São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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Al Qaeda é o maior suspeito, diz analista

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

É mais provável que os atentados em Madri tenham sido realizados pela Al Qaeda do que pelo ETA, afirma Rohan Gunaratna, autor do livro "Inside Al Qaeda: Global Network of Terror" (dentro da Al Qaeda: rede global do terror), da Columbia University Press (Nova York).
Segundo Gunaratna, o grupo terrorista islâmico Brigadas de Abu Hafs al Masri, que assumiu a autoria, é apenas um outro nome para a rede Al Qaeda.
Originário do Sri Lanka, Gunaratna é pesquisador do Centro para o Estudo de Terrorismo e Violência Política da Universidade de St. Andrews (Escócia) e criador do Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Cingapura.
 

Folha - As Brigadas de Abu Hafs al Masri reivindicaram os atentados. É uma reivindicação crível?
Rohan Gunaratna -
Sim. Abu Hafs al Masri é um nome diferente para a Al Qaeda, em homenagem a Mohamed Atef, ex-chefe de operações militares da Al Qaeda, morto em novembro de 2001 durante a intervenção dos EUA no Afeganistão.

Folha - Que atentados realizou?
Gunaratna -
A primeira reivindicação das Brigadas foi o atentado contra o hotel Marriott de Jacarta (Indonésia), em agosto, que matou dez pessoas. Também reivindicou os ataques contra alvos judaicos e britânicos em Istambul (Turquia) em novembro, com 61 mortos. Mas o grupo fez duas reivindicações falsas. Disse ser responsável pelos blecautes nos EUA e no Canadá e, alguns dias depois, em Londres, no ano passado.

Folha - É possível que seja mais uma reivindicação falsa?
Gunaratna -
Ainda é cedo para dizer, mas é mais provável que seja a Al Qaeda do que o ETA.

Folha - Por quê?
Gunaratna -
Devido ao grande número de vítimas e aos ataques coordenados simultâneos. No maior ataque do ETA anteriormente, houve 21 mortos. A ação de anteontem é diferente das conduzidas pelo ETA historicamente.

Folha - O ETA pode ter sido influenciado pela Al Qaeda?
Gunaratna -
Alguns grupos tentam copiar a Al Qaeda, mas não creio que seja o caso do ETA. Além disso, é muito difícil realizar um ataque dessas dimensões. Poucos grupos têm a experiência e a capacidade. A Al Qaeda tem.

Folha - Quais serão as conseqüências para a guerra contra o terror?
Gunaratna -
Se tiver sido a Al Qaeda, será muito significativo porque será o primeiro ataque na Europa. Deverá haver uma cooperação maior dos serviços de inteligência e de segurança europeus.

Folha - Quais estão sendo os resultados da guerra contra o terror?
Gunaratna -
Ela foi muito prejudicada pela Guerra do Iraque. Os grupos terroristas estão tendo mais facilidade em recrutar quadros entre muçulmanos descontentes. Após a guerra, o apoio aos EUA nos países muçulmanos caiu muito. E sem o apoio dos países muçulmanos não é possível destruir as redes terroristas, pois de lá deve vir grande parte das boas informações de inteligência. Os EUA -e a Europa- precisam trabalhar mais proximamente com os países muçulmanos do Oriente Médio e da Ásia.


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