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entrevista
Continuísmo provoca frustração
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A onda de manifestações no Peru é decorrência
da expectativa frustrada
de transformar o alto crescimento econômico em
melhoria das condições de
vida, avalia o analista político Santiago Pedraglio.
Nesta entrevista por telefone à Folha, o colunista
do jornal "Peru 21" diz que
o presidente Alan García
faz um governo continuísta e uma interpretação errada dos protestos.
FOLHA - A onda de conflitos
no Peru se deve à falta de habilidade do presidente García ou
aos problemas estruturais que
o crescimento econômico não
consegue reduzir?
SANTIAGO PEDRAGLIO - O fato
de que o país cresça pelo
sexto ano consecutivo faz
com que as expectativas
aumentem também. Mas
o nível de pobreza na época de Fujimori [1990-2000] era de 54% e agora é
de 50%, enquanto o PIB
praticamente dobrou no
mesmo período. Isso gera
frustração numa parte da
população.
A população quer mudança. No ano passado,
48% votaram no [candidato nacionalista Ollanta]
Humala, optando por uma
mudança radical, e García
ganhou com 52% com um
discurso de mudança moderada. Ele não respondeu
a essas expectativas. Mas
no Peru as coisas não estão
caindo. Estão reclamando
melhores condições de
trabalho, de vida, não querem derrubar ninguém.
FOLHA - Quais são essas expectativas?
PEDRAGLIO - Que se gaste
mais nas regiões, que se invista em saúde, aumento
de salários. Mas García faz
um governo igual ao de
Alejandro Toledo [2001-2006], apenas com uma
gestão melhor de sua imagem. Toledo cometia muitos erros pessoais. García é
mais hábil, mas não muda
a política econômica de
forma substancial. Tampouco se pode jogar toda a
culpa no governo, há expectativas e aspirações
históricas. Mas o governo
podia ter feito mais. García está numa posição de
centro-direita muito clara,
não é sequer o centrismo
de Lula, que ainda cuida de
seus programas sociais.
FOLHA - Como García reage
aos protestos?
PEDRAGLIO - Existe um
problema grave: García
tem de saber escutar o que
as pessoas estão dizendo.
Ninguém quer derrubá-lo,
as pessoas não querem ingovernabilidade, caos. Em
Puno, uma das reclamações é a construção da rodovia interoceânica, para
se conectar com o Brasil.
Não é uma coisa de loucos.
FOLHA - Os professores são
um caso à parte?
PEDRAGLIO - O sindicato do
magistério é o único sindicato nacional no Peru. Está dirigido pelo Pátria Vermelha, um grupo radical,
mas que não esteve metido na luta armada. O ponto de debate é o sistema
meritocrático. A Lei de
Carreira do Magistério é
um projeto bom, mas tem
um artigo no qual se diz
que os professores que não
podem são aprovados
num terceiro exame serão
expulsos. O governo pode
encontrar uma fórmula.
Mas García diz que os professores são parasitas. Isso
é um erro.
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