São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Abusos maculam boa imagem do Exército

DO ENVIADO AO CAIRO

Os confrontos do estudante de engenharia Ahmed Salawy com o Exército egípcio começaram muito antes dos protestos atuais. Com apenas 22 anos, conta ter sido preso 17 vezes por atividades antirregime, sobretudo a participação em manifestações.
"Entre as detenções curtas, de poucas horas, e as mais longas, que duraram até sete meses, sempre houve uma coisa em comum: a violência", diz Ahmed, que diz ter sido várias vezes torturado pelo Exército por envolvimento com oposicionistas.
"Comecei a pedir liberdade em 2004, quando era um menino. Apanhei tanto que até me acostumei", afirma.
Relatos como o de Ahmed têm se repetido agora, abalando a imagem de neutralidade e comedimento que o Exército conquistou entre a maioria dos manifestantes.
Grupos de direitos humanos denunciaram ao jornal "Guardian" que o Exército deteve milhares de manifestantes desde o início dos protestos, em 25 de janeiro, e que eles teriam sofrido tortura de militares. Muitos deles ainda estariam desaparecidos.
Na praça Tahrir, entretanto, o clima entre manifestantes e soldados é geralmente amistoso. Tanques cercam o local, além de proteger instalações consideradas estratégicas pelo regime, como o prédio da televisão estatal.
Mas eles não parecem representar ameaça. Virou cena corriqueira pais colocarem filhos pequenos em cima dos tanques para tirar fotos.
"Não acredito que o Exército tenha torturado", duvida o técnico em computador Diaa Elsherbany, 25. "Nosso grande inimigo é a polícia."
Desde os choques ocorridos nos primeiros dias, que deixaram mais de 300 mortos, a polícia sumiu das ruas do Cairo. O resultado foram saques e vandalismo, o que levou à formação de patrulhas de cidadãos para proteger prédios e o comércio.

TRANSIÇÃO
Embora os manifestantes rejeitem a permanência do regime, admitem que o Exército seja mantido como guardião do poder durante transição, contanto que o comando não fique nas mãos de alguém identificado com a era Mubarak, como o atual vice-presidente, Omar Suleiman.
Algumas cenas ocorridas no calor dos protestos vão muito além da cordialidade entre manifestantes e militares. Ontem, após avisar que o governo faria um anúncio, um militar recebeu beijos, abraços e só não foi carregado porque afastou com educação os mais animados.
Deixou o local com lágrimas nos olhos, sob gritos ritmados dos manifestantes: "O povo e o Exército jamais se separarão". (MN)

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