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Embora "fácil", ação seria desastre político
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ataque às instalações militares e nucleares do Irã não seria
um grande problema "técnico"
para as Forças Armadas dos Estados Unidos. É o tipo de conflito
no qual elas são insuperáveis: ataques convencionais com armas
de precisão, com guiagem por satélite e toda uma parafernália eletrônica de apoio.
Mas a dimensão política do ataque certamente o tornaria algo
desastroso. Não seria uma continuação clausewtziana da política
por outros meios; seria o fim dela.
Ou talvez mesmo o espalhamento
da guerra e da violência para outros pontos na região.
Dominar o ciclo completo da
energia nuclear consiste em ter a
tecnologia de todas as fases que
levam da mineração do urânio até
a sua aplicação para produzir
energia ou bombas. O processo
envolve instalações industriais difíceis de esconder e também difíceis de proteger, havendo boa inteligência sobre elas.
Cortando o ciclo em alguns dos
pontos nevrálgicos -como o
enriquecimento do urânio em
centrífugas-, pode-se interromper durante algum tempo a produção de uma bomba. A fase final, de montagem do artefato nuclear, é a mais sensível, mas é a
que pode ser feita em instalações
menores e mais fáceis de esconder.
Mesmo que o Irã colocasse alguns dos pontos mais vulneráveis
do ciclo nuclear em instalações
subterrâneas -como fizeram os
alemães com boa parte de sua indústria bélica na última fase da
Segunda Guerra Mundial-, hoje
já existem armas capazes de caçar
o alvo a vários metros de profundidade, mesmo debaixo de camadas de concreto.
Outros alvos potenciais seriam
a aviação e os mísseis superfície-superfície iranianos, para reduzir
o risco de contra-ataques e eliminar os vetores futuros da bomba.
Meios para o ataque não faltam.
Os Estados Unidos e seus aliados
mais próximos -principalmente
o Reino Unido- dispõem de bases aéreas em países vizinhos ou
próximos, como o Iraque, o Afeganistão, a Turquia, o Kuait e o
Paquistão. Resta saber de qual deles um ataque poderia partir sem
que o anfitrião ficasse indignado.
Os americanos também têm um
número variável de porta-aviões
na região (em geral, dos doze porta-aviões dos EUA, um terço está
no porto em licença ou reparos,
um terço está no Atlântico/Mediterrâneo e outro terço no Pacífico/Índico). Cada "força-tarefa"
de porta-aviões também inclui
navios de superfície (cruzadores,
destróieres) e submarinos capazes de lançar mísseis de cruzeiro,
como o Tomahawk (a US$ 1 milhão o disparo).
Mas não há dúvida de que o ataque causaria a morte de civis, algo
que seria instantaneamente mostrado pela televisão e internet.
Existe o risco de os iranianos retaliarem, pois os EUA têm tropas
espalhadas pelo Iraque e pelo Afeganistão que poderiam ser alvo de
ataques aéreos e mísseis.
Mesmo uma incursão terrestre
em algum local sensível não pode
ser descartada. O Exército do Irã e
seus guardas revolucionários são
pouco eficazes comparados com
os militares profissionais dos
EUA e de seus aliados, mas compensam em número e fanatismo o
que não têm em treinamento e
tecnologia.
Haveria também um óbvio reflexo no abastecimento de petróleo, pois o golfo Pérsico viraria de
novo zona de guerra. E novas ondas de terrorismo surgiriam
-talvez mesmo entre os xiitas do
Iraque pró-Irã, um pessoal que
está relativamente quieto se comparado aos seus colegas sunitas.
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