São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Estrela democrata ajudaria a reduzir abstenção, diz analista

Clinton fora é mais um complicador para Kerry

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Submetendo-se na última segunda-feira a uma cirurgia de revascularização, o ex-presidente Bill Clinton foi obrigado a se afastar da campanha presidencial democrata, na qual sua principal tarefa era a de convencer o eleitorado de seu partido a votar maciçamente em 2 de novembro. Sem Clinton, o candidato presidencial John Kerry tende a ser prejudicado pela abstenção de uma fração de seus simpatizantes.
É o que disse à Folha Matthew Crenson, cientista político e pesquisador da Universidade Johns Hopkins e co-autor de "Downsizing Democracy" (apequenando a democracia). Eis os principais trechos de sua entrevista.

Folha - Recuperando-se de uma cirurgia cardíaca, o ex-presidente Bill Clinton fará falta à campanha do senador John Kerry?
Matthew Crenson -
Creio que Kerry venha a sofrer prejuízos. Isso porque Clinton planejava não apenas fazer campanha pelo candidato de seu partido, mas convencer o maior número de eleitores a votar. Como o voto não é obrigatório, sua intervenção teria necessariamente algum peso no comparecimento de simpatizantes do Partido Democrata.

Folha - Há alguma previsão de que simpatizantes dos democratas venham a se abster mais que os simpatizantes de Bush?
Crenson -
Acredito que a abstenção venha a ser desta vez menor que a da eleição passada. [Em 2000, votaram 67% dos eleitores inscritos, ou 51% das pessoas em condições de votar].

Folha - Há quatro anos, Clinton entrou tarde na campanha, o que aparentemente prejudicou o candidato democrata Al Gore.
Crenson -
Ele foi mantido longe da campanha porque Gore temia os efeitos da situação embaraçosa em que Clinton se encontrava [escândalo sexual de Monica Lewinsky]. Mas foi um erro grave. Clinton continua a ser um dirigente extremamente popular entre os democratas, como se confirmou com sua aparição, em julho, na convenção do partido.

Folha - Como explicar o salto da candidatura Bush depois da convenção do Partido Republicano?
Crenson -
Isso se deve ao sucesso da estratégia de campanha dos republicanos, que consiste em acuar o candidato democrata e mostrar, de modo previsivelmente negativo, quem ele é. Kerry dera de início muita importância a seu status de veterano do Vietnã. Os republicanos procuraram desmoralizá-lo nesse ponto. É possível que essa questão se torne um bumerangue, em razão das revelações feitas sobre o passado militar de Bush. Mas não creio que o efeito venha a ser tão devastador, uma vez que os republicanos agora contestam a autenticidade dos documentos.

Folha - A seu ver, Bush continuará com uma vantagem significativa até a votação de 2 de novembro?
Crenson -
A diferença tende a diminuir. Mas creio também que os republicanos tenham ferido seriamente a candidatura de Kerry, que não tem sido bastante agressivo ao atacar seu adversário. Os republicanos estão mais no ataque; os democratas, na defensiva.

Folha - Bush é tão criticado pela mídia predominantemente liberal. Como explicar que ele resista?
Crenson -
Isso se deve ao medo do terrorismo de grande parte dos americanos. Essa massa de cidadãos se sente segura sob a liderança de Bush. Há atentados se multiplicando pelo mundo, mas nada voltou a acontecer nos EUA depois do 11 de Setembro.

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