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IRAQUE OCUPADO
Pedidos de boicote ao redor do mundo contra os produtos americanos não tiveram resultado significativo
Guerra e abusos não abalam marcas dos
EUA no exterior
SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM FRANKFURT
Quando as tropas americanas
invadiram o Iraque, no ano passado, executivos da Ford na Europa
se prepararam para enfrentar
uma reação negativa dos consumidores. "Nossas vendas, imagem e participação no mercado
são coisas que monitoramos de
perto", disse Niel Golightly, porta-voz da Ford em Colônia, na
Alemanha. "Assim, estamos sempre atentos para a possibilidade
de a Ford ser vista como símbolo
da política externa dos EUA e de
isso ter conseqüências negativas."
Entretanto, além de um incidente isolado num revendedor
Ford na Itália, no ano passado, a
empresa ainda não viu sinais de
que o antiamericanismo amplamente difundido no exterior tenha se voltado contra a marca. Na
Europa, segundo Golightly, a participação da Ford no mercado se
mantém constante. E a previsão é
de um pequeno aumento de vendas neste trimestre.
Por uma série de razões, as empresas americanas que vendem
globalmente dizem que até agora
não têm sido muito atingidas pela
insatisfação em torno da guerra
no Iraque. Os consumidores de
todo o mundo, em sua maioria,
parecem ser tão influenciados pelas condições econômicas quanto
pela política. E, numa prova da
crescente sofisticação do marketing das grandes marcas americanas no mercado global, muitas
pessoas vêem produtos que têm
sua origem nos EUA como tendo
raízes em seus próprios países.
Mesmo muçulmanos do Oriente Médio e do Sudeste Asiático
não parecem estar traduzindo seu
repúdio em boicote.
Para Fred Irwin, presidente da
Câmara Americana de Comércio
de Frankfurt, "é preciso lembrar
às pessoas que política e negócios
são coisas distintas".
Essa mensagem nem sempre é
ouvida. Quando Heiko Mueller
procurou uma maneira de manifestar sua oposição à ocupação
americana do Iraque, ele cancelou
seus pedidos a firmas americanas.
Proprietário da Riese und Mueller, fábrica de bicicletas perto de
Frankfurt, Mueller cancelou junto
a fornecedores americanos pedidos de freios e caixas de marchas
no valor de quase US$ 400 mil.
Empresas que operam internacionalmente há décadas parecem
ser relativamente imunes às atitudes antiamericanas, talvez em
parte por terem criado estratégias
para evitar serem vistas como especialmente americanas.
Em muitas multinacionais, os
executivos dizem que sempre
procuram conferir a seus produtos, marketing e imagem qualidades únicas do país em que operam, sendo vistas mais como empresas locais. Outras empresas
procuram manter uma imagem
geograficamente genérica, para
não serem associadas a nenhum
país ou cultura específicos.
Mesmo a rede McDonald's, um
dos maiores símbolos dos EUA
no exterior, procura destacar como vem se integrando localmente. Uma das maiores empregadoras do setor privado no Brasil, a
rede às vezes é alvo de críticas durante protestos de esquerda na
avenida Paulista, em São Paulo,
mas também é comum ver os manifestantes, depois, comendo ali.
Esses sentimentos em relação
ao McDonald's foram ecoados na
Ásia e na Europa. "Estamos presentes no Japão há mais de 30
anos, e todos os nossos funcionários são japoneses", disse Tatsuyuki Kanari, porta-voz do McDonald's Japão. Uma porta-voz da
rede na Alemanha falou: "Dois
terços de nossas lojas pertencem a
empreendedores alemães. Procuramos lembrar às pessoas que
prejudicar o McDonald's é prejudicar compatriotas alemães".
A maior parte dos boicotes contra produtos americanos anunciados no ano passado perdeu
força e não foi reativada, mesmo
com a atenção mundial dada recentemente à questão dos abusos
de prisioneiros. Quando os EUA
se preparavam para invadir o Iraque, a Associação de Consumidores Muçulmanos da Malásia pediu um boicote da Coca-Cola.
Mas, segundo Marimuthu Nadason, secretário-geral da associação, a maior parte do público ignorou o apelo: "Qualquer um pode convocar um boicote, mas dificilmente funcionará."
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