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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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Preocupada, Turquia envia observadores

DA REDAÇÃO

Com anuência dos EUA, a Turquia enviará observadores militares para a cidade iraquiana de Kirkuk, tomada ontem por peshmergas (guerrilheiros curdos) aliados às tropas anglo-americanas, e para Mossul, onde essas tropas começaram a entrar.
O governo em Ancara teme que a presença dos curdos no controle das duas principais cidades do norte do Iraque -um dos maiores pólos petrolíferos do país- dê ao grupo étnico condições políticas e financeiras para obter a independência do Curdistão. Desde 1991, os curdos gozam de autonomia virtual em três províncias do norte do Iraque.
Como o sudeste da Turquia concentra a maior parte dos 25 milhões de curdos do mundo, um Curdistão independente possivelmente avançaria no território turco. O restante do grupo se espalha por Iraque, Irã, Síria e Armênia.
O vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Abdullah Gul, declarou ontem que a Turquia fará "todo o necessário" para proteger seus interesses na região. O país tem 40 mil soldados na fronteira com o Iraque e faz incursões esporádicas na região.
"Estamos acompanhando os acontecimentos e mandaremos observadores das Forças Armadas [para Kirkuk e Mossul]", disse Gul à rede turca NTV. Segundo a agência Anatoli, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, teria prometido ao ministro, por telefone, a remoção dos curdos do comando tão logo a 173ª Brigada Aérea chegue a Kirkuk.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que a cidade ficará "sob controle americano" e informou que Washington concordou com o envio de "um pequeno número" de observadores turcos.
Os curdos iraquianos reagiram alegando que não pretendem usar a reorganização política do Iraque pós-guerra para declarar independência. "Já ordenei aos peshmergas que deixem a cidade até amanhã [hoje] de manhã", disse ontem o líder curdo iraquiano Jalal Talabani em entrevista à sucursal turca da rede americana CNN.

Relações estremecidas
A posição em relação aos curdos criou atritos entre os governos americano e turco quando a Turquia anunciou, logo após a eclosão da guerra, em 20 de março, que mandaria seus soldados para o norte do Iraque a fim de "preservar a integridade de seu território" e "refrear um eventual fluxo de refugiados para o país".
Os EUA reprovaram a ação temendo que o confronto entre curdos e turcos prejudicasse a campanha militar para derrubar o ex-ditador Saddam Hussein e arriscasse posições no norte do Iraque.
A Turquia recuou para evitar a deterioração ainda maior de suas relações com os EUA, já abaladas pela recusa do país em ceder suas bases militares para o uso da coalizão. A negativa obrigou a coalizão a redesenhar sua estratégia, abandonando o plano de entrar no Iraque pelo norte e atrasando, entre outras coisas, a tomada de Tikrit, cidade de Saddam.


Com agências internacionais


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