São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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entrevista

Continuísmo provoca frustração

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A onda de manifestações no Peru é decorrência da expectativa frustrada de transformar o alto crescimento econômico em melhoria das condições de vida, avalia o analista político Santiago Pedraglio. Nesta entrevista por telefone à Folha, o colunista do jornal "Peru 21" diz que o presidente Alan García faz um governo continuísta e uma interpretação errada dos protestos.

 

FOLHA - A onda de conflitos no Peru se deve à falta de habilidade do presidente García ou aos problemas estruturais que o crescimento econômico não consegue reduzir?
SANTIAGO PEDRAGLIO -
O fato de que o país cresça pelo sexto ano consecutivo faz com que as expectativas aumentem também. Mas o nível de pobreza na época de Fujimori [1990-2000] era de 54% e agora é de 50%, enquanto o PIB praticamente dobrou no mesmo período. Isso gera frustração numa parte da população.
A população quer mudança. No ano passado, 48% votaram no [candidato nacionalista Ollanta] Humala, optando por uma mudança radical, e García ganhou com 52% com um discurso de mudança moderada. Ele não respondeu a essas expectativas. Mas no Peru as coisas não estão caindo. Estão reclamando melhores condições de trabalho, de vida, não querem derrubar ninguém.

FOLHA - Quais são essas expectativas?
PEDRAGLIO -
Que se gaste mais nas regiões, que se invista em saúde, aumento de salários. Mas García faz um governo igual ao de Alejandro Toledo [2001-2006], apenas com uma gestão melhor de sua imagem. Toledo cometia muitos erros pessoais. García é mais hábil, mas não muda a política econômica de forma substancial. Tampouco se pode jogar toda a culpa no governo, há expectativas e aspirações históricas. Mas o governo podia ter feito mais. García está numa posição de centro-direita muito clara, não é sequer o centrismo de Lula, que ainda cuida de seus programas sociais.

FOLHA - Como García reage aos protestos?
PEDRAGLIO -
Existe um problema grave: García tem de saber escutar o que as pessoas estão dizendo. Ninguém quer derrubá-lo, as pessoas não querem ingovernabilidade, caos. Em Puno, uma das reclamações é a construção da rodovia interoceânica, para se conectar com o Brasil. Não é uma coisa de loucos.

FOLHA - Os professores são um caso à parte?
PEDRAGLIO -
O sindicato do magistério é o único sindicato nacional no Peru. Está dirigido pelo Pátria Vermelha, um grupo radical, mas que não esteve metido na luta armada. O ponto de debate é o sistema meritocrático. A Lei de Carreira do Magistério é um projeto bom, mas tem um artigo no qual se diz que os professores que não podem são aprovados num terceiro exame serão expulsos. O governo pode encontrar uma fórmula. Mas García diz que os professores são parasitas. Isso é um erro.


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