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Palestinos cogitam declaração unilateral de independência
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Uma ideia que vem amadurecendo nos últimos dias na cúpula da Autoridade Nacional
Palestina (ANP) pode ter seu
primeiro teste internacional no
Brasil: a declaração unilateral
de independência.
Frustrado com o impasse no
processo de paz, o presidente
da ANP, Mahmoud Abbas, afirmou na última quinta que não
deseja concorrer à reeleição, e
prometeu anunciar novos desdobramentos em breve.
Segundo fontes próximas à
ANP, um dos passos considerados por Abbas é a declaração de
independência, como forma de
aumentar a pressão sobre Israel. Abbas deve abordar o tema no encontro que terá com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na próxima semana, em
Salvador.
O encontro no Brasil, que será seguido de visitas oficiais a
Argentina e Chile, dará início à
primeira viagem internacional
de Abbas desde o dramático
anúncio da semana passada,
que mergulhou a política palestina num mar de incerteza.
Muitos já especulam que a
ANP pode estar em seus últimos dias. Outros apostam que a
ameaça de não tentar renovar o
seu mandato é um blefe de Abbas destinado a dobrar a resistência israelense a aceitar o
congelamento da construção
de assentamentos judaicos na
Cisjordânia como condição para começar a negociar.
Diante das milhares de pessoas que saíram ontem às ruas
de Ramallah para lembrar o
quinto aniversário de morte do
histórico líder palestino Iasser
Arafat, Abbas não quis comentar a decisão de não disputar a
próxima eleição presidencial,
marcada para janeiro.
Mas rechaçou o chamado israelense para retomar o diálogo, reiterado pelo presidente
Shimon Peres no Brasil. "Nós
vemos Israel confiscando terras, construindo assentamentos e judaizando Jerusalém a
uma velocidade sem precedentes", disse Abbas. "E depois eles
ainda nos pedem para voltar a
negociar."
Cálculo político
Uma declaração unilateral de
independência teria pouco
efeito prático, admitem políticos palestinos favoráveis à
ideia, mas poderia criar um
movimento internacional para
amolecer a posição israelense.
O ponto de partida seria o reconhecimento da ONU.
"Estamos tentando convencer o presidente a não só declarar a independência unilateralmente, mas também a propor
que a Palestina se torne um
membro pleno da ONU", disse
à Folha o jornalista e deputado
palestino Hanna Siniora.
Atualmente os palestinos
contam na ONU com uma missão de observadores. Para Siniora, assim como outras personalidades da política palestina na Cisjordânia, Abbas está
convencido de que chegou o
momento de uma ação drástica
para quebrar o impasse.
Bassem Khoury, até o mês
passado ministro da Economia
da ANP, acredita que uma declaração de independência aumentaria a sensação de urgência na comunidade internacional para acabar com a ocupação israelense. "Já não seria
mais um país ocupando um
território, mas um país ocupando outro", disse Khoury.
O ex-ministro diz que ouviu
manifestações de simpatia à
ideia de diversos líderes internacionais, incluindo o chefe da
diplomacia da União Europeia,
Javier Solana.
Em reportagem publicada há
poucos dias, o jornal israelense
"Haaretz" afirmou que uma
possível declaração de independência palestina conta com
o apoio de vários países da UE e
até de alguns membros do governo americano.
Segundo o jornal, a declaração unilateral estaria numa
cláusula secreta do plano apresentado em agosto pelo primeiro-ministro palestino, Salam
Fayed, de reconstrução das
instituições da ANP. A cláusula, afirma a reportagem, contaria inclusive com o apoio do governo Obama.
A ideia não é inédita. Em
1988, cinco anos antes do acordo de paz que criou a ANP, Iasser Arafat também fez uma declaração unilateral de independência. Se não teve resultados
práticos, ao menos contou com
amplo respaldo diplomático:
104 países votaram a favor da
declaração na ONU, inclusive o
Brasil.
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