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ARTIGO
Plebiscito revela democracia em risco
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O plebiscito na Venezuela é
mais um triste episódio das dificuldades da democracia, ou da
governabilidade, em nosso continente. Ou do que Raul Alfonsín,
ex-mandatário argentino, chama
de "democracias pobres". Desde a
queda de Fernando Collor, em
1992, não terminaram seus mandatos sete presidentes latino-americanos, alguns em circunstâncias trágicas, como os da Argentina, da Bolívia e do Haiti, onde manifestações, conflitos e repressão resultaram em mortes.
A expectativa agora não é só pelo que acontecerá na Venezuela
diante de ânimos esquentados e
apreensões de armas e explosivos.
Publicação especializada em
questões da América Latina, a
"Weekly Report" prevê violência,
sem que se saiba de onde ela virá.
No Peru, o presidente Alejandro
Toledo vive o seu inferno astral.
Os índices de popularidade já caíram abaixo dos 10%, com tendência a desmoronarem por completo. Sindicatos nas ruas, reaparecimentos-relâmpago da guerrilha
senderista e bloqueio no Congresso, onde pela primeira vez um
opositor comanda a Câmara.
No Equador, o coronel Lúcio
Gutierrez, beneficiário do movimento militar-indigenista de
2001, eleito com a imagem de "novo Chávez", tem hoje a cabeça pedida pela esquerda, pelo centro-esquerda e por indigenistas que o
colocaram em palácio. Para sobreviver juntou-se ao que há de
mais retrógrado na política equatoriana. Está à espera de eleições
regionais para saber se tem condições de construir alguma sustentação. Só o fato de Gutierrez ter ficado praticamente na lona já é
mostra suficiente de que os equatorianos estão dispostos a ignorar
o veredicto das urnas.
Entre a queda de Collor e a de
Abdalá Bucaram, do Equador, se
passaram cinco anos. Dois anos
depois foi a vez de Raul Cubas, do
Paraguai. Outros cinco se seguiram, Alberto Fujimori do Peru,
Jamil Mahuad do Equador, Fernando de la Rúa da Argentina,
Gonzalo Sánchez de Losada da
Bolívia e Jean-Bertrand Aristide
do Haiti. Os desencantos pegam e
derrubam políticos com imagens
esquerdistas ou populistas, como
Aristide e Gutierrez, e neoliberais
como Sánchez de Losada.
Estudo feito para a ONU por
um grupo de especialistas independentes concluiu que 55% dos
latino-americanos consultados
apoiariam um "governo autoritário", desde que ele produzisse
"efeitos econômicos positivos". E
56% dão mais valor a desenvolvimento econômico do que à democracia. Os fatores demolidores
são a pobreza e as desigualdades
que se tornam crônicas, as "democracias pobres" de Alfonsín.
Na Argentina pesquisa recente
constatou que os militares têm
hoje mais credibilidade pública
do que os políticos.
Artigo do "Herald Tribune" revela que o Pentágono está "sugerindo" à elite militar da América
Latina que recupere papéis centrais em seus países, sobretudo na
luta contra o terror. Os neoconservadores (ou falcões) de Washington estão de olhos cada vez
mais voltados para uma nova
preocupação, os "weak states", os
estados enfraquecidos, incapazes
de exercer "soberania efetiva".
Desse tipo de preocupação saíram
os "Estados de segurança nacional" anticomunistas. Agora é o
terrorismo.
Newton Carlos é jornalista e analista de
questões internacionais
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