São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Turquia convoca embaixador nos EUA

Ação é protesto contra voto no Congresso americano que considerou genocídio o extermínio armênio

DA REDAÇÃO

A Turquia retirou ontem seu embaixador de Washington, "chamado a Ancara para consultas", em protesto contra moção votada na véspera pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara. O texto qualificou de genocídio a morte de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A Casa Branca se apressou em se dissociar dos deputados, para evitar uma degradação maior de suas relações com a Turquia, país vizinho ao Iraque e seu aliado no Oriente Médio.
Um dos porta-vozes do presidente George W. Bush, Scott Stanzel, declarou-se "desapontado" com o voto e afirmou que "a Câmara, em lugar de debater questões históricas do Império Otomano, deveria se preocupar com problemas do presente", como assistência médica para crianças.
O Império Otomano, monarquia islâmica que deu origem à Turquia moderna, foi o autor do primeiro genocídio do século 20, quando, em 1915, promoveu a deportação forçada e a eliminação física de armênios que não se alinharam aos seus esforços bélicos. O governo turco nunca admitiu ter ocorrido genocídio, argumentando que a violência derivou da guerra.

Questão delicada
A questão é ainda delicada entre os turcos, tanto que ainda ontem Arat Dink, o filho de um jornalista de origem armênia assassinado neste ano por denunciar o genocídio, foi condenado a um ano de prisão por ter republicado o controverso texto de seu pai. Falar em genocídio é considerado "insulto ao sentimento nacional".
Além de retirar o embaixador Nabi Sensoy, a Chancelaria turca convocou em Ancara o embaixador americano, Ross Wilson, para prestar esclarecimentos sobre a votação "inamistosa" no Congresso.
Wilson disse que Bush e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, lamentavam a votação. Rice, mais tarde, telefonou ao presidente Abdullah Gul e ao primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan para acalmá-los.
Em entrevista, Gul qualificou o voto de "inaceitável" e afirmou que "infelizmente alguns políticos americanos deixaram de ouvir apelos à sensatez e tentaram sacrificar uma grande questão à lógica de um jogo político interno".
A moção -que será futuramente votada em plenário pela Câmara, em Washington- levou à convocação de manifestações de rua em Ancara e Istambul. Jovens do Partido dos Trabalhadores, de extrema esquerda, tomaram a entrada da embaixada americana e grafitaram a bandeira turca.
"O genocídio armênio é uma mentira imperialista", diziam os manifestantes, que também evocaram Mustafá Kemal Ataturk (1881-1938), fundador da moderna República turca e seu ex-presidente.
Os participantes do protesto de Ancara também exortaram o governo a fechar a base de Incirlik, ao sul da Turquia, utilizada pelos americanos para abastecer seus contingentes nas regiões centrais do Iraque.
Por sua vez, o presidente da Armênia, Robert Kocharian, disse estar satisfeito com a moção da Comissão de Relações Exteriores e apelou à Turquia para abrir negociações que estabeleçam relações diplomáticas entre os dois países.
Na terça, a Turquia aprovara a invasão do norte do Iraque, visando neutralizar as bases do PKK, grupo separatista curdo. O Curdistão, que é uma nação mas não um Estado, se estende por territórios, entre outros, da Turquia e do Iraque.


Com agências internacionais


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