São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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OS SUSPEITOS

ETA quer dividir Espanha, diz historiador

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

"Está de volta a retórica das duas Espanhas, como na época de Franco", diz o historiador espanhol Felipe Fernandez-Armesto, que crê que os atentados em Madri tenham sido obra do ETA [grupo terrorista basco].
Para o professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o medo do terrorismo na Espanha hoje pode causar uma divisão na sociedade, mais ou menos como aconteceu durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e com a posterior ascensão do regime fascista do general Francisco Franco.
Armesto diz, porém, que é preciso analisar os acontecimentos a partir de uma perspectiva histórica. "O fascismo era infinitamente mais perigoso, tinha apoio de parte considerável da população; e o terrorismo do ETA nunca atingiu -nem creio que um dia atingirá- a mesma proporção."
Leia abaixo a entrevista que Armesto, autor de "Milênio - Uma História de Nossos Últimos Mil Anos" (1993), concedeu à Folha, por telefone, do Reino Unido.
 

Folha - Em entrevista à Folha em 2003, o sr. disse que, se Aznar lograsse combater o ETA, a população o perdoaria, ainda que, naquele momento, a revolta contra seu apoio à Bush fosse grande (79% dos espanhóis reprovaram a Guerra do Iraque). O que pensa hoje?
Felipe Fernandez-Armesto -
O mesmo. O sucesso no combate ao ETA é a única forma de Aznar ter apoio e compensar, aos olhos da população, o fato de ter se aliado aos EUA. Não creio que a Al Qaeda esteja por trás dos atentados. Se estiver, Aznar também não vai se favorecer, pois será difícil explicar que essa escalada de terror é necessária à paz. Já para George W. Bush e Tony Blair, seria fantástico que os atentados de anteontem estivessem relacionados ao 11 de Setembro. Isso daria força à sua política de guerra.

Folha - O terror pode passar a ser para a Espanha neste século o mesmo que o fascismo foi no passado?
Armesto -
Vejo nos últimos anos um renascimento da retórica das duas Espanhas. Da idéia de que há posturas que são irreconciliáveis. Um dilema mais ou menos equivalente ao das diferenças impossíveis de serem resolvidas entre franquistas e republicanos, durante a Guerra Civil.
A diferença hoje é que os terroristas do ETA são muito poucos e têm pouco apoio. Diferente do fascismo, que tinha uma parcela importante da população a seu favor. É fato que voltamos a ter duas Espanhas, mas hoje uma é muito maior do que a outra. Há sim o risco de um uso político dessa retórica da diferença, mas é evidente que a situação era muito mais grave no século 20.

Folha - Há solução para o problema do separatismo basco?
Armesto -
Não, é impossível aumentar o grau de autonomia do País Basco. Eles não têm mais nada a conquistar, já possuem o mais alto grau de autonomia dado a uma região na Espanha, junto com a Catalunha. A questão basca não é política, é psicológica.
Transformar o caso do ETA em questão política só favorece os que fazem um uso irresponsável deste. É o caso do governo basco, que arrisca a vida de sua população para barganhar com a nação.


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