São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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Gaddafi é acusado de planejar a morte do príncipe regente saudita

DA REDAÇÃO

Os EUA, o Reino Unido e a Arábia Saudita estão investigando a possível existência de um plano patrocinado pelo ditador líbio, Muammar Gaddafi, para assassinar o príncipe regente Abdullah, líder de fato da Arábia Saudita.
O suposto complô foi revelado por duas fontes: Abdurahman Alamoudi, um americano muçulmano que fundou o Conselho Islâmico Americano e está detido nos EUA acusado de violar a proibição a cidadãos do país de negociar com a Líbia, e Mohamed Ismael, um agente do serviço secreto líbio que foi preso pelo Egito.
Caso seja verdadeira a acusação, o plano de assassinato teria sido elaborado no ano passado, na mesma época em que Gaddafi negociava com os EUA e o Reino Unido o fim das sanções internacionais impostas a seu país por praticar e apoiar o terrorismo.
Em Londres, em entrevista ao "New York Times", Seif al Islam el Gaddafi, filho do ditador líbio, disse que a acusação é "nonsense". Em Trípoli, o chanceler Abdel-Rahman Shalqam também rejeitou as afirmações: "É a repetição da velha conversa de que a Líbia tenta assassinar outras personalidades, que depois se prova falsa. O mundo conhece o papel da Líbia no combate ao terrorismo e ao extremismo. Nós não acreditamos na política da violência nem no uso de violência contra pessoas e Estados".
Gaddafi e Abdullah tiveram um ruidoso desentendimento público em uma cúpula árabe pouco antes do início da Guerra do Iraque, em março de 2003. Os dois trocaram insultos na reunião, um acusando o outro de submissão às potências ocidentais. Na ocasião, Abdullah disse a Gaddafi: "Suas mentiras o precedem, e seu túmulo está diante de você".
O acusador Alamoudi afirma ter-se encontrado duas vezes com Gaddafi, em junho e agosto de 2003, para combinar a morte de Abdullah. De acordo com o "New York Times", Alamoudi contou a investigadores que, em sua conversa com Gaddafi, o ditador lhe disse: "Eu quero o príncipe regente morto em um assassinato ou em um golpe de Estado".
Mohamed Ismael, o agente do serviço secreto líbio, diz que foi preso no Egito após ter ido à Arábia Saudita para entregar US$ 1 milhão a quatro sauditas. De acordo com o suposto esquema, os quatro terroristas tentariam atingir Abdullah com granadas-foguetes ou mísseis portáteis.

Reabilitação líbia
Em 1988, agentes líbios colocaram uma bomba em um jato comercial da Pan Am. O avião explodiu sobre Lockerbie (Escócia), matando todos os 270 ocupantes. Em 2003, Gaddafi concordou em pagar uma indenização bilionária às famílias das vítimas. No final desse ano, também anunciou que estava desmantelando o seu programa de fabricação de armas de destruição em massa.
Como resultado, foram dados passos para a volta da Líbia à comunidade internacional. Os premiês Tony Blair (Reino Unido) e Silvio Berlusconi (Itália) e o então premiê espanhol, José María Aznar, tiveram encontros com Gaddafi. Em fevereiro, os EUA voltaram a permitir a viagem de cidadãos americanos à Líbia e, em abril, tomaram medidas para a restauração de laços comerciais com o país. No entanto os EUA ainda mantêm a Líbia em sua lista de nações patrocinadoras do terrorismo, enquanto investiga a possível existência de vínculos residuais com grupos militantes.
A acusação de agora pode provocar um retrocesso na normalização das relações com o país. "Conhecemos o passado da Líbia no que tange ao terrorismo. Gaddafi prometeu terminar os laços com o terrorismo e cooperar conosco e com nossos aliados. Continuamos a monitorar cuidadosamente a adesão da Líbia à sua promessa", disse Sean McCormack, porta-voz da Casa Branca.


Com agências internacionais e "The New York Times"


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