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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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GOVERNO BUSH

Sucesso de campanha militar fortalece Rumsfeld e enfraquece diplomacia de Powell

"Falcões" ganham força nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O sucesso da campanha militar norte-americana no Iraque fortaleceu o grupo conhecido como os "falcões" do governo George W. Bush e deve reforçar a estratégia de intimidação a outros países por meio da ameaça de ""ações preventivas" contra eles.
A chamada Doutrina Rumsfeld, segundo analistas ouvidos pela Folha, tende a se consolidar e a provocar uma sedimentação na liderança do grupo comandado pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
Ao lado das Nações Unidas, perdem importância relativa, por esta ótica, a diplomacia e o Departamento de Estado. Militares tradicionais, como o próprio secretário de Estado, Colin Powell, 66, também saem da guerra sem maior brilho.
A vitória rápida e surpreendente, com emprego de muita tecnologia e poucos homens, reforçou na prática o que Rumsfeld, 70, vem defendendo em tese: o mesmo pode funcionar com outros.
A Coréia do Norte, também membro do chamado ""Eixo do Mal", seria o próximo da lista? "Temos agora de encarar seriamente o problema", responde Michael O"Hanlon, especialista em defesa do Brookings Institute e do Conselho de Relações Internacionais de Washington.
"Quanto das armas químicas de Saddam Hussein foi parar na Síria é algo que também precisa ser esclarecido", diz Kenneth Pollack, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional.
Ontem, Powell fez questão de divulgar, via seu serviço de imprensa, entrevista dada a uma TV do Paquistão onde afirma que os EUA "não têm uma lista de países que podem ser atacados".
Candidato natural à reeleição, é pouco provável que Bush se atire em uma terceira guerra antes do fim do primeiro mandato.
Nos meios militares, contudo, já se posicionou claramente na disputa interna que coloca Rumsfeld e seu vice-presidente, Dick Cheney, de um lado, e o grosso do alto escalão das Forças Armadas de outro.
Os EUA tomaram Bagdá com um terço das tropas e em metade do prazo que durou toda a Guerra do Golfo, em 1991.
O novo dogma "mais tecnologia, menos homens" é visto entre militares tradicionais como a senha para corte de pessoal e concentração de gastos em equipamentos e armas sofisticadas -uma obsessão de Rumsfeld.
Ao ter sido encaminhada toda a operação do pós-guerra para o guarda-chuva do Pentágono, Rumsfeld e seu time também deram um duro golpe na divisão de poderes em Washington. E vêm conquistando simpatias.
Ontem, o influente "The Wall Street Journal" publicou editorial pesado recomendando a Bush o veto a uma medida do Congresso que pode dar a Powell, e não a Rumsfeld, os US$ 2,5 bilhões que os EUA querem aplicar na reconstrução do Iraque. "O presidente Bush deve tirar as mãos do Departamento de Estado da alça dessa bolsa se realmente deseja um Iraque democrático", afirmou o "WSJ".
O "The Washington Post" e a rede ABC divulgaram pesquisa mostrando que 96% aprovam a campanha militar, arquitetada por Rumsfeld. Cerca de 77% apoiam Bush e 80%, a guerra.
James Dobbins, ex-funcionário graduado do Departamento de Estado e da Casa Branca, afirma que o resultado no Iraque coloca para Bush a importante questão de decidir-se por aprofundar o isolamento americano com seu unilateralismo ou voltar-se de novo para o resto do mundo.
Dobbins, que participou da reconstrução de países onde os EUA intervieram, como o Haiti, a Somália e o Afeganistão, afirma que uma razão pragmática pode levar os EUA a olharem de novo para fora. "O custo financeiro de toda a operação, que pode durar até cinco anos, será muito pesado para os EUA sozinhos. Ganhar a paz é sempre menos certo do que vencer a guerra", diz.


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