São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Violência libanesa vai para interior

Beirute amanhece tranqüila, mas facções se enfrentam na região do Monte Líbano e em Trípoli

Imobilizada, Liga Árabe se reúne no Cairo e divulga um comunicado em que se limita a pedir cessar-fogo; combates já mataram 49


TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE

A violência que toma conta do Líbano desde a última quarta-feira arrefeceu na capital, que ontem amanheceu tranqüila, mas migrou para as montanhas ao redor de Beirute e para Trípoli, no norte do país.
A grave situação libanesa -com confrontos entre grupos pró-governo e milícias lideradas pelos radicais xiitas do Hizbollah- dominou a reunião de ministros da Liga Árabe, ontem, no Egito. Ao menos 49 pessoas já morreram e outras 164 ficaram feridas em cinco dias de confrontos sectários.
No sábado, o Exército teve de agir para acalmar ambos os lados, pedindo que as milícias xiitas deixassem as ruas, e, ao mesmo tempo, revogando duas ordens do governo que haviam irritado o Hizbollah e servido de estopim aos confrontos: a demissão do chefe de segurança do aeroporto, ligado ao grupo, e o corte de uma rede de comunicação que faz parte do sistema militar da milícia. Satisfeito e fortalecido, o Hizbollah acatou o pedido.
Mas a tensão contamina outras partes do país. No Monte Líbano, ao leste de Beirute, partidários do líder druso pró-governo Walid Jumblatt e milicianos do Hizbollah entraram em combates pesados, exigindo nova intervenção do Exército.
Os confrontos aconteciam em pelo menos seis cidades na região de Aley, com o Hizbollah usando fogo de morteiros contra as posições drusas.
Jumblatt chegou a negociar um cessar-fogo sob a condição de que seus seguidores somente entregassem suas armas ao Exército. No entanto, a trégua não foi cumprida por nenhuma das partes, e os combates prosseguiram pela noite.
Jumblatt é o líder da comunidade drusa, grupo religioso que tem sua origem no islã, mas que mescla ritos de outras religiões. Eles se consideram muçulmanos, mas boa parte dos sunitas e xiitas não concorda. Os drusos são uma das minorias no Líbano, com uma população de, aproximadamente, 350 mil pessoas (o país tem cerca de 4 milhões de habitantes).
Em Trípoli, a segunda maior cidade libanesa, no norte do país, também foram registrados confrontos, que começaram na noite de sábado e continuaram durante o domingo.
Simpatizantes do líder sunita Saad Hariri e milicianos do partido Nacionalista Social Sírio, aliados do Hizbollah, se enfrentaram com fuzis e granadas. O Exército ocupou diversas áreas com blindados para conter as facções, mas os confrontos recomeçaram no final da tarde.
Partidários de Hariri saíram às ruas em algumas cidades do país para mostrar seu apoio e repudiar as ações da oposição, que exige a substituição do governo do premiê Fuad Siniora, sunita, e novas leis eleitorais.
Em Beirute, jornalistas fizeram na tarde de domingo um protesto em repúdio à destruição dos prédios de rádio, televisão e jornal ligados ao movimento Al Mustaqbal, de Hariri.

Êxodo
Milhares de pessoas, entre estrangeiros e libaneses, continuam fugindo para a vizinha Síria. Enquanto isso, o Exército libanês reforçou sua presença em Beirute, depois que o Hizbollah desocupou o oeste da cidade no sábado.
O aeroporto, sem vôos desde o início dos conflitos, e a fronteira leste com a Síria continuam com seus acessos bloqueados pela oposição.

Liga Árabe
No Cairo, os ministros de Relações Exteriores da Liga Árabe se reuniram para discutir a crise libanesa -boicotada pelo chanceler da Síria, país que apóia o Hizbollah.
Os governos árabes, liderados pelo Egito, apresentaram uma resolução em que condenavam o Hizbollah pela violência no Líbano, mas a medida sofreu oposição por parte de alguns governos.
A Liga Árabe divulgou um comunicado em que pediu um cessar-fogo urgente no Líbano e que as duas partes encontrassem o caminho do diálogo.
Em Beirute, o premiê Siniora e membros de seu gabinete fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas da violência.


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