|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sob risco, Londres e NY vivem dia de caos
Confusão e temor tomaram aeroportos diante das restrições para o embarque e de vistoria minuciosa das bagagens
Todos os líquidos foram proibidos nas bagagens de mão; mães eram obrigadas a provar o leite das crianças para comprovar inocuidade
David Cheskin/Associated Press
|
Bebê segura sacola plástico com leite e comida no aeroporto de Edimburgo, na Escócia, atendendo a nova medida de segurança |
DE LONDRES
DE NOVA YORK
A descoberta do suposto plano terrorista para atacar vôos
partindo de Londres e o conseqüente aumento do nível de segurança nos aeroportos do Reino Unido causaram enormes
transtornos para quem tentou
voar ontem.
Os três principais aeroportos
de Londres -Heathrow, Gatwick e Stansted- tiveram a
maior parte de seus vôos suspensa, o que prejudicou cerca
de 400 mil passageiros, segundo estimativas da empresa de
auditoria de aviação OAG.
Em Heathrow, um dos aeroportos mais movimentados do
mundo, com uma média de
1.250 vôos por dia, 309 partidas
e 302 chegadas foram canceladas ontem. Não havia previsão
para os vôos de hoje.
Os passageiros que conseguiram voar precisaram enfrentar
longas filas de até quatro horas
para o check-in, seguidas de pelo menos mais uma hora na fila
da área de embarque.
Todos foram proibidos de
embarcar com bagagens de
mão, comida ou qualquer líquido -mesmo soro para lentes de
contato. Apenas documentos
essenciais, dinheiro e cartões,
óculos e medicamentos indispensáveis podiam ser levados a
bordo, em sacolas de plástico
transparentes que funcionários do aeroporto forneciam.
Mães acompanhadas de
crianças de colo podiam levar
mamadeiras com leite ou água,
mas eram obrigadas a provar o
líquido antes de embarcar, para
confirmar que era inócuo.
As medidas de segurança
obrigaram passageiros a tentar
realocar suas bagagens de mão
dentro das malas que seriam
despachadas, o que só aumentou a bagunça no saguão.
Mas passageiros que ficaram
mais de 12 horas no local até
conseguirem embarcar demonstravam calma e se conformavam com a situação.
Pastor Mtshali, 40, que estava na fila de embarque às
20h30 e ia para o Canadá, era
um dos resignados. "Estou aqui
desde a 8h, vim assim que soube da confusão. Meu vôo estava
previsto para as 14h30, só estou
embarcando agora, mas pelo
menos vou conseguir voar",
afirmou. "É claro que você fica
assustado numa situação dessas, mas temos de confiar nas
inspeções que estão fazendo."
Pesadelo revivido
Sem a tradicional fleuma britânica, a reação dos americanos
era a de que os EUA estavam
sob ataque, de novo. O fuso (era
madrugada em Manhattan
quando Londres anunciou o
plano frustrado) ajudou no desencontro de informações e na
disseminação de rumores.
O repórter da Folha foi acordado antes das 6h por vizinhos
reproduzindo boatos segundo
os quais 21 aviões de carreira
haviam sido derrubados nos
EUA, numa seqüência de ataques terroristas coordenados,
nos moldes da Al Qaeda.
No aeroporto JFK, em Nova
York, vôos saíram com atraso
devido à revista mais rigorosa.
Era preciso chegar ao menos
três horas antes do embarque.
"Nenhum tipo de líquido ou
gel será permitido a partir desta linha de segurança", dizia
uma cartolina improvisada segurada por uma funcionária.
Passageiros tiveram de jogar
perfumes e produtos de higienes no lixo. Laptops, celulares e
iPods também foram banidos
dos vôos.
Nem mesmo a tripulação das
companhias aéreas sabia das
restrições. A comissária da
United Airlines Amanda Moritz, 34, levava uma nécessaire
Louis Vuitton com hidratante,
demaquilantes e perfumes. "Vê
esses produtos da Christian
Dior? Custaram mais de US$
400. Vai tudo para o lixo, senão
perco o emprego", reclamou.
Até o fechamento desta edição não havia números oficiais
de vôos e passageiros afetados.
(MARCO AURÉLIO CANÔNICO E VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO)
Texto Anterior: Análise: Bush manda recado político Próximo Texto: Brasil mantém vôos para EUA e Reino Unido Índice
|