São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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Oito anos depois, são vários os escombros do 11 de Setembro

Obama permanece em Washington no primeiro aniversário dos ataques com ele na Casa Branca

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A mais recente notícia a sair do buraco um dia ocupado pelo World Trade Center é que o governo de Nova York está fazendo uma campanha não oficial em que sugere a cidades, Estados, organizações e entidades dos EUA (e do mundo) que peçam um pedaço dos escombros, hoje armazenados num galpão.
Mais do que estimular a proliferação de memoriais e perpetuar a lembrança do acontecimento trágico, o que os locais querem mesmo é se livrar de um incômodo. Oito anos após o ataque do 11 de Setembro, ninguém sabe o que fazer com o evento histórico, tanto de maneira literal como figurada.
Os projetos sobre no que transformar o que um dia foi o Ponto Zero foram aprovados, mas custam a sair do papel.
A tímida recuperação que o entorno experimentava foi atropelada pela crise econômica. Hoje, mesmo a Torre Sete, a menos atingida e, por isso mesmo, a única reconstruída, pena com a falta de inquilinos -o fim da bolha dos imóveis comerciais é considerado a nova fase da crise econômica atual.
O titular do direito de uso do terreno onde ficavam as torres por 99 anos, briga na Justiça com os governos de Nova York e Nova Jersey, que agora acham que seu plano grandioso de reconstruir os cinco prédios só começará a se tornar viável comercialmente em 2030 e, por isso, começam a dar para trás no apoio logístico e financeiro.
Cerca de 60% da população local acha que o ritmo da reconstrução é "ruim" ou "muito ruim", segundo pesquisa realizada há duas semanas pela Universidade Quinnipiac, e 61% não acreditam que qualquer parte do memorial esteja pronta para as homenagens dos dez anos do ataque, em 2011.
E até Barack Obama procura se distanciar do imbróglio. Politicamente, pois o 11 de Setembro se tornou um evento muito ligado ao seu antecessor, George W. Bush. E fisicamente: no primeiro ano em que o aniversário acontece com o democrata na Casa Branca, ele já avisou que ficará em Washington mesmo, onde participa de cerimônia de lembrança aos mortos no ataque ao Pentágono.
As coisas não vão melhor no campo das ideias. A condenação ao ataque continua firme, obviamente, mas os poucos que ousam contextualizá-lo de maneira mais crítica aos EUA ainda são ostracizados ou punidos intelectualmente. Foi o caso, por exemplo, da ensaísta americana Joan Didion e seu "Fixed Ideas - America Since 9.11" (editora New York Review Books, 2003), ainda hoje é considerada uma leitura polêmica.
Mas as medidas de exceção da dupla Bush-Cheney na esteira do 11 de Setembro de certa maneira relativizaram a certeza absoluta que tomava o país nas semanas seguintes ao evento, quando se sabia quem era o inimigo e o estoque de boa vontade do mundo com os EUA parecia inesgotável.
Foi-se longe demais na chamada "guerra ao terror" suscitada pelo ataque, comprova-se hoje, e mesmo o conflito no Afeganistão, a "guerra necessária", perde apoio popular doméstico na medida em que os anos passam e a pilha de corpos civis e militares aumenta.
Oito anos depois, são vários os escombros a se acumular.


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