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Fuga de cérebros ameaça países africanos
Êxodo de profissionais qualificados é estimulado por nações ricas; ao ano, 70 mil subsaarianos estudam fora do continente
Dois em cada cinco imigrantes do Benin e da Tanzânia têm um diploma universitário; metade dos ugandenses com nível superior vive fora do país
RAUL JUSTE LORES
EM SEVILHA
A fuga de cérebros da África é
uma das maiores ameaças ao
mais pobre continente da Terra. O êxodo de profissionais
com diploma universitário, tão
escasso por ali, é estimulado
pelos mesmos países ricos que
dizem querer ajudar no crescimento africano.
Essas são as opiniões de diversos especialistas africanos,
que apresentaram estudos inéditos sobre o tema na Conferência Atlântica, em Sevilha,
promovida pelo Chicago Council on Global Affairs e o espanhol Instituto Real Elcano, ambos centros de estudos de relações internacionais. A Folha
foi o único jornal brasileiro
convidado para o encontro.
Anualmente 70 mil africanos
subsaarianos vão fazer seus estudos universitários fora do
continente -a maioria não volta; 40 mil africanos com PhD
vivem no exterior. Ainda que
imigrantes com nível superior
sejam apenas 2,5% do total de
africanos que moram no exterior, o êxodo de médicos, engenheiros e professores tem um
impacto muito maior.
"Vários programas de concessão de visto nos EUA "facilitam" a entrada desses profissionais, enquanto colocam barreiras aos mais pobres", diz o diretor do Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos
de Lagos, Aderanti Adepoju,
que estuda imigração há 35
anos.
O presidente eleito francês,
Nicolas Sarkozy, que combate a
imigração, já defendeu a adoção de uma política para atrair
"os mais qualificados".
Dois em cada cinco imigrantes de países como Benin, Tanzânia, Zimbábue, Camarões e
Malaui têm diploma universitário. Metade da população de
Uganda e Quênia com diploma
superior vive fora de seu país.
Timidez
Em reconhecimento ao impacto negativo da fuga de cérebros, a Holanda patrocina um
programa para que médicos ganenses retornem por temporadas a seu país para trabalhar em
mutirões. Sempre por um breve período.
As iniciativas dos países mais
ricos, maiores beneficiados
com o êxodo, ainda são tímidas.
"Há relação direta entre imigração e desenvolvimento. É
irônico que os EUA gastem
muito mais em subsídios a 25
mil produtores de algodão do
que em todo o orçamento de
cooperação com a África. Produção que barra exportações
africanas", acusa Adepoju.
O professor Richard Asante,
da Universidade de Gana, acha
que os países desenvolvidos deveriam facilitar as remessas dos
imigrantes para seus parentes.
"Para um ilegal, é fácil exigir
um custo de transferência
exorbitante, que às vezes é de
20% da remessa." As remessas
de imigrantes a parentes na
África chegaram a US$ 15 bilhões no ano passado, dos quais
US$ 9 bilhões se concentram
no Egito, Marrocos e Argélia.
Os diferentes graus de pobreza na África criam dinâmicas
internas. Apesar de afetada pela fuga de cérebros, a África do
Sul, país mais rico do continente, importa profissionais dos vizinhos mais pobres.
"Muita gente do Zimbábue e
de Moçambique com estudos
vem para o meu país trabalhar
na construção, como mecânicos ou domésticas", diz o deputado sul-africano Dumisani
Job Sithole. "Sofremos com a
fuga de mão-de-obra qualificada no início da democratização.
Muitos brancos emigraram por
acharem que o regime de apartheid era melhor para eles."
O jornalista Raul Juste Lores viajou a convite do
Chicago Council on Global Affairs
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