São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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Sob risco, Londres e NY vivem dia de caos

Confusão e temor tomaram aeroportos diante das restrições para o embarque e de vistoria minuciosa das bagagens

Todos os líquidos foram proibidos nas bagagens de mão; mães eram obrigadas a provar o leite das crianças para comprovar inocuidade


David Cheskin/Associated Press
Bebê segura sacola plástico com leite e comida no aeroporto de Edimburgo, na Escócia, atendendo a nova medida de segurança


DE LONDRES
DE NOVA YORK

A descoberta do suposto plano terrorista para atacar vôos partindo de Londres e o conseqüente aumento do nível de segurança nos aeroportos do Reino Unido causaram enormes transtornos para quem tentou voar ontem.
Os três principais aeroportos de Londres -Heathrow, Gatwick e Stansted- tiveram a maior parte de seus vôos suspensa, o que prejudicou cerca de 400 mil passageiros, segundo estimativas da empresa de auditoria de aviação OAG.
Em Heathrow, um dos aeroportos mais movimentados do mundo, com uma média de 1.250 vôos por dia, 309 partidas e 302 chegadas foram canceladas ontem. Não havia previsão para os vôos de hoje.
Os passageiros que conseguiram voar precisaram enfrentar longas filas de até quatro horas para o check-in, seguidas de pelo menos mais uma hora na fila da área de embarque.
Todos foram proibidos de embarcar com bagagens de mão, comida ou qualquer líquido -mesmo soro para lentes de contato. Apenas documentos essenciais, dinheiro e cartões, óculos e medicamentos indispensáveis podiam ser levados a bordo, em sacolas de plástico transparentes que funcionários do aeroporto forneciam.
Mães acompanhadas de crianças de colo podiam levar mamadeiras com leite ou água, mas eram obrigadas a provar o líquido antes de embarcar, para confirmar que era inócuo.
As medidas de segurança obrigaram passageiros a tentar realocar suas bagagens de mão dentro das malas que seriam despachadas, o que só aumentou a bagunça no saguão.
Mas passageiros que ficaram mais de 12 horas no local até conseguirem embarcar demonstravam calma e se conformavam com a situação.
Pastor Mtshali, 40, que estava na fila de embarque às 20h30 e ia para o Canadá, era um dos resignados. "Estou aqui desde a 8h, vim assim que soube da confusão. Meu vôo estava previsto para as 14h30, só estou embarcando agora, mas pelo menos vou conseguir voar", afirmou. "É claro que você fica assustado numa situação dessas, mas temos de confiar nas inspeções que estão fazendo."

Pesadelo revivido
Sem a tradicional fleuma britânica, a reação dos americanos era a de que os EUA estavam sob ataque, de novo. O fuso (era madrugada em Manhattan quando Londres anunciou o plano frustrado) ajudou no desencontro de informações e na disseminação de rumores.
O repórter da Folha foi acordado antes das 6h por vizinhos reproduzindo boatos segundo os quais 21 aviões de carreira haviam sido derrubados nos EUA, numa seqüência de ataques terroristas coordenados, nos moldes da Al Qaeda.
No aeroporto JFK, em Nova York, vôos saíram com atraso devido à revista mais rigorosa. Era preciso chegar ao menos três horas antes do embarque.
"Nenhum tipo de líquido ou gel será permitido a partir desta linha de segurança", dizia uma cartolina improvisada segurada por uma funcionária.
Passageiros tiveram de jogar perfumes e produtos de higienes no lixo. Laptops, celulares e iPods também foram banidos dos vôos.
Nem mesmo a tripulação das companhias aéreas sabia das restrições. A comissária da United Airlines Amanda Moritz, 34, levava uma nécessaire Louis Vuitton com hidratante, demaquilantes e perfumes. "Vê esses produtos da Christian Dior? Custaram mais de US$ 400. Vai tudo para o lixo, senão perco o emprego", reclamou.
Até o fechamento desta edição não havia números oficiais de vôos e passageiros afetados. (MARCO AURÉLIO CANÔNICO E VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)

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