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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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RÚSSIA

Rebeldes atacam prédio público com caminhão-bomba no norte da república separatista, mas Putin quer manter plano de paz

Atentado mata ao menos 40 na Tchetchênia

Musa Sadulayev/Associated Press
Pessoas observam a cratera deixada pela explosão de um caminhão-bomba na cidade de Znamenskoye, no norte da Tchetchênia


DA REDAÇÃO

Dois terroristas suicidas atacaram ontem com um caminhão carregado de explosivos um complexo de prédios governamentais em Znamenskoye, na república separatista russa da Tchetchênia, matando ao menos 40 pessoas, no que foi o pior atentado na região desde que um referendo a manteve ligada à Rússia, em março.
A explosão, ocorrida no relativamente pacífico norte do território tchetcheno, feriu outras 200 pessoas, algumas gravemente. Buscando mostrar confiança, o presidente Vladimir Putin prometeu não permitir que o atentado desvie a atenção do Kremlin do plano de paz para a região.
"Não podemos permitir que coisas desse tipo aconteçam e não vamos permitir seu acontecimento", declarou o presidente em uma reunião com ministros e assessores que trabalham com questões de segurança pública.
Soldados que vigiavam o prédio da administração tchetchena em Znamenskoye, que também abriga o escritório local da FSB (polícia secreta russa -que substituiu a KGB), abriram fogo contra o caminhão, mas ele atravessou as barreiras de segurança e explodiu, tornando-se uma bola de fogo, a poucos metros do prédio principal do complexo. A explosão abriu um enorme buraco no imóvel e destruiu outras oito casas.
"Sabemos que 40 pessoas morreram na explosão", declarou um porta-voz do Ministério do Interior russo na Tchetchênia. A rede NTV afirmou que o número de mortos era de 41. Além disso, duas pessoas foram retiradas dos escombros ainda vivas.
A maioria dos mortos é composta por policiais do complexo governamental e por pessoas que moravam nas casas destruídas, segundo autoridades locais. Os dois terroristas também teriam morrido na explosão.
Um funcionário graduado da administração russa na Tchetchênia acusou rebeldes fiéis ao líder fugitivo Aslan Maskhadov de cometer o atentado. Porém um porta-voz de Maskhadov afirmou que seus homens não tiveram ligação com o ataque.

Putin
No que se refere à Tchetchênia, o atentado é mais uma mancha no já controverso balanço das ações de Putin, que obteve uma eleição tranquila -em 2000- graças às duras medidas que havia tomado contra os rebeldes separatistas. Mas, desde 1999, quando as forças russas voltaram à região, a situação não melhorou realmente. Moscou diz ter tudo sob controle, porém os fatos nem sempre corroboram essa afirmação.
Mesmo o referendo ocorrido em março, cujo resultado oficial mostrou que 95% dos tchetchenos preferiram manter a região ligada à Rússia, é contestado pelos separatistas, que falam em fraude.
Em outubro passado, rebeldes tchetchenos tomaram um teatro em Moscou e fizeram cerca de 700 reféns. Forças russas usaram um gás poderoso para neutralizar os invasores e poder invadir o teatro, mas seu uso causou a morte de 129 reféns e de todos os rebeldes.
Em dezembro passado, um ataque suicida a um prédio da administração tchetchena pró-Moscou em Grosni, capital da Tchetchênia, matou cerca de 80 pessoas.
Apesar de tudo isso, Putin parece disposto a dar continuidade a seu plano de paz, que poria fim a quase dez anos de conflito entre os rebeldes tchetchenos e as forças russas. Sua próxima etapa é a realização de uma eleição para presidente (governador) regional.
Após a explosão de ontem, Putin ordenou a redação de um tratado que definirá a divisão dos poderes políticos entre Moscou e Grosni, um ponto crucial da iniciativa de paz.
Mas muitos militares russos crêem que se trate de uma medida precipitada por parte de Moscou, pois a situação ainda não está controlada na Tchetchênia, como mostrou o ataque de ontem.

Com agências internacionais


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