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entrevista
"Liderança de Raúl Castro é decisiva"
NICOLAS BOURCIER
DO MONDE, EM MIAMI
O americano Brian Latell,
ex-especialista em Cuba da
CIA, a agência central de espionagem, e autor do livro
"After Fidel" (após Fidel),
diz, nesta entrevista ao
"Monde", que a liderança de
Raúl Castro tem se mostrado
decisiva na transição na ilha.
FOLHA - Como o sr. vê a situação
de Cuba desde o afastamento de
Fidel Castro, em 31 de julho do
ano passado?
BRIAN LATELL - Já se passaram
mais de seis meses desde que
Raúl Castro assumiu o comando. Foram seis meses
durante os quais não houve
manifestações, nem qualquer tentativa de nenhum
outro dirigente de questionar a autoridade de Raúl. Este está comandando Cuba
com uma liderança que vem
se mostrando decisiva. Raúl
se distingue até mesmo em
seu estilo de governança. Ele
administra os assuntos de
maneira colegiada, pedindo
o parecer de cerca de 20 altos
dirigentes cubanos. Ele chegou a afirmar, diante dos estudantes da Universidade de
Havana, que quer ouvir "novas reflexões".
FOLHA - É o caso de tomá-lo ao
pé da letra quando ele convida os
Estados Unidos para negociações?
LATELL - Raúl já disse isso
duas vezes. Em agosto ele
anunciou aos jornalistas do
"Granma" (o órgão oficial do
Partido Comunista cubano)
que era receptivo à idéia de
um processo de normalização das relações entre Havana e Washington. No desfile
militar de 2 de dezembro,
Raúl repetiu algumas das
frases que pronunciara naquela reunião.
FOLHA - Qual é a Cuba que Raúl
Castro deseja?
LATELL - Creio que Raúl compreende a situação melhor
que Fidel. Ele sabe que precisa melhorar a economia do
país, a qualquer custo. Que
precisa atender às expectativas dos mais jovens. Assim,
para relançar o processo,
Raúl deseja fazer crescer e
diversificar os investimentos
estrangeiros, mesmo que
provenham dos EUA. Ele
também quer desenvolver as
atividades econômicas privadas de pequena monta. O
setor do turismo, que ele
controla, funciona com base
em técnicas de gerenciamento capitalistas.
A idéia de Raúl é desenvolver uma versão tropical do
modelo chinês. Mas atenção:
ele pensa no modelo chinês
instalado por Deng Xiaoping
no final dos anos 1970, e não
no de hoje. Raúl não quer
milionários nem Mercedes
em Cuba.
FOLHA - Ele possui os meios para promover tal evolução?
LATELL - Raúl foi o organizador do regime cubano. Se eu
tivesse que empregar uma
metáfora cinematográfica,
diria que Fidel, o visionário,
é o diretor do filme, e Raúl, o
produtor. Foi Raúl quem estruturou o Exército, organizou as forças de segurança e
desenvolveu setores inteiros
da economia.
FOLHA - Por que ele foi subestimado por tanto tempo?
LATELL - Raúl viveu por mais
de meio século à sombra de
seu irmão mais velho, sufocado por essa figura quase
mítica. Fidel nunca admitiu
publicamente até que ponto
Raúl exerceu um papel essencial na estabilidade política do regime. Filho ilegítimo, Raúl se colocou em posição de subordinação em relação a seu irmão mais velho.
Isto dito, Raúl não possui nenhuma das qualidades de Fidel. Não tem o carisma deste.
Contrariamente a Fidel, que
percorreu o mundo, Raúl
viajou muito pouco. Sobretudo -e é esse seu maior
ponto fraco-, ele nunca administrou uma crise de grande envergadura. Como vai
reagir diante de adversidades?
Tradução de CLARA ALLAIN
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