São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005

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AMÉRICA DO SUL

Presidente Eduardo Rodríguez evita, porém, fazer promessas específicas; líder opositor mantém exigências

Governo boliviano e El Alto selam trégua

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

O presidente da Bolívia, Eduardo Rodríguez, e os principais líderes sociais de El Alto (12 km de La Paz) chegaram ontem a um acordo preliminar para negociar os principais temas da agenda desses setores, como a nacionalização dos hidrocarbonetos.
O acordo é tido como essencial para manter um mínimo de estabilidade para o começo do novo governo, após três semanas de marchas, bloqueios e greves.
Após uma tentativa de encontro fracassada no sábado, os dois lados se reuniram ontem por mais de duas horas na rádio San Gabriel, de El Alto, que transmitiu a conversa ao vivo e com tradução para as línguas indígenas.
Rodríguez evitou, porém, fazer compromissos específicos sobre as demandas dos setores de El Alto. Às cobranças de que a nacionalização de hidrocarbonetos fizesse já parte da pauta de amanhã do Congresso, o presidente pediu "tempo", respondendo que nem sequer formou seu gabinete de ministros e que qualquer decisão depende de negociações entre o Executivo e o Legislativo.
"O sistema democrático politicamente renovado é que deve dar respostas a essa agenda", disse Rodríguez, sinalizando que os temas mais conflituosos devem ser resolvidos após as eleições.
Além da nacionalização, El Alto quer a eleição de uma Assembléia Constituinte e o julgamento do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, cuja repressão a protestos deixou cerca de 80 mortos.
"São demandas que se mantêm definitivamente", disse Abel Mamani, secretário-executivo da Federação de Associações de Moradores (Fejuve), o principal líder de El Alto, ao presidente.
"Não digamos que estamos contentes, mas há uma abertura, uma predisposição do governo" afirmou Mamani ao fim da reunião. "Estamos em trégua."
O presidente, que assumiu na última quinta-feira um governo de transição, reiterou ainda que pretende convocar eleições gerais.
Para isso, o governo está negociando com o Congresso mudanças na lei, que prevê que as novas eleições devem ser apenas para presidente e vice caso sejam convocadas antes dos três anos de mandato -no caso, 6 de agosto.

Hidrocarbonetos
Em entrevista ao diário espanhol "ABC", o ex-presidente Carlos Mesa disse que as multinacionais petroleiras podem levar a Bolívia a tribunais internacionais com a entrada em vigor da nova Lei de Hidrocarbonetos.
"Elas podem ter seus argumentos. É um risco muito alto que o país tem de encarar", afirmou.


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