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SUCESSÃO NOS EUA / ARTIGO
Dias de cão para os republicanos
Ao prometer animal às filhas, Obama aliou competência a calor humano, combinação poderosa
WILLIAM KRISTOL
DO "NEW YORK TIMES"
Pouco antes da meia-noite
do dia 4 de novembro, eu não
estava tão preocupado. Os resultados da eleição haviam sido
ruins, mas não devastadores.
Obama vencia McCain mais
ou menos pela margem que Bill
Clinton conseguiu sobre George Bush pai em 1992, e assumiria o poder em janeiro com
maiorias legislativas semelhantes às de Clinton em 1993.
Bem, Newt Gingrich conseguiu liderar uma tomada de
controle do Congresso pelos
republicanos apenas dois anos
mais tarde. E depois de sua vitória em 1976, Jimmy Carter
contava com maiorias ainda
maiores. Ronald Reagan o destroçou quatro anos depois, e
sua vitória ajudou os republicanos a tomar o controle do Senado e deu início a uma era de governos conservadores.
Além disso, as pesquisas de
boca-de-urna deste ano sugeriam uma alternância entre
partidos, não um realinhamento ideológico. Em 2008, pessoas que se descreveram como
democratas compunham 39%
do eleitorado, ante 32% de republicanos. Em 2004, os dois
partidos tinham cada qual 37%.
Não houve mudança na identificação ideológica dos eleitores: em 2008, 22% se definiram
como "liberais" [progressistas]
-ante 21% de 2004. Já os conservadores declarados foram
34% do eleitorado, sem mudança ante a eleição anterior, e
44% se definiram como moderados, ante 45% em 2004.
Em outras palavras, o ano foi
bom para os democratas, mas
continuamos a viver em um
país de centro-direita. Os conservadores e o Partido Republicano terão chance real de recuperar sua posição -a menos
que a capacidade do novo presidente transforme votos que resultaram basicamente da oposição a Bush em uma base para
uma nova era de liberalismo.
E era isso que eu estava pensando quando, alguns minutos
depois de iniciar seu discurso
de vitória, Obama disse às suas
filhas que "vocês têm direito a
um novo cachorrinho que irá
conosco para a Casa Branca".
Engasguei. Não por minha
profunda afeição pelos cachorros. Mas porque embora todos
soubéssemos há muito que
Obama é um político habilidoso, ele ainda não havia mostrado um lado mais emotivo.
Competência e calor humano é
uma combinação poderosa. Subitamente vieram-me à mente
os grandes presidentes que realinharam o país na era moderna
-Franklin Roosevelt (e seu terrier Falla) e Ronald Regan (e
seu cocker Rex). Talvez um realinhamento esteja a caminho.
Naturalmente Obama teve
de responder sobre o cachorrinho: "Malia [filha de Obama] é
alérgica, de modo que o cachorro precisa ser hipoalergênico.
Mas nossa preferência seria
por um cachorro em um abrigo
de animais, mas muitos cachorros de abrigo são vira-latas como eu. Assim, definir como
conseguiremos equilibrar essas
duas necessidades é uma questão séria no lar dos Obama".
Com isso, Obama conseguiu
aprofundar sua empatia ante
todos os americanos que gostam de cães; identificar-se com
cada família que tenta decidir
que cachorro comprar; despertar simpatia de todos os pais de
filhos alérgicos; mostrar compaixão ao citar preferência por
um cachorro de abrigo; demonstrar humor seco e alguma
incorreção política ao comentar que "muitos cachorros de
abrigo são vira-latas como eu".
Nada mau. Podemos ter quatro ou oito anos difíceis para os
conservadores.
Esse tempo será ainda mais
difícil caso subestimem Obama. Sua escolha de Rahm Emmanuel como chefe-de-gabinete significa que ele não será um
esquerdista inconseqüente, e
que delineará uma estratégia
legislativa atenta às realidades
do Congresso, mas sem ceder a
líderes legislativos cujos interesses podem diferir dos seus.
E ele tem a vantagem de herdar uma recessão que lhe dará
um ou dois anos difíceis (pelos
quais não será culpado), seguidos de uma recuperação a tempo para a campanha de 2012.
Ou seja, Obama será formidável. Os conservadores deveriam ver com agrado o desafio.
É bom para o conservadorismo
que os conservadores precisem
desenvolver novas idéias e novos talentos políticos, se querem sucesso na era Obama.
E os governadores Sarah Palin, Mitch Daniels, Bobby Jindal e os demais possíveis candidatos republicanos em 2012 fariam bem em comprar animais
de estimação para seus filhos.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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