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Petrobras empaca em parque equatoriano
Projeto mais criticado da empresa aguarda autorização para produzir petróleo dentro de reserva da biosfera da ONU
Depois de perder licença ambiental, acampamento na Amazônia equatoriana espera há 16 meses que novo projeto seja aprovado
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À PROVÍNCIA DE ORELLANA (EQUADOR)
Tido como o projeto mais
controvertido da Petrobras nos
22 países em que atua, o Bloco
31 é um ilustre e isolado desconhecido: para visitá-lo, a reportagem da Folha -a primeira a
ir ao local-viajou da andina capital do Equador, Quito, à amazônica e tórrida Coca, de temperatura vulcânica, uma mudança radical considerando
que apenas 300 km e meia hora
de vôo separam as duas cidades. Dali, foram mais 250 km
pelo caudaloso rio Napo.
O percurso de três horas termina no nervoso e resguardado
acampamento da Petrobras,
encravado em terras indígenas
e vizinho do Parque Nacional
Yasuní, considerado reserva da
biosfera pela ONU.
Ali, protegidos por cerca de
dez soldados equatorianos fortemente armados e escondido
do rio por uma montanha de
pedras, cerca de 35 funcionários aguardam, abrigados do
calor amazônico por potentes
ares-condicionados, uma nova
licença ambiental para voltar a
trabalhar. Enquanto isso, o trabalho se resume praticamente
à manutenção do maquinário e
de uma estrada de 12 km, cuja
construção foi interrompida
pelo governo equatoriano.
Com o tempo, o Bloco 31 virou uma espécie de campo de
batalha sobre a viabilidade do
que se convencionou chamar
desenvolvimento sustentável.
Para a Petrobras, o projeto, se
implantado, será um modelo
de baixo impacto no ambiente
e melhorias para a população
vizinha.
Já os críticos dizem que o
projeto interferirá em uma
área de preservação ambiental
e traz problemas incontornáveis para a tecnologia atual, como o manejo da água contaminada extraída juntamente com
o petróleo. Eles citam um longo histórico de destruição ambiental.
Vazamento
Um desses acidentes, envolvendo a estatal Petroecuador,
ocorreu no mesmo dia em que a
Folha visitava a região. Foi no
rio Tiputini, a 30 km do Yasuní,
e envolveu o vazamento de 650
barris de petróleo.
A história do Bloco 31 precede a Petrobras. Licitado em
1996, passou para a administração da empresa brasileira
depois da aquisição da empresa
argentina Perez Companq, em
2002. Na época, apenas os poços dentro do parque haviam
sido perfurados.
Em 2004, sob forte pressão
do governo brasileiro, o presidente Lucio Gutiérrez concedeu licença ambiental para o
projeto, que incluía a construção de uma planta de processamento e de uma estrada (chamada de via de acesso pela Petrobras) de 17 km dentro da
área do parque.
A aprovação provocou duras
críticas de ambientalistas dentro e fora do Equador. No Brasil, a Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, que reúne ONGs do
setor, tem liderado uma campanha para que a Petrobras desista do projeto.
Apesar das críticas, a Petrobras começou a implantar o
projeto e chegou a construir
cerca de 12 km de estrada no
território indígena vizinho ao
parque quando, em julho do
ano passado, já sob o governo
Alfredo Palacio (Gutiérrez fora
derrubado três meses antes), a
licença ambiental foi cassada,
forçando a empresa a refazer o
projeto, agora sem a estrada e
com a planta de processamento fora do parque.
O novo estudo de impacto
ambiental ficou pronto no final
de setembro e está sob análise
do governo equatoriano -a Petrobras espera que a licença
saia nas próximas semanas.
Oposição
Mesmo sem a estrada -o
ponto mais criticado-, o projeto da Petrobras para o bloco 31
continua enfrentando oposição
dentro e fora do Equador.
"A nossa posição é que a Petrobras não deve atuar sob um
duplo padrão", afirma Julianna
Malerba, técnica da ONG Fase
(Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional)
que já esteve três vezes na região. "Se, no Brasil, não é permitida a exploração em parque
nacional e reserva indígena, a
Petrobras deveria se orientar
pela lei mais rígida de seu país."
No Equador, a oposição é liderada pela ONG Ação Ecológica, que defende a suspensão de
novos projetos petroleiros no
país e o investimento em áreas
já em exploração.
De acordo com o engenheiro
petroleiro Fernando Reyes, ligado à Ação Ecológica, a principal preocupação é o manejo da
água contaminada retirada
junto com o petróleo. Para ele,
as explorações mais antigas
mostram que o volume de água
extraída aumenta com o tempo, criando o risco de contaminação do solo e dos rios.
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