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Al Qaeda é o maior suspeito, diz analista
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
É mais provável que os atentados em Madri tenham sido realizados pela Al Qaeda do que pelo
ETA, afirma Rohan Gunaratna,
autor do livro "Inside Al Qaeda:
Global Network of Terror" (dentro da Al Qaeda: rede global do
terror), da Columbia University
Press (Nova York).
Segundo Gunaratna, o grupo
terrorista islâmico Brigadas de
Abu Hafs al Masri, que assumiu a
autoria, é apenas um outro nome
para a rede Al Qaeda.
Originário do Sri Lanka, Gunaratna é pesquisador do Centro para o Estudo de Terrorismo e Violência Política da Universidade de
St. Andrews (Escócia) e criador
do Instituto de Defesa e Estudos
Estratégicos de Cingapura.
Folha - As Brigadas de Abu Hafs al
Masri reivindicaram os atentados.
É uma reivindicação crível?
Rohan Gunaratna - Sim. Abu
Hafs al Masri é um nome diferente para a Al Qaeda, em homenagem a Mohamed Atef, ex-chefe de
operações militares da Al Qaeda,
morto em novembro de 2001 durante a intervenção dos EUA no
Afeganistão.
Folha - Que atentados realizou?
Gunaratna - A primeira reivindicação das Brigadas foi o atentado
contra o hotel Marriott de Jacarta
(Indonésia), em agosto, que matou dez pessoas. Também reivindicou os ataques contra alvos judaicos e britânicos em Istambul
(Turquia) em novembro, com 61
mortos. Mas o grupo fez duas reivindicações falsas. Disse ser responsável pelos blecautes nos EUA
e no Canadá e, alguns dias depois,
em Londres, no ano passado.
Folha - É possível que seja mais
uma reivindicação falsa?
Gunaratna - Ainda é cedo para
dizer, mas é mais provável que seja a Al Qaeda do que o ETA.
Folha - Por quê?
Gunaratna - Devido ao grande
número de vítimas e aos ataques
coordenados simultâneos. No
maior ataque do ETA anteriormente, houve 21 mortos. A ação
de anteontem é diferente das conduzidas pelo ETA historicamente.
Folha - O ETA pode ter sido influenciado pela Al Qaeda?
Gunaratna - Alguns grupos tentam copiar a Al Qaeda, mas não
creio que seja o caso do ETA.
Além disso, é muito difícil realizar
um ataque dessas dimensões.
Poucos grupos têm a experiência
e a capacidade. A Al Qaeda tem.
Folha - Quais serão as conseqüências para a guerra contra o terror?
Gunaratna - Se tiver sido a Al Qaeda, será muito significativo porque será o primeiro ataque na Europa. Deverá haver uma cooperação maior dos serviços de inteligência e de segurança europeus.
Folha - Quais estão sendo os resultados da guerra contra o terror?
Gunaratna - Ela foi muito prejudicada pela Guerra do Iraque. Os
grupos terroristas estão tendo
mais facilidade em recrutar quadros entre muçulmanos descontentes. Após a guerra, o apoio aos
EUA nos países muçulmanos caiu
muito. E sem o apoio dos países
muçulmanos não é possível destruir as redes terroristas, pois de lá
deve vir grande parte das boas informações de inteligência. Os
EUA -e a Europa- precisam
trabalhar mais proximamente
com os países muçulmanos do
Oriente Médio e da Ásia.
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