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Washington e Teerã mantêm diálogo secreto
RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT"
Os EUA e o Irã deixaram de lado, pelo menos temporariamente, a hostilidade que os divide há anos, para promover conversações sigilosas que podem exercer
influência significativa sobre os problemas interligados do Afeganistão, do futuro governo iraquiano e do conflito árabe-israelense.
Embora altos funcionários da administração Bush tenham negado ontem que o diálogo possa
conduzir à normalização das relações, altos funcionários dos dois
países já mantiveram três rodadas
de conversações neste ano. A próxima sessão está marcada para a
semana que vem, em Genebra
-tecnicamente sob os auspícios
da ONU, mas, na prática, será
mais uma rodada de discussões
bilaterais entre representantes do
Irã e uma equipe americana encabeçada pelo enviado especial do
presidente Bush ao Afeganistão e
ao Iraque, Zalmay Khalilzad.
A revelação foi feita no momento em que o presidente iraniano,
Mohammad Khatami, iniciava
uma visita histórica a Beirute na
qual deveria fazer um gesto no
sentido de aprovar um pedido
importante de Washington: o de
que o grupo terrorista Hizbollah,
que tem apoio de Teerã e opera a
partir do Líbano, freie seus ataques a territórios ocupados por
Israel.
Numa confirmação indireta do
desejo de Teerã de reduzir as tensões com os EUA, o premiê libanês, Rafik Al Hariri, depois de
reunir-se ontem com Khatami,
declarou que nenhum deles quer
inflamar as tensões na região, preferindo uma solução diplomática
para os problemas.
Irã e Síria foram pressionados
neste mês pelo secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, para conterem os ataques do
Hizbollah, no momento em que
Washington se esforça para reiniciar o processo de paz israelo-palestino.
Tendo visto a rapidez com que
os EUA derrubaram Saddam
Hussein, é possível que o Irã
-colocado por Bush no "eixo do
mal", junto com a Coréia do Norte e o Iraque pré-guerra- agora
se incline a tomar medidas para
evitar sofrer um destino semelhante, embora Washington faça
questão de dizer que não prevê
lançar outras guerras na região.
Mas os EUA precisam urgentemente da cooperação, ou pelo
menos da não intervenção, do Irã,
no momento em que procuram
erguer um governo secular no
Iraque, governo no qual os clérigos xiitas que contam com o
apoio do Irã sejam mantidos sob
controle. Na semana passada, o
secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, avisou que Washington não permitirá que o Iraque se
torne um Estado teocrático islâmico, seguindo o modelo do Irã.
Num gesto que teve como objetivo claro conquistar o apoio de
Teerã, os EUA começaram a desarmar o grupo Mujahedine Al
Khalq, baseado no Iraque e adversário declarado do governo iraniano. Além disso, esperam convencer o Irã a não ajudar os grupos afegãos que se opõem ao governo afegão apoiado pelos EUA.
A assessora de segurança nacional da Casa Branca, Condoleezza
Rice, voltou a afirmar que os contatos entre EUA e Irã não são um
prelúdio a uma retomada das relações diplomáticas entre os dois
países, rompidas quando extremistas iranianos tomaram a embaixada americana em Teerã, no final de 1979, e mantiveram reféns
durante 444 dias.
Na semana passada, os EUA pediram a ONU que pressione Teerã
por causa do programa nuclear
do país. Mas, assim como acontece com a Coréia do Norte, a administração Bush está dividida em relação ao Irã -enquanto uma
facção advoga a conciliação, os representantes da linha dura querem que Bush designe o país como próximo alvo das "mudanças de regime".
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