São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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Crianças de Nova York enfrentam clima de guerra após o atentado

DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Samantha Soichet, 14, estava a duas quadras do World Trade Center, na escola Leadership and Public Service, no momento da primeira explosão.
"Era cedo, havia apenas dez minutos que a aula havia sido iniciada, quando ouvimos o barulho da explosão. Olhei pela janela e vi o prédio do World Trade Center em chamas. A luz da nossa escola foi cortada, e a maioria dos alunos começou a gritar. Parecia uma guerra", diz Samantha, que falou à Folha ontem, por telefone.
Segundo ela, as crianças mais jovens estavam completamente perdidas, e os professores não sabiam direito o que fazer. Todos acabaram correndo para a rua, de forma desordenada.
"Na rua, havia pessoas por todos os lados correndo e gritando. Elas tiravam suas blusas e as colocavam sobre o rosto para poder respirar. Havia papéis queimados caindo pelo ar. A minha roupa ficou completamente preta. Das janelas do prédio, pessoas se jogavam de uma altura que não dava para acreditar. Havia fumaça por todos os lugares."
Samantha e cerca de 20 colegas saíram correndo em direção à baía. "Foi quando houve a segunda explosão. Demorou cerca de 40 minutos até que eu conseguisse chegar na casa de uma amiga, a 20 quadras do local."
Joshua Reich, 30, executivo de Recursos Humanos e vizinho do World Trade Center estava em casa se preparando para ir ao trabalho quando ouviu a explosão. "No primeiro olhar me pareceu uma bomba de fogo", diz ele. A mulher dele, Michelle, chegou a ver pessoas se atirando do prédio em chamas. Joshua, muito abalado, falou à Folha por telefone muito rapidamente.
"Eles estão em choque", explicou Ivan Kraiser, amigo do casal, que é dono da casa para onde eles foram após o atentado. Quase cinco horas depois do acidente, Joshua e Michelle ainda estavam com roupas sujas de fuligem. Battery Park, onde eles moram, ficou completamente encoberto pela fumaça e foi interditado.
O roteirista de cinema Adam Sinykin, 40, estava dormindo quando houve a primeira explosão, mas foi acordado pelo amigo com que divide o apartamento em Chinatown. "Vimos da janela da sala o segundo avião batendo na torre. Ficamos mudos por alguns minutos. Não dava para entender o que acontecia".
Sinykin diz que, quando saiu à rua, viu dezenas, "talvez centenas", de pessoas cobertas de poeira, atônitas, caminhando para longe do centro da cidade. "Estavam todos chocados, desorientados. O metrô não estava funcionando, havia poucos veículos particulares transitando, mas muitas ambulâncias e carros da polícia."
Para o roterista, o World Trade Center faz parte do imaginário dos nova-iorquinos. "Quando imaginamos nossa cidade, pensamos nas torres gêmeas. Acho que o fato de elas não existirem mais contribui para abalar psicologicamente as pessoas."
(JULIA DUAILIBI, MARIA BRANT E GABRIELA ATHIAS)

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