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Oito anos depois, são vários os escombros do 11 de Setembro
Obama permanece em Washington no primeiro aniversário dos ataques com ele na Casa Branca
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A mais recente notícia a sair
do buraco um dia ocupado pelo
World Trade Center é que o governo de Nova York está fazendo uma campanha não oficial
em que sugere a cidades, Estados, organizações e entidades
dos EUA (e do mundo) que peçam um pedaço dos escombros,
hoje armazenados num galpão.
Mais do que estimular a proliferação de memoriais e perpetuar a lembrança do acontecimento trágico, o que os locais
querem mesmo é se livrar de
um incômodo. Oito anos após o
ataque do 11 de Setembro, ninguém sabe o que fazer com o
evento histórico, tanto de maneira literal como figurada.
Os projetos sobre no que
transformar o que um dia foi o
Ponto Zero foram aprovados,
mas custam a sair do papel.
A tímida recuperação que o
entorno experimentava foi
atropelada pela crise econômica. Hoje, mesmo a Torre Sete, a
menos atingida e, por isso mesmo, a única reconstruída, pena
com a falta de inquilinos -o
fim da bolha dos imóveis comerciais é considerado a nova
fase da crise econômica atual.
O titular do direito de uso do
terreno onde ficavam as torres
por 99 anos, briga na Justiça
com os governos de Nova York
e Nova Jersey, que agora acham
que seu plano grandioso de reconstruir os cinco prédios só
começará a se tornar viável comercialmente em 2030 e, por
isso, começam a dar para trás
no apoio logístico e financeiro.
Cerca de 60% da população
local acha que o ritmo da reconstrução é "ruim" ou "muito
ruim", segundo pesquisa realizada há duas semanas pela Universidade Quinnipiac, e 61%
não acreditam que qualquer
parte do memorial esteja pronta para as homenagens dos dez
anos do ataque, em 2011.
E até Barack Obama procura
se distanciar do imbróglio. Politicamente, pois o 11 de Setembro se tornou um evento muito
ligado ao seu antecessor, George W. Bush. E fisicamente: no
primeiro ano em que o aniversário acontece com o democrata na Casa Branca, ele já avisou
que ficará em Washington
mesmo, onde participa de cerimônia de lembrança aos mortos no ataque ao Pentágono.
As coisas não vão melhor no
campo das ideias. A condenação ao ataque continua firme,
obviamente, mas os poucos que
ousam contextualizá-lo de maneira mais crítica aos EUA ainda são ostracizados ou punidos
intelectualmente. Foi o caso,
por exemplo, da ensaísta americana Joan Didion e seu "Fixed Ideas - America Since 9.11"
(editora New York Review
Books, 2003), ainda hoje é considerada uma leitura polêmica.
Mas as medidas de exceção
da dupla Bush-Cheney na esteira do 11 de Setembro de certa
maneira relativizaram a certeza absoluta que tomava o país
nas semanas seguintes ao evento, quando se sabia quem era o
inimigo e o estoque de boa vontade do mundo com os EUA parecia inesgotável.
Foi-se longe demais na chamada "guerra ao terror" suscitada pelo ataque, comprova-se
hoje, e mesmo o conflito no
Afeganistão, a "guerra necessária", perde apoio popular doméstico na medida em que os
anos passam e a pilha de corpos
civis e militares aumenta.
Oito anos depois, são vários
os escombros a se acumular.
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