São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

"É preciso mudar a lei para prender terroristas"

CLIVE CROOK
DO FINANCIAL TIMES

A tentativa de ataque aos EUA no Natal [quando o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab tentou explodir um avião proveniente de Amsterdã] representou o primeiro encontro direto de Obama com um possível ato de terror doméstico.
O modo como seu governo lidou com a situação deixou algo a desejar. Muitas das críticas feitas ao presidente foram injustas, algumas até ridículas, mas a equipe de Obama forneceu aos seus detratores bastante matéria-prima.
Membros de alto escalão do governo cometeram erros grosseiros. Quando Janet Napolitano, secretária de Segurança Doméstica, afirmou que o "sistema funcionou" -depois de já se conhecerem falhas de cruzamento de dados-, o governo se viu em situação delicada.
Passado o perigo imediato, o chefe do Centro Nacional de Contraterrorismo manteve seu período de folga programada. O próprio presidente se encontrava fora da Casa Branca.
Como outro ato terrorista interno não atingiu os EUA desde 2001, os americanos não tiveram que aprender a viver com o terrorismo. Por ora, a sensação de segurança é bastante alta. Parte dos críticos afirma que o governo incentiva esse tipo de sensação equivocada com medidas extras de segurança, pouco eficazes contra o terrorismo.
Do lado oposto, republicanos dizem que Obama não é duro o suficiente com os terroristas. O presidente, para eles, não parece disposto a chamar de guerra uma guerra, e sua leniência está atando as mãos do país.
Em vez de ser detido como combatente inimigo e posto sob a custódia dos militares, Abdulmutallab foi tratado como um criminoso comum, teve os seus direitos lidos e acesso a um advogado. Isso é mais do que suficiente para causar um derrame no ex-vice-presidente Dick Cheney -e muitos americanos concordam com ele.
Há também os que se perguntam por que ninguém foi demitido após o episódio.
A crítica republicana de que Obama é leniente com o terror, no entanto, não faz sentido. Basta considerar a escalada no Afeganistão, o adiamento na decisão de fechar Guantánamo, a reafirmação do poder de detenção de suspeitos de terrorismo por tempo indefinido. Em tudo, Obama continua o que foi iniciado por George W. Bush.
Mas há um aspecto de sua política de segurança que precisa ser modificado. Pelas leis atuais, os responsáveis pela prisão de Abdulmutallab só tinham duas opções: detê-lo como combatente inimigo ou acusá-lo por crime comum.
Obama deveria encaminhar ao Congresso uma lei capaz de criar uma terceira via. A guerra contra a Al Qaeda não é uma guerra comum -especialmente quando o inimigo ataca cidadãos americanos. E os integrantes da Al Qaeda também não são criminosos comuns. A lei americana deveria ser capaz de incorporar esses fatos.


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