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Europa reabre diálogo sobre cooperação com a Rússia
Negociação de tratado havia sido congelada em setembro, após conflito no Cáucaso
Recuo sinaliza pragmatismo do bloco europeu, que
é dependente do gás e do petróleo russos; Geórgia diz que UE "premia agressor"
DA REDAÇÃO
A UE (União Européia) decidiu ontem retomar o diálogo
sobre um novo tratado de cooperação com a Rússia, congelado desde setembro em represália ao suposto uso desproporcional da força por Moscou na guerra de seis dias contra a
Geórgia, no mês anterior.
O anúncio foi feito durante
reunião de chanceleres do bloco em Bruxelas para preparar a
cúpula UE-Rússia, marcada para sexta-feira na cidade de Nice,
no sul da França.
"Ter uma relação com a Rússia dentro de um quadro definido é melhor para a UE", justificou o chefe da diplomacia do
bloco europeu, Javier Solana.
Ele não disse quando o pacto
será formalmente adotado.
A decisão de retomar as conversas com Moscou é tida como
uma guinada pragmática por
parte da UE, já que um dos pontos do acordo envolve a intensificação da parceria na área
energética -a Rússia fornece
40% do petróleo e gás consumidos na Europa.
Mesmo assim, três entre os
27 países-membros resistiram
à idéia de reatar com os russos.
Após horas de negociação, Reino Unido e Suécia cederam e
aceitaram a decisão, mas a Lituânia -que, como boa parte
das ex-repúblicas soviéticas,
mantém relações tensas com a
Rússia- foi contra. O voto contrário não pesou porque, neste
caso, o processo decisório não
dependia da unanimidade.
O Acordo de Parceria e Cooperação (PCA, na sigla em inglês), que entrou em vigor em
1997, tinha como objetivo aproximar a Rússia e a UE através
da intensificação de laços políticos e comerciais. Expirou no
ano passado, e sua atualização
foi suspensa pelos europeus
após o conflito de seis dias que
abalou o Cáucaso em agosto.
No dia 7 daquele mês, o governo georgiano tentou retomar pela força a Ossétia do Sul,
que por acordos internacionais
estava desde 1992 sob a tutela
da Rússia. Em resposta, os russos retomaram o território,
ocuparam a também rebelde
Abkházia e uma parcela do solo
georgiano.
O conflito terminou graças à
mediação da UE, que pressionou as partes a aceitar um plano de paz prevendo a retirada
russa do território georgiano
-mas em termos vagos- e o
envio à região de monitores do
bloco europeu.
Mesmo no papel de negociadores, os europeus criticaram a
resposta russa ao ataque georgiano e o reconhecimento por
Moscou da independência da
Ossétia do Sul e da Abkházia, o
que foi considerado pela UE
uma violação da integridade
territorial da Geórgia.
A Geórgia protestou contra o
recuo dos europeus. Tbilisi
acusou Moscou de violar suas
obrigações internacionais ao
manter até hoje tropas em território georgiano e ao dificultar
o acesso dos monitores da UE a
algumas áreas. O governo georgiano disse que a Europa "premia a agressão russa".
O chanceler britânico negou
que os países-membros estejam "premiando o mau comportamento", mas admitiu que
a Rússia ainda deve se retirar
totalmente da Geórgia.
"Página virada"
A Rússia elogiou a decisão
européia e se disse disposta a
"virar a página" e a "trabalhar
como antes" com a UE.
Outra atitude considerada
uma vitória da Rússia foi tomada ontem pela premiê alemã,
Angela Merkel, que defendeu o
fim das tensões entre a Otan
(aliança militar ocidental) e
Moscou. "É melhor falarmos
um ao outro do que um do outro", disse Merkel em Berlim.
Com agências internacionais
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