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AMÉRICA DO SUL
Presidente Eduardo Rodríguez evita, porém, fazer promessas específicas; líder opositor mantém exigências
Governo boliviano e El Alto selam trégua
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
O presidente da Bolívia, Eduardo Rodríguez, e os principais líderes sociais de El Alto (12 km de La
Paz) chegaram ontem a um acordo preliminar para negociar os
principais temas da agenda desses
setores, como a nacionalização
dos hidrocarbonetos.
O acordo é tido como essencial
para manter um mínimo de estabilidade para o começo do novo
governo, após três semanas de
marchas, bloqueios e greves.
Após uma tentativa de encontro
fracassada no sábado, os dois lados se reuniram ontem por mais
de duas horas na rádio San Gabriel, de El Alto, que transmitiu a
conversa ao vivo e com tradução
para as línguas indígenas.
Rodríguez evitou, porém, fazer
compromissos específicos sobre
as demandas dos setores de El Alto. Às cobranças de que a nacionalização de hidrocarbonetos fizesse já parte da pauta de amanhã
do Congresso, o presidente pediu
"tempo", respondendo que nem
sequer formou seu gabinete de
ministros e que qualquer decisão
depende de negociações entre o
Executivo e o Legislativo.
"O sistema democrático politicamente renovado é que deve dar
respostas a essa agenda", disse
Rodríguez, sinalizando que os temas mais conflituosos devem ser
resolvidos após as eleições.
Além da nacionalização, El Alto
quer a eleição de uma Assembléia
Constituinte e o julgamento do
ex-presidente Gonzalo Sánchez
de Lozada, cuja repressão a protestos deixou cerca de 80 mortos.
"São demandas que se mantêm
definitivamente", disse Abel Mamani, secretário-executivo da Federação de Associações de Moradores (Fejuve), o principal líder
de El Alto, ao presidente.
"Não digamos que estamos
contentes, mas há uma abertura,
uma predisposição do governo"
afirmou Mamani ao fim da reunião. "Estamos em trégua."
O presidente, que assumiu na
última quinta-feira um governo
de transição, reiterou ainda que
pretende convocar eleições gerais.
Para isso, o governo está negociando com o Congresso mudanças na lei, que prevê que as novas
eleições devem ser apenas para
presidente e vice caso sejam convocadas antes dos três anos de
mandato -no caso, 6 de agosto.
Hidrocarbonetos
Em entrevista ao diário espanhol "ABC", o ex-presidente Carlos Mesa disse que as multinacionais petroleiras podem levar a Bolívia a tribunais internacionais
com a entrada em vigor da nova
Lei de Hidrocarbonetos.
"Elas podem ter seus argumentos. É um risco muito alto que o
país tem de encarar", afirmou.
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