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ORIENTE MÉDIO
Poderio israelense é superior ao do vizinho, mas eventual escalada do conflito seria um desastre político
Israel-Síria repete assimetria EUA-Iraque
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em termos puramente militares, Israel teria condições de fazer
com a Síria algo parecido com que
os americanos fizeram no Iraque.
Já em termos políticos, uma escalada do conflito poderia ser um
desastre com graves consequências na região, como analistas de
vários matizes notaram.
Um ataque aéreo já foi realizado
contra supostos terroristas no
país vizinho. O governo israelense
até divulgou um mapa com "alvos
terroristas" potenciais em torno
da capital da Síria dias atrás.
A desastrada ocupação anglo-americana do Iraque hoje ofusca a
facilidade da conquista do país, há
seis meses. Essa mesma assimetria se reflete em parte na relação
de forças Israel-Síria.
Israel não pretenderia ocupar
território sírio -no máximo, ataques aéreos poderiam ser seguidos de incursões terrestres. E o resultado tende a ser arrasador.
O mero balanço numérico das
forças esconde a diferença. No papel, os sírios têm mais aviões de
combate, mais tanques e mais peças de artilharia. Há uma diferença fundamental: tecnologia, principalmente a chave da guerra moderna, a eletrônica. E também falta aos sírios algo que tinham no
passado e Israel ainda tem: uma
superpotência amiga.
Na Guerra do Iom Kippur, que
completa 30 anos neste mês, sírios
e egípcios tinham forte apoio material da URSS. Mísseis antiaéreos
eram disparados como rojões de
festa junina. Mais que a qualidade
do equipamento soviético, contava a quantidade. Se voavam mais
baixo para escapar dos mísseis de
maior alcance, os caça-bombardeiros ficavam à mercê de mísseis
portáteis disparados do ombro e
de centenas de canhões.
Israel aprendeu a lição. Sua Força Aérea massacrou sua rival síria
sobre o Líbano em 1982. Peças-chave no domínio do ar pelos israelenses foram os aviões-radar
de fabricação americana.
A disparidade tecnológica continua, e os sírios já não têm na
Rússia um aliado do mesmo calibre que a antiga URSS -quando
muito, os russos são apenas um
fornecedor de equipamento.
Os EUA continuam com a política de apoiar a superioridade tecnológica militar de Israel. Os americanos se recusaram apenas a
vender mísseis de cruzeiro Tomahawk ao país -que poderia armá-los com as bombas nucleares
do seu sempre negado arsenal
atômico.
Em compensação, Israel é cliente da arma mais bem-sucedida
das recentes guerras, o kit
"JDAM" (sigla em inglês para
munição conjunta de ataque direto), que transforma bombas "burras" em "inteligentes" ao guiá-las
ao alvo por satélite. Com essas
bombas os aviões podem voar em
altitudes médias, acima do risco
de um tiro de canhão acertar por
sorte e imunes aos mísseis graças
à contramedidas eletrônicas.
Atacar alvos na Síria em vez de
em campos de refugiados na faixa
de Gaza traria menos oposição interna, incluindo aquela pequena,
mas ruidosa, dentro das próprias
Forças Armadas -se o governo
de Israel conseguir provar que os
alvos são legítimos.
Comentando o ataque americano ao Iraque dentro da suposta
lógica da "guerra ao terrorismo",
o jornalista britânico Max Hastings escreveu que era algo parecido com o sujeito que perde as lentes de contato num beco escuro,
mas vai procurar na avenida porque a luz ali é melhor. Os alvos estão mais bem iluminados na Síria.
Essa é a tentação atual.
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