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Morte não livra a família de processos
Viúva de Pinochet é investigada como cúmplice no caso das contas secretas; há ainda litígios por evasão e fraude fiscais
Ações contra o ditador serão arquivadas uma vez que sua morte seja notificada, mas outros réus correm risco de continuar na mira da Justiça
Kai Forsterling/Efe
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Em Valência, na Espanha, cidadãos chilenos comemoram a morte do ditador Augusto Pinochet |
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
A morte do ditador Augusto
Pinochet, que não chegou a ser
condenado por nenhum crime,
não livra sua mulher e três de
seus cinco filhos de responder a
processo no Chile por fraude e
evasão fiscais.
A viúva, Lucía Hiriart, 84, seguirá processada como cúmplice do marido no chamado caso
Riggs, que investiga a existência de seis contas secretas de
Pinochet nos EUA. Auditoria
revelou que o banco Riggs o havia ajudado a criar empresas
fantasmas e a alterar, usando
passaportes falsos, os nomes de
contas suas e de sua família.
Em 15 de julho de 2004, o Senado dos EUA informou que,
entre 1994 e 2002, o general
havia mantido escondidos no
Riggs US$ 8 milhões. Até então,
apesar das acusações por homicídio e seqüestro, a idoneidade
financeira do general não havia
sido questionada no Chile. Hoje estima-se que esses depósitos somem US$ 27 milhões.
Em janeiro deste ano, a Justiça chilena aceitou processo
contra a mulher e os filhos de
Pinochet por declarações de
renda "maliciosamente incompletas". O filho mais novo do
general, Marco Antonio Pinochet, também foi acusado por
fraude tributária de 128 milhões de pesos chilenos em desvio de impostos. As irmãs Inés
Lucía e María Verónica também estão sendo processadas.
No caso das irmãs, no entanto, ocorre o chamado "processo
de ofício", já que não houve denúncia formal contra as duas. O
entendimento da Promotoria é
de que ambas foram apenas beneficiadas por crime cometido
pelo pai e pela mãe. Por isso pode haver o arquivamento, como
já ocorreu com a caçula, Jacqueline, nascida em 1959.
Desde janeiro de 1998, quando foi aberta a primeira ação
contra Pinochet, cerca de 400
denúncias foram apresentadas
contra ele. Após oito anos de investigações, porém, não houve
sentença em nenhum dos processos em que Pinochet figurava como réu, acusado de torturas, seqüestros, evasão fiscal e
falsificação de documentos.
Arquivamento
Com a morte, serão extintos
os processos contra o ditador
chileno nos casos da Caravana
da Morte (que envolve 18 seqüestros e 57 homicídios), da
Operação Colombo (sobre o seqüestro e assassinato de 119
dissidentes por forças do Estado) e na ação penal por seqüestros, torturas e homicídios em
Villa Grimaldi, uma das principais prisões clandestinas de
Santiago. Mas os demais réus
continuam sendo julgados.
De acordo com a previsão legal, o mesmo acontecerá com a
acusação contra Pinochet por
evasão fiscal e falsificação no
caso Riggs e com o processo por
genocídio na Justiça espanhola
que inclui 94 casos de tortura
de cidadãos espanhóis.
As investigações seguem em
casos como o da busca por contas correntes de Pinochet na
Suíça até que seja feito pedido
em contrário pela Justiça chilena. Na prática, os processos
contra o general serão extintos
e arquivados assim que for sendo juntada aos autos a documentação que atesta sua morte.
Para o juiz espanhol Baltasar
Garzón, que pediu a detenção
de Pinochet em 1998 pela morte e tortura de cidadãos espanhóis pela ditadura, os processos devem continuar porque há
outros réus implicados.
"Os processos terão de continuar e vão continuar porque no
que toca a autoria Augusto Pinochet não era o único responsável", disse Garzón.
O juiz Carlos Cerda, responsável pelas investigações das
contas secretas, disse se sentir
"desiludido" com a morte do ditador. Já o juiz Juan Guzmán
Tapia, que comandou diversos
processos contra o ditador, disse que o general morreu "em dívida com a Justiça".
(BRUNO LIMA)
Com agências internacionais
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