São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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Grupo pró-armas cresce em campi dos EUA

Para 24 mil alunos de 289 universidades americanas, portar uma pistola é a melhor defesa contra massacres como o de Virgínia Tech

SCCC faz lobby para mudar leis estaduais e permitir que estudantes assistam a aulas armados; aumento de casos de atiradores infla filiação


BRENO COSTA
GUSTAVO HENNEMANN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um ano após massacre que deixou 32 mortos na universidade Virgínia Tech, nos Estados Unidos, os campi americanos vêem florescer um movimento que cresce no vácuo de antídotos contra tragédias semelhantes. O Estudantes pelo Porte de Armas nas Universidades (SCCC, na sigla em inglês) já reúne mais de 24 mil alunos em 289 universidades de 45 Estados. Para eles, quanto mais pistolas nas mãos dos alunos, maiores as chances de evitar uma tragédia como a de 16 de abril de 2007.
Criticado por grupos pacifistas, que o acusa de representar o lobby das armas, o SCCC ganha força nos EUA. Embora pequeno se comparado ao universo de 17 milhões de universitários, o movimento ganhou espaço na mídia e deu um salto de 140% no número de filiados nos últimos dois meses.
Os integrantes do SCCC têm como objetivo convencer os legisladores estaduais a mudarem as leis que, à exceção do Estado de Utah, impedem a entrada de estudantes armados nas universidades. Atualmente, tramitam no legislativo de pelo menos 11 Estados projetos de lei a favor da liberação.
O SCCC foi fundado dois dias após o estudante Cho Seung-hui, 23, ter descarregado duas pistolas em seus colegas. Embora motivado pelo maior massacre já registrado em um campus do país, o grupo foi criado a 1.780 km da Virgínia Tech, por um aluno da Universidade do Norte do Texas.
Um dos diretores do grupo, Scott Lewis, 28, afirma que não há prova que relacione a permissão de porte de armas nas universidades com o aumento da violência. Para ele, o importante é que o estudante, devidamente licenciado para portar armas, esteja treinado. "Talvez uma tragédia como a de Virgínia não pudesse ser evitada, mas [a presença de alunos armados] equilibraria a disputa".

Arregimentação
Enquanto as leis não mudam, os membros do SCCC investem no trabalho de recrutamento. Ken Stanton, 30, estudante de engenharia e filho de policial, é um deles. Em outubro, decidiu levar para a sua universidade as bandeiras do movimento. Na traumatizada Virgínia Tech, ele lidera hoje 165 apoiadores oficiais da liberação das armas como forma de evitar a violência.
A administração da universidade, que no dia 16 realiza o Dia da Lembrança, em homenagem aos alunos assassinados, respeita as manifestações do grupo no campus, mas rechaça uma mudança na lei. Segundo o vice-presidente de Relações Universitárias, Larry Hincker, "a posição da universidade é clara e mantém-se a mesma há décadas": "armas não combinam com salas de aula".
Fora do campus, o apoio mais concreto à causa do SCCC é de um parlamentar que apresenta, todos os anos, um projeto de lei liberando o porte de armas nas universidades em Virgínia. Até hoje, colecionou fracassos.
O sonho de Stanton e dos colegas do SCCC é que Utah sirva de exemplo aos demais Estados. O Legislativo decidiu há um ano, pouco antes do massacre em Virgínia, que as nove universidades públicas estaduais não poderiam impedir que alunos com porte de armas assistissem às aulas com uma pistola na mochila.
A administração da Universidade de Utah, em Salt Lake City, não emite juízo de valor sobre o assunto. À Folha informou apenas que segue a lei e, até hoje, não registrou problemas decorrentes da liberação.


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