São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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Líder, Carrió ataca adversários e esconde suas propostas de governo

DE BUENOS AIRES

Com propostas de governo pouco conhecidas, a deputada de oposição Elisa Carrió mantém há vários meses a liderança nas pesquisas eleitorais com a popularidade que conquistou por meio de uma série de denúncias contra a corrupção na Argentina.
Os ataques de Carrió, 45, incluem instituições tão diferentes quanto o Congresso, o governo, o sistema financeiro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Poder Judiciário.
Nas últimas semanas, no entanto, a pré-candidata mudou o foco de suas denúncias, que estava concentrado no governo do presidente Eduardo Duhalde, para aquele que considera ser seu provável adversário no segundo turno da eleição presidencial de março: o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).
Em seus ataques, Carrió mostra um pouco do misticismo que valoriza. A deputada, que carrega um enorme crucifixo no peito, costuma definir Menem como a "expressão do mal" ou a antítese do que ela mesma representaria na Argentina. "Se ele é o demônio, eu sou Harry Potter", disse, há algumas semanas.
Outro investimento da deputada está na campanha para que as eleições de março sejam gerais, e não apenas presidenciais, já que ela mesmo admite que não teria condições de governar em caso de vitória com um Congresso dominado pelo Partido Justicialista e a União Cívica Radical.
As eleição gerais têm a simpatia de mais de 80% da população, devido ao descontentamento generalizado com a classe política.
Com o slogan "Que se vayan todos" (que renunciem todos), a campanha liderada pela deputada contribuiu para sua popularidade e ganhou o apoio de várias lideranças políticas, como o presidenciável Luis Zamora, o prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, e o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner. Não se descarta que um desses nomes seja o vice-presidente que Carrió procura.
Para analistas políticos ouvidos pela Folha, no entanto, os ataques aos adversários e a campanha por eleições gerais ajudam a encobrir a falta de propostas de Carrió para tirar a Argentina da crise.
"Carrió ainda não esclareceu e nem tem interesse em esclarecer suas propostas agora. Em primeiro lugar nas pesquisas, ela tem deixado os pré-candidatos peronistas se atacarem entre eles até a conclusão das prévias para a escolha do candidato do partido [em novembro"", disse o analista Ricardo Rouvier.
Também contribui para gerar incertezas sobre um possível governo Carrió o fato de ela pertencer ao ARI (Argentina por uma República de Iguais), um partido fundado há apenas um ano e que nunca possuiu cargos importantes no Poder Executivo.
Preocupada pelo crescimento das críticas, Carrió divulgou há cerca de três semanas as bases de seu programa de governo.
O texto não foi suficiente para diminuir as críticas. Analistas apontam a proposta de relação com o FMI como um bom exemplo da superficialidade das idéias: "É muito difícil se confrontar com o FMI e, ao mesmo tempo, inconcebível pensar em um futuro para o país que se baseie nas receitas do FMI", diz o documento.
A idéia principal prevê um "choque de demanda" que seria criado por políticas de distribuição de renda. Com mais dinheiro no bolso, diz o texto, a própria população ajudaria a reativar a economia. No entanto não fica claro quais seriam as políticas implementadas para melhorar a distribuição da renda.
De concreto, Carrió deixa claro que não adotaria a dolarização da economia -principal proposta de Menem-, porque a medida seria prejudicial ao Mercosul. Ela também considera que o bloco deve ser a prioridade comercial do governo e a plataforma para as negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). (JS)


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