São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Na Europa, partidos se reconfiguraram ao centro

Fim dos anos 1990 foi marcado por Terceira Via, do premiê britânico Tony Blair, e "novo meio", do chanceler alemão Schröder

DO "MONDE"

Da Terceira Via de Tony Blair ao "novo meio" de Gerhard Schröder, o fim dos anos 1990 foi marcado na Europa pela busca, entre a esquerda, de uma nova via reformista, capaz de erodir o centro e atacar o neoliberalismo que levou Margaret Thatcher a triunfar.
O sucesso de Blair lhe permitiu conter a ascensão dos centristas do Partido Liberal Democrata, que esperavam beneficiar-se da fraqueza dos conservadores para se impor como partido-chave.
Em outras partes da Europa, quase todos os países tiveram sistemas de alianças políticas alternativas que ou terminaram por privilegiar o centro ou por evitá-lo. Mesmo na Espanha, onde o cenário político é dominado pelos dois grandes partidos Popular e Socialista, nenhum dos dois pôde abrir mão da contribuição dada por pequenas formações nacionalistas moderadas.
Na Alemanha, por muito tempo os liberais foram compostos por uma ala progressista, no que diz respeito às reformas sociais, e outra ala que representava o liberalismo econômico. Ao unir-se novamente com os cristãos democratas de Helmut Kohl, a partir de 1982, sua ala da esquerda perdeu força, abrindo caminho para que o partido dos Verdes se envolvesse no jogo de alianças. Capitalizando a popularidade do tema ecológico, os verdes foram aos poucos se impondo no centro do espectro político, defendendo um modelo social liberal aberto às reformas econômicas, no qual se apoiou Gerhard Schröder.
Na Bélgica, em vista da divisão do país em duas grandes comunidades lingüísticas antagônicas e do sistema eleitoral marcado pela proporcionalidade integral, o regime de coalizões é a regra. Entretanto, apesar de o país freqüentemente ser governado a partir do centro, um único partido se declara abertamente centrista: o Centro Democrata Humanista, a renovação do antigo Partido Social Cristão valão. Antes das "mudanças de voz", o partido havia reinado sobre a vida política belga na segunda metade do século 20, com seu homólogo flamengo, o CVP -o Partido Cristão Popular, que assumiu o nome de Democrata-Cristão e Flamengo, CD&V. Essa denominação durou até 1999, quando uma maioria dita "laica", composta de liberais e socialistas, levou o equilíbrio a se desfazer no ar.
Tanto a esquerda socialista como a direita liberal ansiavam por enviar os partidos cristãos de volta para a oposição. Opostas no plano econômico e social, essas famílias políticas colocaram as rivalidades de lado para favorecer os avanços no plano ético: fizeram votar leis sobre o divórcio, o casamento homossexual e a utilização de células-tronco. O Partido Centrista francófono pode acabar sendo absorvido pelo êxito provável de seu antigo parceiro, o CD&V flamengo, nas eleições legislativas de 10 de junho.
Na Itália, o regime parlamentar favoreceu a "combinazione". A DC (Democracia Cristã) ocupou o centro do cenário político italiano até o início dos anos 1990. Os escândalos de corrupção e a investigação Mãos Limpas, que levaram à desintegração da DC, somados à ascensão de Silvio Berlusconi, em 1994, resultaram na bipolarização entre coalizões de direita e de esquerda, dominada pelo partido dos democratas de esquerda saído do antigo partido comunista. Essa bipolarização conferiu peso adicional às pequenas formações marginais, como, à direita, a Liga do Norte, formação populista, e, à esquerda, o Partido da Refundação Comunista. Depois do retorno de Romano Prodi ao governo, em 2006, é hoje ao centro que evoluem os partidos principais, herdeiros da democracia cristã.


Tradução de CLARA ALLAIN


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