São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Chile usará empréstimos e economias na reconstrução

Piñera prevê que país vá precisar de US$ 30 bi para se reerguer após terremoto

"Aqui não há mágica; é uma megacalamidade, que vai requerer esforço, trabalho e sacrifício", diz presidente um dia após assumir o cargo

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

Um dia depois de assumir a Presidência do Chile, Sebastián Piñera deu ontem um "choque de realidade" na população. "Quero dizer aos chilenos que aqui não há mágica. O terremoto [de magnitude 8,8] que sacudiu o Chile [no último dia 27] é equivalente a 800 vezes, em termos de energia liberada, ao que atingiu o Haiti. É uma megacalamidade, que vai requerer esforço, trabalho e sacrifício."
Piñera estimou o dano patrimonial provocado pelo terremoto em US$ 30 bilhões, ou cerca de 20% do PIB chileno, e disse que o "fundo de reconstrução" será alimentado por três fontes. Com um "tremendo esforço para contenção de gastos", ele pretende redirecionar recursos do governo para o projeto.
Além disso, afirmou que "de forma prudente" usará "parte das economias que o Chile acumulou nos tempos de vacas gordas, precisamente para serem usadas em momentos como este"-em referência ao fundo soberano do país- e citou a "possibilidade de contratar créditos externos".
O presidente previu ainda "rendas adicionais" oriundas do "preço do cobre [principal produto da pauta de exportações do Chile], que, felizmente, se manteve firme".
Na avaliação de Piñera, o Chile, país onde os tremores de terra são frequentes, tem "muito pouca capacidade de antecipar [a ocorrência de] sismos". Ele pretende "fortalecer essa área", por meio de convênios com os principais institutos e centros acadêmicos do mundo especializados no tema.
Numa crítica velada à administração da catástrofe por sua antecessora, Michelle Bachelet, Piñera disse que "ainda é o tempo de buscar soluções, não o de apontar os erros, que certamente chegará".
Boa parte das mortes e da destruição causadas pelo terremoto aconteceram após o tsunami causado pelo tremor. Governo e Forças Armadas trocaram acusações pelo fato de não ter sido emitido um alerta de tsunami logo após o abalo.
Segundo o presidente, "a realidade demonstrou" a necessidade de aperfeiçoar o sistema de alerta preventivo dos desastres naturais, "para tomar as precauções que salvam vidas", assim como o de operações de emergência após a catástrofe.
"É necessário que o Chile, um país sísmico que com muita frequência deve suportar terremotos, maremotos, inundações e deslizamentos, esteja muito mais bem preparado para enfrentar a adversidade", disse.
Piñera disse que buscará "uma coordenação muito maior entre as Forças Armadas, o governo e a sociedade civil", porque, segundo ele disse, a defesa do país não é a única atribuição das Forças Armadas. "Elas também têm uma função em tempos de paz e, sobretudo, de catástrofe." Bachelet também foi criticada por demorar a mandar as Forças Armadas às ruas após o terremoto, permitindo a erupção de uma onda de saques em algumas das cidades mais afetadas.

LAN
As finanças pessoais de Piñera, homem mais rico do Chile, estão sob questionamento no país, pelo fato de ele não haver se desprendido, antes de tomar posse, conforme prometera na campanha, de seu pacote de ações da LAN, principal companhia aérea chilena.
Questionado sobre o descumprimento da promessa, Piñera atribuiu-o ao terremoto. "Posso assegurar que vou cumprir todos os compromissos que fiz na campanha. O atraso é por um motivo de força maior, totalmente alheio à minha vontade", afirmou.
O presidente disse que, desde o dia da catástrofe, dedica todo o seu tempo a trabalhar no plano de recuperação do país. "Sei que os chilenos de boa vontade compreendem isso", afirmou.


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