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OS SUSPEITOS
ETA quer dividir Espanha, diz historiador
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
"Está de volta a retórica das
duas Espanhas, como na época de
Franco", diz o historiador espanhol Felipe Fernandez-Armesto,
que crê que os atentados em Madri tenham sido obra do ETA
[grupo terrorista basco].
Para o professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o
medo do terrorismo na Espanha
hoje pode causar uma divisão na
sociedade, mais ou menos como
aconteceu durante a Guerra Civil
Espanhola (1936-39) e com a posterior ascensão do regime fascista
do general Francisco Franco.
Armesto diz, porém, que é preciso analisar os acontecimentos a
partir de uma perspectiva histórica. "O fascismo era infinitamente
mais perigoso, tinha apoio de parte considerável da população; e o
terrorismo do ETA nunca atingiu
-nem creio que um dia atingirá- a mesma proporção."
Leia abaixo a entrevista que Armesto, autor de "Milênio - Uma
História de Nossos Últimos Mil
Anos" (1993), concedeu à Folha,
por telefone, do Reino Unido.
Folha - Em entrevista à Folha em
2003, o sr. disse que, se Aznar lograsse combater o ETA, a população o perdoaria, ainda que, naquele momento, a revolta contra seu
apoio à Bush fosse grande (79%
dos espanhóis reprovaram a Guerra do Iraque). O que pensa hoje?
Felipe Fernandez-Armesto - O
mesmo. O sucesso no combate ao
ETA é a única forma de Aznar ter
apoio e compensar, aos olhos da
população, o fato de ter se aliado
aos EUA. Não creio que a Al Qaeda esteja por trás dos atentados.
Se estiver, Aznar também não vai
se favorecer, pois será difícil explicar que essa escalada de terror é
necessária à paz. Já para George
W. Bush e Tony Blair, seria fantástico que os atentados de anteontem estivessem relacionados ao 11
de Setembro. Isso daria força à
sua política de guerra.
Folha - O terror pode passar a ser
para a Espanha neste século o mesmo que o fascismo foi no passado?
Armesto - Vejo nos últimos anos
um renascimento da retórica das
duas Espanhas. Da idéia de que há
posturas que são irreconciliáveis.
Um dilema mais ou menos equivalente ao das diferenças impossíveis de serem resolvidas entre
franquistas e republicanos, durante a Guerra Civil.
A diferença hoje é que os terroristas do ETA são muito poucos e
têm pouco apoio. Diferente do
fascismo, que tinha uma parcela
importante da população a seu favor. É fato que voltamos a ter duas
Espanhas, mas hoje uma é muito
maior do que a outra. Há sim o
risco de um uso político dessa retórica da diferença, mas é evidente que a situação era muito mais
grave no século 20.
Folha - Há solução para o problema do separatismo basco?
Armesto - Não, é impossível aumentar o grau de autonomia do
País Basco. Eles não têm mais nada a conquistar, já possuem o
mais alto grau de autonomia dado
a uma região na Espanha, junto
com a Catalunha. A questão basca
não é política, é psicológica.
Transformar o caso do ETA em
questão política só favorece os
que fazem um uso irresponsável
deste. É o caso do governo basco,
que arrisca a vida de sua população para barganhar com a nação.
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