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Vice e oposição se articulam para conter a Casa Rosada
Julio Cobos arma sessão extraordinária no Congresso para intervir em crise
Último foco de confusão é a tentativa do governo de demitir o diretor do Banco Central; medidas do caso estão desde sexta sub judice
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, e a oposição
ao governo Cristina Kirchner
no Congresso aceleram hoje a
estratégia de convocar, à revelia de Cristina, sessão extraordinária do Parlamento, para intervir na crise política em que a
Casa Rosada se emaranhou, no
fim da semana passada.
Em tese, apenas a presidente
poderia convocar reuniões extraordinárias do Congresso,
que está em recesso. Contudo,
Cobos julga que a dimensão e a
raiz da crise ocasionam a brecha legal para a "autoconvocação" do Senado, que ele preside
-atribuição dada ao vice-presidente da República, segundo a
Constituição argentina.
Numa reunião com líderes de
bancada, ele estimará o quorum e procurará fechar a data
da sessão. Cristina tenta frear a
iniciativa, impedindo a participação da bancada governista.
O ex-presidente Néstor
Kirchner, marido de Cristina e
atual deputado, acusou Cobos
de conspirar para derrubar o
governo e de trair sua função de
vice-presidente. Cobos reagiu
dizendo que "o marco ético do
papel do vice-presidente não
pode ser o silêncio e a submissão a decisões que não foram
nem sequer consultadas".
A Casa Rosada está encurralada pela contestação judicial a
dois decretos que Cristina baixou na condição de "necessidade e urgência". É um mecanismo semelhante à medida provisória brasileira, que deve contar com a ratificação do Congresso -daí a convocação de
Cobos para analisá-los.
O primeiro decreto, de 15 de
dezembro passado, criou um
fundo de US$ 6,5 bilhões com
reservas do Banco Central, para garantir o pagamento da dívida externa em 2010.
O segundo decreto, da sexta
passada, removeu de seu cargo
o presidente do BC, Martín Redrado, que resistia em transferir as reservas para o fundo.
Redrado diz temer que o dinheiro seja embargado por outros credores da dívida argentina -os que recusaram a negociação do calote de 2001 e buscam ressarcimento na Justiça.
Partidos de oposição pediram à Justiça a anulação do decreto que criou o fundo, até que
o Congresso se pronuncie a respeito. Redrado recorreu de sua
exoneração. A juíza María José
Sarmiento deferiu os dois pedidos. Redrado retomou seu cargo na sexta à tarde. Mas, como
cabe recurso à decisão da juíza,
o comando do Banco Central
está indefinido, o que provoca
reflexos negativos no mercado.
Acentuando ainda mais a crise, a Casa Rosada acionou a Polícia Federal para localizar Sarmiento, que, segundo o governo, obstruiu a apelação, ao ficar
incomunicável depois de deferir o recurso a Redrado. Sarmiento nega a acusação e afirma sentir-se "pressionada" pela exibição do aparato policial
promovida pelo governo.
O êxito da tentativa de Cobos
de devolver "tranquilidade e
harmonia" ao país, que diz ser
sua meta, poderia render dividendos eleitorais ao vice-presidente, aspirante à sucessão de
Cristina. Embora seu vice, Cobos rompeu com ela em 2008.
A partir de hoje, a Justiça
tem prazo de 48 horas para
analisar os recursos com que o
governo tenta restituir a validade dos dois decretos, o que pode arrastar o impasse no Banco
Central. Mesmo se a decisão for
favorável ao governo, a questão
poderá ir à Suprema Corte.
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