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Crise energética causa desgaste ao governo paraguaio
Com produção de sobra, país sofre cortes no abastecimento de luz por não possuir estrutura suficiente de transmissão
Como na Venezuela de Hugo Chávez, dificuldades municiam a oposição e se tornam problema político para o presidente Lugo
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
A exemplo da Venezuela do
presidente Hugo Chávez, o Paraguai também enfrenta uma
crise energética, que vem gerando transtornos à população
e críticas ao presidente esquerdista Fernando Lugo.
Apesar de dispor de duas das
maiores hidrelétricas do mundo -as binacionais Itaipu (com
o Brasil) e Yacyretá (com a Argentina)-, o país tem sido afetado por cortes e piques de luz
diários neste verão, em que
temperaturas beiram 40C, levando a recordes de consumo.
O próprio governo reconhece
que a culpa não é do clima, mas
da falta de infraestrutura de
transmissão e distribuição da
energia das hidrelétricas até os
centros de consumo. Ou seja, o
país tem energia de sobra, mas
não tem como transmiti-la.
"A demanda energética do
país em horas de pico é 7%
maior do que podemos transmitir, daí essa crise enorme",
disse à Folha Germán Fatecha,
presidente da Ande, a estatal de
energia que em janeiro declarou emergência energética no
país -medida que deve ser ratificada hoje pelo Congresso.
Para Fatecha, a "solução-chave" para a crise passa pela
aprovação, pelo Congresso brasileiro, do acordo sobre a energia de Itaipu fechado em julho
passado entre Lugo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pelo acordo, o Paraguai ganhará, de graça, uma linha de
500 kV para levar energia de
Itaipu até Assunção. Também
receberá US$ 240 milhões a
mais por ano como compensação pela cessão de energia da
usina ao Brasil -pelo tratado
de Itaipu, o país só pode vender
sua fatia excedente ao Brasil.
Classificado como "histórico" por Lula, e vendido por Lugo como principal feito de sua
gestão, o acordo foi aprovado
pelo Legislativo paraguaio, mas
continua no Congresso brasileiro desde novembro. O aumento da compensação só valerá com aval legislativo.
Enquanto isso, paraguaios
-sobretudo na Grande Assunção, onde está 40% da população do país- sofrem com cortes de luz que se estendem por
até cinco horas e danificam
aparelhos domésticos, conforme relatou à Folha o presidente da Asucop (Associação de
Usuários e Consumidores do
Paraguai), Juan Vera.
Vera atribui o problema a
gestões passadas, mas "principalmente" a Lugo. "O governo
não fez nada a respeito", diz.
As críticas ecoam no mundo
empresarial -a UIP (União Industrial Paraguaia) afirma que
os cortes já paralisam fábricas e
cobra soluções imediatas. Jornais apontam inação oficial e a
oposição aproveita para atacar
o presidente -que ontem determinou economia de energia
por órgãos públicos e até nas
luzes do palácio de governo.
A crise chega em meio a uma
maior guinada à esquerda da
gestão Lugo -exemplo recente
foi a troca no comando de Itaipu de um ex-senador do Partido Liberal (centro-direita) por
um assessor próximo com passagens por movimentos sociais
e pelo PT brasileiro.
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