembleístas indígenas, que davam entrevista em quéchua ou
aimará às rádios locais.
O clima pouco depois, porém, não era de festa. O objetivo declarado dos manifestantes
era blindar a Assembléia Constituinte de possíveis ataques
oposicionistas, como ocorreu
durante meses na cidade de Sucre -quando a imprensa local
registrou ofensas racistas a
parlamentares. Um grupo de
mineiros estourava, esporadicamente, dinamites ao redor do
prédio em celebração e ameaça.
A sessão começou com a presidente da Assembléia, Silvia
Lazarte, elogiando os apoiadores. "Queria pedir uma salva de
palmas para nossos irmãos que
estão garantindo a segurança
do lado de fora", disse ela, dirigente indígena de Santa Cruz.
Improvisando fogueiras contra o frio, um grupo ouvia a sessão pelo rádio do lado de fora.
Alguns, munidos de pedaços de
pau. "Não vamos atacar ninguém. É para nos proteger",
disse o mineiro Luis Aguillar,
32. "Para ser honesto, não votei
no Evo. Mas ele está fazendo
mais do que qualquer outro. E a
Constituição é a primeira coisa
que não é para eles. É para os
pobres", completou o pedreiro
Carlos Flores, de origem quéchua. Flores tem seis filhos,
contemplados com a versão local do Bolsa Escola, o "Juancito
Pinto", que Morales promove.
Às 2h da manhã, porém, já
era praticamente impossível
para assembleístas e jornalistas
-sobretudo os de TVs oposicionistas- sair do edifício. Os
apoiadores da Carta estavam
acompanhados então de manifestantes radicais da cidade de
El Alto. "Meia-lua não passará", gritavam em referência ao
oriente do país, que faz ferrenha oposição a Morales. "Ninguém sai antes de aprovar! Bolívia de pé, nunca de joelhos!"
A reportagem da Folha tentou sair do prédio, mas foi desencorajada pela polícia, do lado de dentro, e pelos gritos de
manifestantes, do lado de fora:
"Jornalista, volte a trabalhar";
"Está com fome? Eu também!".
Oruro, 230 km ao sul de La
Paz, foi escolhida para a sessão-chave da Constituinte exatamente por ser um dos redutos
de Morales -o departamento
(Estado) que tem o mesmo nome da capital é um dos três, do
total de nove departamentos
(Estados) bolivianos, comandado por governistas, além de
contar com grupos de movimento sociais e mineiros simpáticos ao presidente.
Não houve incidentes, mas
as ameaças duraram toda a madrugada. A tensão só diminuiu
com a aprovação da Carta. às
12h de domingo, o grupo foi engrossado por uma marcha de
manifestantes que, seguida por
bandas de música tocando o hino nacional, comemoraram
nos arredores. (FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Quiroga quer ir a corte internacional Próximo Texto: Lei revogatória de mandatos vai ao Congresso Índice
|