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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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ANÁLISE

Fase convencional acabou

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira fase do conflito, de guerra convencional, terminou no Iraque. Começa agora a fase de ocupação. A primeira foi um grande sucesso. A segunda ainda é uma incógnita.
A fuga de todo um corpo de Exército (unidade englobando várias divisões), no norte do Iraque, foi o sinal de que a resistência militar organizada e convencional terminou. E junto com os generais, também fugiram figuras principais do regime.
Eles estão mortos ou fugindo, declarou o general americano Tommy Franks em uma entrevista coletiva realizada na base aérea de Bagram, no Afeganistão.
A visita de Franks a esse outro ponto dentro da região sob seu comando é um claro sinal de que sua presença no posto de comando da guerra no Iraque não é tão fundamental no momento.
Funcionários do Departamento da Defesa em Washington também afirmaram às agências internacionais que não resta mais nenhuma grande unidade militar iraquiana. O Exército de Saddam Hussein se dissolveu de vez com a queda do regime.
Também já não restam muitos alvos para as forças aéreas anglo-americanas, tanto que ontem foi anunciado que quatro caças-bombardeiros britânicos Tornado já tinham voltado para sua base aérea na Escócia.
Mas nem se pensa ainda em retirar tropas terrestres, já que restam bolsões de resistência e os soldados são necessários para a ocupação do país. Uma força rapidamente enfraquecida também se torna uma tentação para ataques suicida e emboscadas.
A falta de planejamento para essa fase inicial da ocupação ficou clara na permissividade aos saques. As tropas americanas não controlaram as multidões, como seria sua obrigação fazer, pelas leis internacionais da guerra.
Fuzileiros navais e soldados também apresentam dificuldades para lidar com civis. Não são treinados para servir de polícia. Atiram antes e perguntam depois, produzindo imagens dramáticas que continuam alimentando a propaganda antiamericana.
O comandante do 4º Batalhão do 64º Regimento Blindado americano, tenente-coronel Philip DeCamp, deu uma declaração significativa a um dos correspondentes. "Agora eu me sinto como em Beirute, Líbano, esperando pelos homens-bomba", declarou o tenente-coronel.
Se oficiais americanos pensam assim, a ocupação militar do país tende a ser algo muito delicado. Todo civil torna-se um combatente suicida em potencial.
A idéia de conquistar os "corações e mentes" da população surgiu na Guerra do Vietnã. Mas, ao mesmo tempo em que vacinavam crianças e distribuíam alimentos, os americanos usavam indiscriminadamente seu poder de fogo em "free-fire zones" (áreas de tiro livre), matando civis a granel.
Uma força de ocupação tem de conquistar a confiança e mesmo a cumplicidade da população, especialmente de uma que estava em cima do muro durante a maior parte da guerra. As relações entre civis e militares não podem se limitar a jogar pacotes de bolacha e chocolate para crianças.


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