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Independência e guerra civil mudam balanço
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
O artigo 5º da Constituição
libanesa determina que a
bandeira tenha um cedro no
centro para representar a árvore que, segundo o site oficial da Presidência do Líbano, caracteriza o país desde o
seu nascimento, bem antes
da independência, quando
sua madeira foi utilizada para construir "templos e navios", alguns fenícios, outros
romanos, mas "que serviram
de inspiração para a imortalidade e a tolerância".
A bandeira do Líbano foi
desenhada pela primeira vez
em 11 de novembro de 1943,
11 dias antes de o país ficar
independente do mandato
francês. Era então o único
país majoritariamente cristão no Oriente Médio -hoje,
a maioria é muçulmana.
Parte do que historicamente é chamado de Chams,
região que engloba também a
Síria, Jordânia e a Palestina
histórica, o Líbano era uma
faixa geográfica de montanhas ao longo da orla do Mediterrâneo, onde estavam cidades erguidas pelos fenícios, como Biblos e Tiro.
Nos montes do Líbano,
desde o século 7, vivia um
grupo de cristãos, com relativa autonomia, oriundos da
Síria e aliados da França -os
maronitas, que eram minoritários na "Grande Síria".
Além deles, essa região continha uma maioria sunita,
outros cristãos, drusos, xiitas
e até mesmo judeus.
Com o fim da Primeira
Guerra e o colapso do Império Otomano, a região foi dividida entre franceses e britânicos, no Acordo de Sykes-Picot, de 1916. O Reino Unido ficou com o que é hoje o
Iraque, a Jordânia e a Palestina histórica. A França, com
a Grande Síria, incorporando
o Líbano.
Neste período, não havia
ainda a noção de país entre
os árabes. Eles viviam muito
mais em função de suas vilas
e de seus arredores.
Os franceses inicialmente
dividiram a Grande Síria em
cinco regiões: uma druza,
chamada Jabal al-Druze,
perto da fronteira com a Jordânia; uma alauíta, no litoral
da atual Síria; duas sunitas,
sendo uma ao redor de Alepo
e a outra ao redor de Damasco; já os cristãos maronitas
ficaram com o Líbano.
Todas essas áreas foram
unificadas em um só Estado,
menos o Líbano.
No início, os sunitas libaneses mantiveram boas relações com a Síria, os maronitas continuaram com as históricas relações com Paris,
enquanto os xiitas foram
marginalizados completamente do poder, isolados em
pobres vilas no sul.
Com a mudança da OLP
(Organização para a Libertação da Palestina), majoritariamente sunita, para o Líbano, no fim dos anos 60, a balança de poder se alterou.
Em 1975, a tensão chegou ao
seu ápice: maronitas contra
sunitas, aliados à OLP, deram início à guerra civil, com
Beirute dividida entre o oeste muçulmano e o leste cristão, com o centro sendo
completamente destruído.
No entanto, a guerra civil
não foi uma divisão simples.
Maronitas, xiitas e sunitas
também lutavam dentro de
suas próprias comunidades.
Síria e Israel acabaram por se
envolver no conflito.
O conflito apenas se encerrou com os acordos de Taif,
em 1989. Os maronitas tiveram o seu poder reduzido,
com sunitas e xiitas não mais
isolados, pois passaram a
contar com o apoio do Irã e
se fortaleceram, um com
mais poder politico e outro
com maior poder militar, por
meio das armas do Hizbollah. Síria e Israel mantiveram a ocupação.
Desde o fim da guerra civil,
muita coisa aconteceu no Líbano, alianças internas e externas foram feitas e desfeitas, israelenses e sírios se retiraram e uma nova guerra
eclodiu em julho deste ano.
Agora a resolução 1.701 da
ONU foi aprovada para encerrar o conflito.
Se houver os fins do combate, o Líbano provavelmente retomará o seu diálogo nacional interrompido pelo
conflito para decidir a nova
balança de poder, em que
não apenas a religião, mas
também questões como as
armas do Hizbollah, as relações com a Síria, com os 360
mil refugiados palestinos no
país e com Israel terão de ser
discutidas.
Como estampa a bandeira,
o governo do premiê Fouad
Siniora diz esperar que o cedro -símbolo de tolerância- prevaleça.
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