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"Potências veem emergentes em preto e branco"
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O diretor do Centro para Estudos Internacionais
da Universidade de Oxford, Andrew Hurrell, criticou EUA e aliados ocidentais por verem os
emergentes "em preto e
branco".
Ele atacou a expressão
"acionista responsável",
usada por americanos para definir o que Washington espera do comportamento dos Brics (Brasil,
Rússia, Índia e China).
"Temos que jogar fora
essa linguagem de os
emergentes se juntarem
ao sistema, tornarem-se
responsáveis. É uma ideia
inevitavelmente ideológica. A questão é quem define quem é responsável e as
regras para sê-lo", disse.
Estudioso de Brasil e Índia, o britânico participou
de debate que encerrou,
anteontem, o seminário
"Brasil em ascensão", do
Council on Foreign Relations, dos EUA, com a
Fundação Getulio Vargas.
Ele defendeu que se
olhe para "as ideias e interesses" que influenciam os
emergentes.
"Temos uma Índia globalizante, mas decidida a
ser potência nuclear; um
Brasil mais ativo em instituições internacionais, ortodoxo na economia, mas
que quer alterar as regras
do jogo."
Ao lado do americano
Charles Kupchan, que disse temer a radicalização da
política externa brasileira,
o britânico questionou a
separação dos países entre
"revisionistas" e "pró-status quo".
"No pós-Guerra Fria, os
EUA não eram potência do
status quo. Queriam mudar muito, da gestão da
economia à [introdução
do conceito de] "intervenção humanitária"."
Hurrell disse que é complicado separar os "valores" do Ocidente dos de
outras "civilizações".
E então citou um indiano, a quem perguntou que
tipo de resolução seu país
deveria apresentar se chegasse ao Conselho de Segurança. Referindo-se a
distúrbios nos subúrbios
parisienses, o interlocutor
sugeriu censura à França
por "desrespeito às minorias". A plateia riu.
Para o especialista britânico, não basta integrar
mais países em iniciativas
como o G20 se o jogo "for o
mesmo". Não está claro,
concluiu, se os EUA saberão se acomodar às "novas
vozes que reivindicam ser
ouvidas".
Num ponto de concordância, ele e Kupchan disseram que a política interna se torna tão importante
para a atuação internacional dos Brics quanto é a
dos EUA.
"Me preocupa se Brasil,
China e EUA conseguirão
juntar boas políticas com
boa prática política. Se o
Brasil, depois que Lula
deixar a cena, será capaz
de achar o equilíbrio entre
uma política externa mais
assertiva e uma que vai
longe demais", afirmou
Kupchan.
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