São Paulo, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

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Embora "fácil", ação seria desastre político

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ataque às instalações militares e nucleares do Irã não seria um grande problema "técnico" para as Forças Armadas dos Estados Unidos. É o tipo de conflito no qual elas são insuperáveis: ataques convencionais com armas de precisão, com guiagem por satélite e toda uma parafernália eletrônica de apoio.
Mas a dimensão política do ataque certamente o tornaria algo desastroso. Não seria uma continuação clausewtziana da política por outros meios; seria o fim dela. Ou talvez mesmo o espalhamento da guerra e da violência para outros pontos na região.
Dominar o ciclo completo da energia nuclear consiste em ter a tecnologia de todas as fases que levam da mineração do urânio até a sua aplicação para produzir energia ou bombas. O processo envolve instalações industriais difíceis de esconder e também difíceis de proteger, havendo boa inteligência sobre elas.
Cortando o ciclo em alguns dos pontos nevrálgicos -como o enriquecimento do urânio em centrífugas-, pode-se interromper durante algum tempo a produção de uma bomba. A fase final, de montagem do artefato nuclear, é a mais sensível, mas é a que pode ser feita em instalações menores e mais fáceis de esconder.
Mesmo que o Irã colocasse alguns dos pontos mais vulneráveis do ciclo nuclear em instalações subterrâneas -como fizeram os alemães com boa parte de sua indústria bélica na última fase da Segunda Guerra Mundial-, hoje já existem armas capazes de caçar o alvo a vários metros de profundidade, mesmo debaixo de camadas de concreto.
Outros alvos potenciais seriam a aviação e os mísseis superfície-superfície iranianos, para reduzir o risco de contra-ataques e eliminar os vetores futuros da bomba.
Meios para o ataque não faltam. Os Estados Unidos e seus aliados mais próximos -principalmente o Reino Unido- dispõem de bases aéreas em países vizinhos ou próximos, como o Iraque, o Afeganistão, a Turquia, o Kuait e o Paquistão. Resta saber de qual deles um ataque poderia partir sem que o anfitrião ficasse indignado.
Os americanos também têm um número variável de porta-aviões na região (em geral, dos doze porta-aviões dos EUA, um terço está no porto em licença ou reparos, um terço está no Atlântico/Mediterrâneo e outro terço no Pacífico/Índico). Cada "força-tarefa" de porta-aviões também inclui navios de superfície (cruzadores, destróieres) e submarinos capazes de lançar mísseis de cruzeiro, como o Tomahawk (a US$ 1 milhão o disparo).
Mas não há dúvida de que o ataque causaria a morte de civis, algo que seria instantaneamente mostrado pela televisão e internet.
Existe o risco de os iranianos retaliarem, pois os EUA têm tropas espalhadas pelo Iraque e pelo Afeganistão que poderiam ser alvo de ataques aéreos e mísseis.
Mesmo uma incursão terrestre em algum local sensível não pode ser descartada. O Exército do Irã e seus guardas revolucionários são pouco eficazes comparados com os militares profissionais dos EUA e de seus aliados, mas compensam em número e fanatismo o que não têm em treinamento e tecnologia.
Haveria também um óbvio reflexo no abastecimento de petróleo, pois o golfo Pérsico viraria de novo zona de guerra. E novas ondas de terrorismo surgiriam -talvez mesmo entre os xiitas do Iraque pró-Irã, um pessoal que está relativamente quieto se comparado aos seus colegas sunitas.


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