São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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"Potências veem emergentes em preto e branco"

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

O diretor do Centro para Estudos Internacionais da Universidade de Oxford, Andrew Hurrell, criticou EUA e aliados ocidentais por verem os emergentes "em preto e branco".
Ele atacou a expressão "acionista responsável", usada por americanos para definir o que Washington espera do comportamento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China).
"Temos que jogar fora essa linguagem de os emergentes se juntarem ao sistema, tornarem-se responsáveis. É uma ideia inevitavelmente ideológica. A questão é quem define quem é responsável e as regras para sê-lo", disse.
Estudioso de Brasil e Índia, o britânico participou de debate que encerrou, anteontem, o seminário "Brasil em ascensão", do Council on Foreign Relations, dos EUA, com a Fundação Getulio Vargas.
Ele defendeu que se olhe para "as ideias e interesses" que influenciam os emergentes.
"Temos uma Índia globalizante, mas decidida a ser potência nuclear; um Brasil mais ativo em instituições internacionais, ortodoxo na economia, mas que quer alterar as regras do jogo."
Ao lado do americano Charles Kupchan, que disse temer a radicalização da política externa brasileira, o britânico questionou a separação dos países entre "revisionistas" e "pró-status quo".
"No pós-Guerra Fria, os EUA não eram potência do status quo. Queriam mudar muito, da gestão da economia à [introdução do conceito de] "intervenção humanitária"."
Hurrell disse que é complicado separar os "valores" do Ocidente dos de outras "civilizações".
E então citou um indiano, a quem perguntou que tipo de resolução seu país deveria apresentar se chegasse ao Conselho de Segurança. Referindo-se a distúrbios nos subúrbios parisienses, o interlocutor sugeriu censura à França por "desrespeito às minorias". A plateia riu.
Para o especialista britânico, não basta integrar mais países em iniciativas como o G20 se o jogo "for o mesmo". Não está claro, concluiu, se os EUA saberão se acomodar às "novas vozes que reivindicam ser ouvidas".
Num ponto de concordância, ele e Kupchan disseram que a política interna se torna tão importante para a atuação internacional dos Brics quanto é a dos EUA.
"Me preocupa se Brasil, China e EUA conseguirão juntar boas políticas com boa prática política. Se o Brasil, depois que Lula deixar a cena, será capaz de achar o equilíbrio entre uma política externa mais assertiva e uma que vai longe demais", afirmou Kupchan.


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