São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juiz dos EUA congela valores da Argentina em BC americano

Informação faz a Bolsa de Buenos Aires cair 2%, o risco-país aumentar 6,5%, e papéis atrelados ao PIB despencarem até 12%

Ministro da Economia vê influência de presidente do BC argentino no caso, mas admite haver pouca margem de manobra para o governo


Presidência da Argentina
A presidente argentina, Cristina Kirchner, exibe edição do "Clarín" que anunciava possível bloqueio

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A Argentina teve parte dos fundos de seu Banco Central depositadas no Tesouro dos EUA embargadas ontem, pelo juiz americano Thomas Griesa, atendendo credores que recusaram a oferta de troca da dívida externa correspondente à moratória de 2001.
A medida compromete a intenção da Casa Rosada de reabrir a oferta de troca da dívida neste mês, para negociar com os "holdouts" -credores que recusaram a proposta de 2005.
A nova troca é parte da estratégia argentina para retornar ao mercado internacional de crédito, necessidade que a presidente Cristina Kirchner define como "imperiosa".
O anúncio do embargo fez a Bolsa cair 2%, o risco-país subir 6,5%, e papéis atrelados ao PIB despencarem até 12%.
O ministro da Economia, Amado Boudou, insinuou participação do presidente do Banco Central, Martín Redrado, na medida favorável aos credores que a Casa Rosada chama de "fundos-abutre" -compram papéis podres para especular.
Redrado é o pivô da crise política desatada na semana passada, quando Cristina o removeu do cargo, por decreto, alheia à exigência de ouvir o Senado, que a legislação argentina impõe ao Executivo nesse caso.
Redrado recorreu à Justiça e reassumiu o posto, amparado numa medida cautelar. A apelação do governo para restabelecer a validade de seu decreto está sob análise da Justiça.
Boudou disse querer "dar à população a tranquilidade de que, neste momento, em nenhuma hipótese o embargo poderá ser maior do que US$ 15 milhões". A ordem de Griesa foi para o embargo preventivo de US$ 1,7 milhão, podendo chegar a US$ 15 milhões.
Embora tenha tentado "desdramatizar" a situação, o ministro admitiu que a Casa Rosada está acuada e vê poucas alternativas para a saída da crise.
"É chamativo que um governo que busca ter a maior margem de ação para tomar as decisões mais inteligentes encontre-se sob pressão em sua capacidade de agir para restringir a margem de manobra de ações da oposição, setores da Justiça, detentores de bônus que nunca quiseram negociar com o país e alguns ex-funcionários", disse Boudou, que se referiu a Redrado reiteradas vezes como "o ex-presidente do Banco Central".
A disputa entre a Casa Rosada e Redrado deu-se quando o presidente do Banco Central se recusou a pôr em prática decreto de Cristina que cria um fundo de US$ 6,5 bilhões com reservas do BC, para pagar parte da dívida externa em 2010.
Redrado alegava o risco de embargo das reservas pelos "holdouts", como a razão para não transferi-las para o Tesouro. A justificativa usada por Griesa para o "embargo preventivo" é a criação do fundo com reservas do BC.
Boudou afirmou que a decisão do juiz "não deveria alegrar ninguém" na Argentina e enviou um recado direto ao vice-presidente Julio Cobos, que a Casa Rosada acusa de estar por trás da insubmissão de Redrado -os dois teriam a intenção de prejudicar o governo, para obter dividendos eleitorais na eleição presidencial de 2011.
"Senhor vice-presidente, faça seu papel -o papel de vice da presidente Cristina Kirchner. O senhor está no Senado para ser a voz do governo, não o líder "de facto" da oposição".
Cobos tenta articular uma reunião extraordinária do Congresso -em recesso-, para analisar os decretos de Cristina que originaram a crise.
Aos "argentinos e argentinas", o ministro pediu "que não se deixem enganar pelos discursos demagógicos".


Texto Anterior: Google faz ameaça de encerrar suas atividades na China
Próximo Texto: "Cobos quer ser presidente antes de 2011"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.