São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Pedidos de boicote ao redor do mundo contra os produtos americanos não tiveram resultado significativo

Guerra e abusos não abalam marcas dos EUA no exterior

SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM FRANKFURT

Quando as tropas americanas invadiram o Iraque, no ano passado, executivos da Ford na Europa se prepararam para enfrentar uma reação negativa dos consumidores. "Nossas vendas, imagem e participação no mercado são coisas que monitoramos de perto", disse Niel Golightly, porta-voz da Ford em Colônia, na Alemanha. "Assim, estamos sempre atentos para a possibilidade de a Ford ser vista como símbolo da política externa dos EUA e de isso ter conseqüências negativas."
Entretanto, além de um incidente isolado num revendedor Ford na Itália, no ano passado, a empresa ainda não viu sinais de que o antiamericanismo amplamente difundido no exterior tenha se voltado contra a marca. Na Europa, segundo Golightly, a participação da Ford no mercado se mantém constante. E a previsão é de um pequeno aumento de vendas neste trimestre.
Por uma série de razões, as empresas americanas que vendem globalmente dizem que até agora não têm sido muito atingidas pela insatisfação em torno da guerra no Iraque. Os consumidores de todo o mundo, em sua maioria, parecem ser tão influenciados pelas condições econômicas quanto pela política. E, numa prova da crescente sofisticação do marketing das grandes marcas americanas no mercado global, muitas pessoas vêem produtos que têm sua origem nos EUA como tendo raízes em seus próprios países.
Mesmo muçulmanos do Oriente Médio e do Sudeste Asiático não parecem estar traduzindo seu repúdio em boicote.
Para Fred Irwin, presidente da Câmara Americana de Comércio de Frankfurt, "é preciso lembrar às pessoas que política e negócios são coisas distintas".
Essa mensagem nem sempre é ouvida. Quando Heiko Mueller procurou uma maneira de manifestar sua oposição à ocupação americana do Iraque, ele cancelou seus pedidos a firmas americanas. Proprietário da Riese und Mueller, fábrica de bicicletas perto de Frankfurt, Mueller cancelou junto a fornecedores americanos pedidos de freios e caixas de marchas no valor de quase US$ 400 mil.
Empresas que operam internacionalmente há décadas parecem ser relativamente imunes às atitudes antiamericanas, talvez em parte por terem criado estratégias para evitar serem vistas como especialmente americanas.
Em muitas multinacionais, os executivos dizem que sempre procuram conferir a seus produtos, marketing e imagem qualidades únicas do país em que operam, sendo vistas mais como empresas locais. Outras empresas procuram manter uma imagem geograficamente genérica, para não serem associadas a nenhum país ou cultura específicos.
Mesmo a rede McDonald's, um dos maiores símbolos dos EUA no exterior, procura destacar como vem se integrando localmente. Uma das maiores empregadoras do setor privado no Brasil, a rede às vezes é alvo de críticas durante protestos de esquerda na avenida Paulista, em São Paulo, mas também é comum ver os manifestantes, depois, comendo ali.
Esses sentimentos em relação ao McDonald's foram ecoados na Ásia e na Europa. "Estamos presentes no Japão há mais de 30 anos, e todos os nossos funcionários são japoneses", disse Tatsuyuki Kanari, porta-voz do McDonald's Japão. Uma porta-voz da rede na Alemanha falou: "Dois terços de nossas lojas pertencem a empreendedores alemães. Procuramos lembrar às pessoas que prejudicar o McDonald's é prejudicar compatriotas alemães".
A maior parte dos boicotes contra produtos americanos anunciados no ano passado perdeu força e não foi reativada, mesmo com a atenção mundial dada recentemente à questão dos abusos de prisioneiros. Quando os EUA se preparavam para invadir o Iraque, a Associação de Consumidores Muçulmanos da Malásia pediu um boicote da Coca-Cola. Mas, segundo Marimuthu Nadason, secretário-geral da associação, a maior parte do público ignorou o apelo: "Qualquer um pode convocar um boicote, mas dificilmente funcionará."


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