São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Europa reabre diálogo sobre cooperação com a Rússia

Negociação de tratado havia sido congelada em setembro, após conflito no Cáucaso

Recuo sinaliza pragmatismo do bloco europeu, que é dependente do gás e do petróleo russos; Geórgia diz que UE "premia agressor"

DA REDAÇÃO

A UE (União Européia) decidiu ontem retomar o diálogo sobre um novo tratado de cooperação com a Rússia, congelado desde setembro em represália ao suposto uso desproporcional da força por Moscou na guerra de seis dias contra a Geórgia, no mês anterior.
O anúncio foi feito durante reunião de chanceleres do bloco em Bruxelas para preparar a cúpula UE-Rússia, marcada para sexta-feira na cidade de Nice, no sul da França.
"Ter uma relação com a Rússia dentro de um quadro definido é melhor para a UE", justificou o chefe da diplomacia do bloco europeu, Javier Solana. Ele não disse quando o pacto será formalmente adotado.
A decisão de retomar as conversas com Moscou é tida como uma guinada pragmática por parte da UE, já que um dos pontos do acordo envolve a intensificação da parceria na área energética -a Rússia fornece 40% do petróleo e gás consumidos na Europa.
Mesmo assim, três entre os 27 países-membros resistiram à idéia de reatar com os russos. Após horas de negociação, Reino Unido e Suécia cederam e aceitaram a decisão, mas a Lituânia -que, como boa parte das ex-repúblicas soviéticas, mantém relações tensas com a Rússia- foi contra. O voto contrário não pesou porque, neste caso, o processo decisório não dependia da unanimidade.
O Acordo de Parceria e Cooperação (PCA, na sigla em inglês), que entrou em vigor em 1997, tinha como objetivo aproximar a Rússia e a UE através da intensificação de laços políticos e comerciais. Expirou no ano passado, e sua atualização foi suspensa pelos europeus após o conflito de seis dias que abalou o Cáucaso em agosto.
No dia 7 daquele mês, o governo georgiano tentou retomar pela força a Ossétia do Sul, que por acordos internacionais estava desde 1992 sob a tutela da Rússia. Em resposta, os russos retomaram o território, ocuparam a também rebelde Abkházia e uma parcela do solo georgiano.
O conflito terminou graças à mediação da UE, que pressionou as partes a aceitar um plano de paz prevendo a retirada russa do território georgiano -mas em termos vagos- e o envio à região de monitores do bloco europeu.
Mesmo no papel de negociadores, os europeus criticaram a resposta russa ao ataque georgiano e o reconhecimento por Moscou da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, o que foi considerado pela UE uma violação da integridade territorial da Geórgia.
A Geórgia protestou contra o recuo dos europeus. Tbilisi acusou Moscou de violar suas obrigações internacionais ao manter até hoje tropas em território georgiano e ao dificultar o acesso dos monitores da UE a algumas áreas. O governo georgiano disse que a Europa "premia a agressão russa".
O chanceler britânico negou que os países-membros estejam "premiando o mau comportamento", mas admitiu que a Rússia ainda deve se retirar totalmente da Geórgia.

"Página virada"
A Rússia elogiou a decisão européia e se disse disposta a "virar a página" e a "trabalhar como antes" com a UE.
Outra atitude considerada uma vitória da Rússia foi tomada ontem pela premiê alemã, Angela Merkel, que defendeu o fim das tensões entre a Otan (aliança militar ocidental) e Moscou. "É melhor falarmos um ao outro do que um do outro", disse Merkel em Berlim.


Com agências internacionais


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