São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Flerte de região com Irã é má ideia, afirma Hillary

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ameaçou países da América Latina que se envolverem com o Irã, pedindo que estes pensem duas vezes, pois poderão sofrer consequências. Embora ela tenha citado apenas Bolívia e Venezuela pelo nome, ela falou de "uma série" de outros.
O aviso acontece duas semanas depois de o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ter recebido Mahmoud Ahmadinejad no Brasil, visita que criou um certo grau de tensão entre Brasília e Washington. Na sequência, o presidente iraniano foi a Bolívia e Venezuela.
"Nós estamos bem cientes dos interesses do Irã de se promover numa série de outros países -Venezuela e Bolívia, como você mencionou- e nós podemos dizer apenas que é uma ideia realmente ruim para os países envolvidos", disse a chanceler, em evento sobre a diplomacia do governo de Barack Obama na América Latina, ontem de manhã, na sede do Departamento de Estado.
"Se as pessoas querem flertar com o Irã, deveriam prestar atenção a que as consequências podem muito bem ser contra elas, e eu espero que pensem duas vezes e nós vamos as apoiar se fizerem isso", disse, sob aplausos -ela respondia à pergunta de um dos participantes do evento, que quis saber se os EUA se preocupavam com a crescente presença de China e Irã na América Latina.
"Esperamos que haja um reconhecimento de que esse [o Irã] é importante patrocinador e exportador de terrorismo no mundo hoje", continuou Hillary. "A Guarda Revolucionária do Irã, que está aumentando seu controle no país por conta das eleições, que foram um exemplo acabado de abuso de direitos humanos em ação, está profundamente envolvida na economia, assim como em questões de segurança."
Hillary citava a contestada eleição presidencial de junho, na qual Ahmadinejad foi eleito para um segundo mandato e manifestantes contrários ao resultado foram reprimidos com violência. Analistas acreditam que a Guarda Revolucionária saiu fortalecida do episódio na estrutura interna do regime dos aiatolás.

Falcões
A secretária de Estado é considerada um dos "falcões" do governo Obama na questão iraniana, defendendo um enfoque mais duro da Casa Branca em relação a Teerã do que o adotado pelo presidente democrata.
Quando ela e Obama ainda disputavam a indicação do partido, na corrida eleitoral do ano passado, Hillary causou espécie ao dar entrevista em que dizia que, se eleita presidente, iria "destruir totalmente" o Irã, caso o país atacasse Israel.
Ontem, em encontro com jornalistas logo depois da fala de Hillary, Arturo Valenzuela, secretário-assistente para Assuntos do hemisfério Ocidental do Departamento de Estado e subordinado dela, não soube dizer a que "consequências" a secretária se referia quando citou os países da região.
"Não estou a par", respondeu Valenzuela, que pediu que a própria secretária fosse consultada sobre o assunto.


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