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Nas ruas, champanhe para uns, luto para outros
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Augusto Pinochet Ugarte
morreu no Dia Internacional
dos Direitos Humanos. Morreu
no aniversário de 84 anos de
sua mulher, Lucía Hiriart.
Morreu às 14h15 do domingo
de um feriado prolongado no
Chile e mudou os planos de chilenos que passavam o dia com a
família.
A vendedora Karen Naranjo,
27, viu o pai, ex-preso político,
vir da cozinha com uma garrafa
de champanhe. Logo depois começou um churrasco. Mais tarde, a festa continuou no centro
da cidade, em frente ao palácio
sede do governo chileno. "Na
minha casa, era assim: almoço,
Pinochet. Jantar, Pinochet.
Cresci com esse assunto o tempo todo. Esperei 27 anos para
celebrar esse dia", contou.
Outro churrasco estava armado na casa de Palmira Valdéz, 49, cinco filhos e três netos. Era sua festa de aniversário, havia bolo sobre a mesa e
convidados por chegar. A dona-de-casa, porém, cancelou tudo.
Saiu chorando pela rua, caminhou 20 quadras até o hospital
onde estava internado Pinochet e acabou se desencontrando da família. Ligou então para
o marido. "Morreu meu general
Pinochet", disse, repetindo o
tratamento pinochetista.
Naranjo e Váldez, chilenas,
passaram a madrugada de ontem nas ruas de Santiago, enroladas em bandeiras de seu país.
Ambas tinham lágrimas nos
olhos ao falar à Folha sobre o
"novo Chile" que dizem acreditar ter nascido anteontem.
"Sempre esconderam os problemas do país trazendo à tona
o tema Pinochet. Agora quero
ver como vão fazer os governantes", afirmou Valdéz. Às 3h
de ontem, com outros pinochetistas, gritava repetidamente
"E não o condenaram!" do lado
de fora dos portões da escola
onde seria velado o general.
"Estávamos muito reprimidos. É como se a ditadura tivesse acabado hoje", disse Naranjo. A seu lado, a amiga Carolina
Cerezeda, 26, universitária,
complementou: "Pinochet não
existe mais, é só um vulto histórico. Antes, eu ainda tinha
medo. Hoje, sinto que não há
mais repressão militar".
Ela mostrou os braços com
escoriações e contou: "Jogaram gás lacrimogêneo e caí.
Umas 30 pessoas passaram por
cima de mim, mas estou feliz.
Estaria mesmo que me partissem a cabeça".
Daniela Maler, 20, assistiu à
chegada do corpo de Pinochet à
escola militar na madrugada.
Filha de um militar morto em
serviço, revelou que fará seleção para ser policial militar.
"Graças a Deus meu pai me
contou a verdade. Quero seguir
lutando por meu general Pinochet", disse. "Nós, pinochetistas, nunca fazemos discórdia. E
pagamos os semáforos, os ônibus, as árvores que os comunistas destroem. Até quando eles
vão achar que têm o monopólio
sobre o direito de sofrer? Também deveria haver justiça para
nós, para que honremos Pinochet."
Também pelas histórias que
ouviu do pai, o universitário
Jorge Albornoz, 20, tornou-se
"pinochetista". "Iam matar
meu pai. Nasci graças a meu general Pinochet."
(BL)
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