São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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MÍDIA

Jornalista que revelou caso de vazamento do nome de agente da CIA se recusa a revelar sua fonte e é acusado de desacato

Juiz dos EUA manda prender repórter que oculta fonte

ADAM LIPTAK
DO "NEW YORK TIMES"

Um juiz federal de Washington considerou que um repórter da revista "Time" desacatou a autoridade do tribunal, anteontem, e ordenou sua prisão, porque ele se negou a identificar os funcionários do governo que lhe revelaram a identidade de uma agente da CIA. Também foi considerado que a revista cometeu desacato, e ela recebeu ordem de pagar multa diária de US$ 1.000.
O juiz Thomas Hogan, da Corte Distrital dos EUA, suspendeu as duas sanções enquanto a "Time" e o repórter, Matthew Cooper, apelam da decisão, mas ele rejeitou o argumento de que a primeira emenda da Constituição americana confere a jornalistas o direito de recusar-se a responder a perguntas sobre fontes confidenciais formuladas por um júri.
"A informação solicitada é muito limitada", escreveu Hogan. "Já tendo sido esgotados todos os meios disponíveis para obter essa informação, o testemunho pedido é necessário para que a investigação se complete, e a previsão é que essa informação vá constituir evidência de inocência ou culpa."
A decisão do juiz envolve uma investigação politicamente carregada sobre a hipótese de funcionários da administração do presidente George W. Bush terem revelado ilegalmente a identidade de uma agente da CIA.
Analistas disseram que a possível prisão de um jornalista talvez seja o mais significativo choque entre promotores federais e a imprensa desde os anos 70. O caso é um dos vários que estão tramitando nas cortes federais, nas quais jornalistas receberam ordem judicial de revelar suas fontes.
As intimações judiciais de Cooper e outros jornalistas foram emitidas por um advogado especial, Patrick Fitzgerald, que queria saber quem revelou ao colunista Robert Novak, cuja coluna é vendida a diversas publicações, a identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame.
Plame é casada com Joseph Wilson, ex-diplomata que, em artigo publicado em julho de 2003 no "New York Times", afirmou que o presidente Bush baseou-se em informações desacreditadas quando disse que o Iraque tentara obter urânio da África.
Dias depois, Novak escreveu em sua coluna que ""dois funcionários da administração" haviam dito a ele que Plame ""é agente [da CIA] que trabalha com armas de destruição em massa". Revelar a identidade de um agente da CIA pode ser crime. Wilson sugeriu que a Casa Branca poderia ter vazado o nome como vingança por ele ter criticado o presidente.
Não se sabe se Novak foi intimado a comparecer em juízo ou, se o foi, qual foi sua resposta. Seu advogado, James Hamilton, negou-se a comentar o assunto.
Depois de sair a coluna de Novak, a "Time" informou que "alguns funcionários do governo" revelaram a identidade de Plame.
Bush, o vice-presidente, Dick Cheney, e vários funcionários da Casa Branca já foram interrogados no inquérito. Em sua decisão sobre o caso Plame, no mês passado, Hogan disse que uma decisão da Suprema Corte de 1972 requer que Cooper revele suas fontes.
"[A decisão] deixa claro que nem a primeira emenda nem o direito consuetudinário protegem jornalistas de sua obrigação, que compartilham com todos os cidadãos, de depor diante de um júri quando convocados a fazê-lo."
O advogado Floyd Abrams, que representa a "Time" e Cooper, disse que a decisão vai dificultar o trabalho de jornalistas.
Referindo-se ao artigo publicado pela "Time", o advogado disse: "Esse tipo de matéria, sobre o potencial abuso de poder por parte do governo, é precisamente o tipo de coisa que é impossível fazer sem fontes confidenciais".


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