São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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EUA acionam alerta vermelho aéreo

Medida é adotada pela primeira vez desde o 11 de Setembro; Bush diz que país está em guerra contra "fascistas islâmicos"

Aviso vale para vôos vindos do Reino Unido; para o presidente, prisões provam que EUA ainda não estão "completamente seguros"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O suposto plano terrorista interrompido pela polícia britânica na madrugada de ontem fez com que os EUA acionassem seu alerta vermelho ("severo") aéreo pela primeira vez desde o ataque de 11 de Setembro. O aviso valia apenas para os vôos vindos do Reino Unido e envolve procedimentos de segurança mais rigorosos. Os outros vôos foram elevados para alerta laranja ("alto"), o segundo mais grave. O sistema de cinco cores foi criado logo após os ataques de 2001.
"As recentes prisões das quais os nossos cidadãos estão tomando conhecimento agora são um lembrete cru de que essa nação está em guerra com os fascistas islâmicos, que usarão qualquer meio para destruir aqueles de nós que amam a liberdade, para ferir nossa nação", disse George W. Bush, no Estado do Wisconsin, onde participaria de comício.
A expressão "fascismo islâmico" tem sido usada com freqüência por neoconservadores e liberais que apóiam a "guerra ao terror" de Bush. Para eles, o mundo vive um confronto entre o "Ocidente democrático" e um fundamentalismo islâmico que representaria o "totalitarismo do século 21".

"Mais seguro"
O presidente norte-americano afirmou que o país estava mais seguro do que antes de 11 de Setembro, mas que "obviamente" ainda não estava "completamente seguro". "É um erro achar que não há ameaça aos EUA." Segundo o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, Bush estava informado desde domingo da existência do plano. Chegou a manter uma teleconferência de 47 minutos com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em seu rancho em Crawford, no Texas, onde passa férias de dez dias.
"A cooperação nessa empreitada foi excelente", disse o presidente. "A cooperação entre as autoridades do Reino Unido e dos EUA foi firme. E a cooperação entre as agências de nosso governo foi excelente."
O presidente respondia assim a críticas que sofre desde o ataque de 2001, de que as diversas agências de inteligência norte-americanas têm ações conflitantes e não conversam entre si. Desde que assumiu seu segundo mandato, Bush tenta implantar um plano de unificar o fluxo de informações sob John D. Negroponte, diretor de inteligência nacional.
A iniciativa tem sofrido críticas dos democratas e dos próprios diretores das dezenas de agências, que temem perder poder ao responder a alguém entre eles e Bush. "Em termos de inteligência, estamos em 2002, não em 2006", disse uma representante (equivalente local a deputada federal) democrata da Califórnia, que faz parte do Comitê de Segurança Nacional do Congresso, antes dos eventos de ontem. É possível que Bush use o sucesso em frustar o suposto plano como cartão de visita para a sua reformulação.
"Não há indicação atualmente de que houvesse um plano dentro dos EUA; ainda assim, como precaução, o governo federal está tomando medidas imediatas para aumentar o nível de segurança em relação à aviação", disse o secretário norte-americano de Segurança Nacional, Michael Chertoff.
Os governadores da Califórnia e de Massachusetts mandaram a Guarda Nacional para os principais aeroportos de seus Estados.

Reação muçulmana
Grupos muçulmanos dos EUA criticaram Bush pelo uso da expressão "fascistas islâmicos", afirmando que o uso de tal vocabulário poderia inflamar tensões. "Esse é um termo imprudente", disse Nihad Awad, diretor-executivo do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, em Washington.
Para Awad, as autoridades americanas deveriam seguir o exemplos de seus pares britânicos, que evitaram usar "termos infamatórios".


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