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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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Washington e Teerã mantêm diálogo secreto

RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT"

Os EUA e o Irã deixaram de lado, pelo menos temporariamente, a hostilidade que os divide há anos, para promover conversações sigilosas que podem exercer influência significativa sobre os problemas interligados do Afeganistão, do futuro governo iraquiano e do conflito árabe-israelense.
Embora altos funcionários da administração Bush tenham negado ontem que o diálogo possa conduzir à normalização das relações, altos funcionários dos dois países já mantiveram três rodadas de conversações neste ano. A próxima sessão está marcada para a semana que vem, em Genebra -tecnicamente sob os auspícios da ONU, mas, na prática, será mais uma rodada de discussões bilaterais entre representantes do Irã e uma equipe americana encabeçada pelo enviado especial do presidente Bush ao Afeganistão e ao Iraque, Zalmay Khalilzad.
A revelação foi feita no momento em que o presidente iraniano, Mohammad Khatami, iniciava uma visita histórica a Beirute na qual deveria fazer um gesto no sentido de aprovar um pedido importante de Washington: o de que o grupo terrorista Hizbollah, que tem apoio de Teerã e opera a partir do Líbano, freie seus ataques a territórios ocupados por Israel.
Numa confirmação indireta do desejo de Teerã de reduzir as tensões com os EUA, o premiê libanês, Rafik Al Hariri, depois de reunir-se ontem com Khatami, declarou que nenhum deles quer inflamar as tensões na região, preferindo uma solução diplomática para os problemas.
Irã e Síria foram pressionados neste mês pelo secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, para conterem os ataques do Hizbollah, no momento em que Washington se esforça para reiniciar o processo de paz israelo-palestino.
Tendo visto a rapidez com que os EUA derrubaram Saddam Hussein, é possível que o Irã -colocado por Bush no "eixo do mal", junto com a Coréia do Norte e o Iraque pré-guerra- agora se incline a tomar medidas para evitar sofrer um destino semelhante, embora Washington faça questão de dizer que não prevê lançar outras guerras na região.
Mas os EUA precisam urgentemente da cooperação, ou pelo menos da não intervenção, do Irã, no momento em que procuram erguer um governo secular no Iraque, governo no qual os clérigos xiitas que contam com o apoio do Irã sejam mantidos sob controle. Na semana passada, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, avisou que Washington não permitirá que o Iraque se torne um Estado teocrático islâmico, seguindo o modelo do Irã.
Num gesto que teve como objetivo claro conquistar o apoio de Teerã, os EUA começaram a desarmar o grupo Mujahedine Al Khalq, baseado no Iraque e adversário declarado do governo iraniano. Além disso, esperam convencer o Irã a não ajudar os grupos afegãos que se opõem ao governo afegão apoiado pelos EUA.
A assessora de segurança nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, voltou a afirmar que os contatos entre EUA e Irã não são um prelúdio a uma retomada das relações diplomáticas entre os dois países, rompidas quando extremistas iranianos tomaram a embaixada americana em Teerã, no final de 1979, e mantiveram reféns durante 444 dias.
Na semana passada, os EUA pediram a ONU que pressione Teerã por causa do programa nuclear do país. Mas, assim como acontece com a Coréia do Norte, a administração Bush está dividida em relação ao Irã -enquanto uma facção advoga a conciliação, os representantes da linha dura querem que Bush designe o país como próximo alvo das "mudanças de regime".


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