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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Antiga prisão e cidade vítima de massacre também preservam sentimento de antagonismo com Israel

Memoriais marcam resistência e horror da guerra no Líbano

NO SUL DO LÍBANO

O Líbano decidiu simbolizar o final dos quase 20 anos de ocupação israelense, ocorrida em 2000, com a instalação de memoriais em dois marcos da presença de Israel no sul libanês: a prisão de Khiam e a cidade de Qana.
Apesar de oficialmente as obras serem do governo libanês, na entrada desses locais, ao lado da bandeira do cedro, está a verde e amarela do braço armado do grupo extremista islâmico Hizbollah.
A prisão de Khiam foi usada por Israel e pelo Exército do Sul do Líbano, de cristãos libaneses, para encarcerar membros do Hizbollah até a retirada, em 2000. Ela fica no alto da vila de mesmo nome.
Quando Israel deixou o sul do Líbano, os presos foram soltos, e imediatamente o Hizbollah transformou a prisão em um símbolo do que considera ser uma vitória.
Do muro da prisão, é possível avistar, a poucos quilômetros de distância, as fazendas de Chebaa, ocupadas por Israel e ainda foco de disputas na área. Para o Líbano e a Síria, as fazendas estão no território libanês. Para a ONU, a área é síria sob ocupação israelense. Israel só aceita desocupá-la após um acordo de paz com Damasco.
Nas imediações da prisão, é possível também fazer compras de souvenires, que vão desde chaveiros com imagens de líderes do Hizbollah até CDs com cenas dos confrontos com os israelenses.
Logo ao se entrar na prisão, diante de um canhão, está uma parede com a pintura de uma bandeira israelense sendo destruída. Em meio às celas, há uma sala que aparenta ser de doutrinação de integrantes do Hizbollah.
Um salão onde estão sobras de armas e roupas de israelenses deixadas após a desocupação virou um museu. Alguns itens seriam de soldados mortos pelo grupo. Ao redor, fotos mostram os festejos do dia da retirada de Israel e imagens de pessoas chorando por vítimas de ações israelenses.
Qana é o local do massacre com mais de cem mortos, na maioria, crianças e mulheres, na ação israelense denominada "Vinhas da Ira", em 1996, em resposta a ataques do Hizbollah. Um abrigo da ONU foi bombardeado por Israel.
Um memorial foi construído no local, onde estão fotos das vítimas e de cenas do dia do ataque. O galpão onde estava a maior parte dos mortos foi deixado como ficou. Só os corpos foram retirados. As balas dos tanques ainda estão lá.
Moradores se oferecem como guias e dão a versão deles do ataque. Todos os mortos estão em túmulos coletivos, no memorial.
O castelo de Beaufort, que serviu de QG israelense, está em reforma e deve ser aberto ao público em breve, como outro símbolo da desocupação. (GUSTAVO CHACRA)

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